Daqui a pouco, às 21 horas, a Presidenta Dilma Rousseff vai à televisão.
Já não era sem tempo.
Qualquer governante, a essa altura, já deveria tê-lo feito.
Mais ainda ela, alguém que se forjou nas lutas e manifestações.
E, sobretudo, alguém que é capaz de compreender como é sórdida e aproveitadora a manipulação da mídia sobre os fatos e porque foi, não apenas política, mas pessoalmente vítima de um estelionato montado a partir da divulgação de uma falsa ficha policial.
É indispensável que Dilma esclareça a população sobre o que está por trás de situações que têm à frente muitas pessoas que nada têm a ver com o golpismo.
Mas isso é só parte do que ela dirá.
É preciso ser concreto e ser ousado.
Concretude será elevar a política de transporte coletivo à condição de problema federal, ao menos nas grandes cidades brasileiras.
Que governos estaduais e prefeituras operem os sistemas, é natural. Mas não que os definam e comandem. Não apenas porque isso engendra as maiores distorções, por desídia e cumplicidades, mas porque o Governo Federal é o responsável pelas expansões e melhorias do setor, destinando recursos ou financiando via BNDES, quase todas as obras de mobilidade urbana deste país.
Idem será dizer que o país não pode ser paralisado e as cidades conflagradas por uma inequívoca associação entre arruaceiros e meios de comunicação, em que os primeiros depredam para a mídia reproduzir, repetir e na prática dar-lhes cobertura moral como manifestantes. Não são manifestantes como os que desfilam pelas ruas, e é preciso que isso fique claro.
Mas o ponto essencial deverá ser, sem dúvida, a ousadia.
A força – legitimada pela mídia – das manifestações precisa ser aplicada em mudanças como as que aqueles jovens desejam e o Governo quer. A direita, que insuflou e endeusou aquilo que ela nunca deu ao povo brasileiro por 500 anos de domínio quase ininterrupto, merece ouvir que o desejo do da população por educação e saúde de alta qualidade exige que se pague por ele.
E que quem pode pagar não são os que já nada têm.
É preciso assinalar que as ações do Governo nessa área, embora positivas, estão longe de serem o suficiente e que, para financiar a mudança é preciso mais do que ser eficiente: é necessário buscar recursos nos que ganham muito e contribuem pouco ou nada para o bem-estar social ao qual se dizem tão solidários.
Que a nossa Presidente, desafiadoramente, busque nos versos de Cazuza a inspiração para suas palavras:
Brasil,
Mostra a tua cara,
Eu quero ver quem paga,
Pra gente ficar assim.
Brasil,
Qual é o teu negócio,
O nome do teu sócio,
Confia em mim.
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Dilma falou como Cazuza. Ou, em outras palavras, podemos resumir sua fala em: "A burguesia fede". Se bem que o Brasil nunca teve uma burguesia como a europeia. O que temos aqui são pessoas que não se identificam, em nenhum momento, com a senzala. A nobreza, a Casa Grande, esse é o referencial da maioria dos que fazem tanto barulho nas ruas.
Para termos um burguesia no Brasil, ainda precisaremos de uma Revolução Francesa. Feita pela senzala, obviamente.
O DONO DA CASA GRANDE A GLOBO TEMOS QUE ESTATIZAR A GLOBO