Dilma: Petrobras não pode ser prisioneira da especulação

Em artigo publicado em sua página, a ex-Presidenta Dilma Roussef comenta a polêmia criada em torno do veto de Jair Bolsonaro ao aumento de 5,7% no preço do óleo diesel, que chama de “medida paliativa”, afirmando que op essencial é conjugar políticas que façam a Petrobras cumprir sua função estratégica de zelar pelo desenvolvimento nacional, pela eficiência no funcionamento da economia e pelo acesso dos consumidores a preços tão módicos quanto possível.” 

Leo o texto, na íntegra:

A gestão da maior empresa pública brasileira não pode ser submetida à lógica de curto prazo da especulação financeira

A Petrobras e sua gestão nos governos do PT voltam a ser alvos de falsas acusações e de fake news. Agora, devido ao aumento de 5,7% no preço do diesel e ao cancelamento deste mesmo aumento pelo Presidente Bolsonaro. Trata-se de uma medida paliativa pois o problema é a submissão do governo aos desígnios do “deus-mercado”.

Na verdade, desde o governo Temer, mentiras sobre a Petrobras têm sido utilizadas e amplamente reproduzidas pela imprensa brasileira com o claro objetivo de justificar a política de preços imposta na gestão Pedro Parente. Tal política atrela os preços praticados internamente aos preços do petróleo no mercado externo, às flutuações do dólar e à sanha de lucro no curto prazo do mercado financeiro internacional e de seus acionistas privados. Alegam que essa medida é necessária para levar ao saneamento da empresa, que teria sido enfraquecida, e mesmo quase levada à falência durante os governos do PT.

Como mostra a AEPET- Associação dos Engenheiros da Petrobras, “não é verdade que a Petrobras teve prejuízos enquanto adotou preços de combustíveis abaixo do (preço) internacional, entre 2011 e 2014, época em que o preço do petróleo se manteve elevado”. A associação afirma que “o fato é que o preço de venda dos derivados sempre foi acima dos custos de produção”, e a Petrobras “sempre apresentou lucros operacionais em linha com as maiores empresas de petróleo do mundo”. Na verdade, como mostra a AEPET, entre 2012 e 2017, a geração de caixa da Petrobras “se manteve estável entre 25 e US$ 27 bilhões por ano”, “com enormes reservas em caixa, entre 13,5 e US$ 25 bilhões, superiores às multinacionais” do setor.

Além disso, é sempre bom lembrar que a Petrobras é empresa de economia mista e tem mais de 66% de suas ações ordinárias pertencentes à União, ao BNDES e à Caixa, ou seja, os proprietários da Petrobras são todos os brasileiros e brasileiras.

Em síntese, o controle das grandes reservas do pré-sal e daquelas fora dele, bem como os próprios custos de prospecção, exploração e desenvolvimento dos blocos são prioritariamente formados no Brasil e, sobretudo, o controle da propriedade é nacional.

Nesta condição, a Petrobras tem importantes funções estratégicas a cumprir: zelar pelo desenvolvimento nacional, pela eficiência no funcionamento da economia e pelo acesso dos consumidores a preços tão módicos quanto possível.

É uma tolice acreditar que o preço do petróleo no mundo e dos combustíveis em cada país flutuem livremente. O preço internacional do petróleo sempre oscila por influência de interesses geopolíticos. Os principais países produtores de petróleo – desenvolvidos e em desenvolvimento – não privatizam suas empresas ou internacionalizam sua formação de preços e tampouco abrem as ações de suas principais empresas no mercado internacional.

Das 20 maiores petroleiras globais, entre as primeiras estão estatais – chinesas e saudita. Na sequência, há mais nove estatais, do oriente médio, do golfo pérsico e da América Latina. Então, das 20 maiores, mais da metade são estatais e nenhuma está venda e tampouco vendendo pedaços e partes no mercado.

São empresas nacionais, instrumentos de estratégia nacional. A lógica de uma empresas como a Petrobras não pode ser, ao invés de servir ao País e a sua população, servir ao “mercado” e aos especuladores de Nova York; ao invés de atender ao País e à sua população, que formou e capitalizou a empresa, e é proprietárias das reservas, atender ao mercado internacional e à sua visão de lucro de curto prazo. Todo o seu foco, assim, vira do avesso e acaba a visão estratégica de longo prazo, no qual é possível à empresa desenvolver tecnologia – como a de águas profundas – e descobrir reservas – como o pré-sal.

A abertura de capital não pode ser justificativa para tornar a empresa objeto da especulação financeira. É interessante o exemplo da China, que tem pelo menos cinco grandes empresas de petróleo e usa suas subsidiárias – de capital aberto – no plano internacional, devidamente controladas por empresas chinesas de capital fechado.

Se depender do desejo dos especuladores do mercado financeiro, os preços do diesel, da gasolina e do gás de cozinha subirão sem qualquer parcimônia e respeito aos consumidores. Foi o que aconteceu desde o golpe de 2016. Sob o governo Temer, houve cerca de 250 aumentos nos preços dos combustíveis – 16 vezes mais do que nos 13 anos de governos do PT.

Aumentos de preços de combustíveis constantes e acima da inflação contaminam toda a cadeia produtiva, gerando colapso logístico, inflação, carestia e mais desemprego.

A questão não é recuar do aumento de 5,7%. É impedir que a lógica da gestão da Petrobras seja submetida à lógica de curto prazo da especulação financeira.

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • Continuo achando que a política da Dilma estava certa.
    A gasolina e o diesel não subiam esse absurdo.
    O aumento não estrangulava a vida de quem depende de um ou de outro para trabalhar, se locomover.

    • Dilma pegou uma crise econômica mundial infelizmente que estava fora de sua alçada. O Brasil e muito países produtores de petróleo caíram na guerra geopolítica dos EUA que forçou a Arábia Saudita a produzir demais e diminuir o preço do petróleo, além do boom do xisto que diminuiu bastante os preços. Ela podia fazer mais, mas pegou uma guerra política e econômica que ela não podia enfrentar. Hoje eu vejo que não posso culpar ela visto a situação de guerra híbrida que o Brasil se encontrou, e como ela perdeu todo o apoio político e social graças a uma mídia elitista e um povo ignorante.

      • INFELIZMENTE nós seres humanos só começamos valorizar depois que perdemos, éramos felizes e não sabíamos, tínhamos um MULHER HONESTA e não valorizamos o cenário deste país é bastante DESOLADOR voltamos a era FHC onde toda mal de obra ia para o ESTRANGEIRO e aqui só ficava os IDOSOS.

  • Sinceramente eu não tenho a mínima paciência com Dilma. Nunca vou perdoar a frouxidão, a pusilanimidade com que ela deixou o golpe avançar. Em entrevista recente, o professor Piero Leirner explica de maneira exemplar, a estratégia dos militares para voltar ao poder e deixa claro que Dilma TINHA de ter agido no caso do grampo. Não agiu, colocou o rabo entre as pernas, foi derrubada e agora fica escrevendo artigos comentando o caos.

        • A questão aqui é o termo "governo". Penso que não se aplica a quem usurpou o poder via golpe. Se o discurso é de que houve golpe de Estado, deve ser mantido. Fingir que "as instituições estão funcionando" só interessa aos autores do golpe.

    • E ela ia fazer o que? Infelizmente ela não tinha militância pra ir pra rua defender a democracia. Todo mundo abandonou ela, os patetas ridículos do PSOL e da "esquerda de verdade" passavam mais tempo xingando e criticando ela do que a direita hidrófoba, e defendendo a lava-jato e as "burradas de junho". Teve bastante articulista "progressista" que caiu na onda também. Se esqueceu que a Lava Jato tinha mais de 70% de aprovação no auge? Qualquer coisa que ela fizesse ia se voltar contra ela. Brasileiro não teve educação política pra defender o partido que o tirou da miséria e subjugação, e agora tem que sofrer pra ver se aprende a virar gente. Povo que não se levanta, nem age pra defender o seu interesse, merece o sofrimento. Acham o que, que vai vir um salvador da pátria? Olha o que aconteceu quando apareceu um, o jogaram na cadeia e ninguém foi defende-lo. Só alguns foram em defesa de Lula e Dilma, eles tem mais é cuidar do deles, e deixar essa gentalha se lascar.

    • Discordo. Golpe é golpe. E foi com o STF, com tudo. Ela foi abandonada até pelo próprio partido, pelos sindicatos, por TODOS. Falar que Dilma "enfiou o rabo entre as pernas" é de uma COVARDIA e INJUSTIÇA com essa brasileira Guerreira, honesta e competente.

    • Antônio, também me perguntei por que ela não reuniu o Conselho de Ministros, CNJ, Ministro da Defesa, Conselho de Segurança, Procurador Geral da República e STF e pedido a prisão do sérgio moro. Ela, com sua experiência de vida, soube medir a correlação de forças e percebeu que estava em desfavor. Por isto não agiu. Ia mandar prender, não iam cumprir. Ficaria pior. Por outro lado, você não imagina, que o principal agente do golpe não tinha garantias de que se fosse preso, viria a intervencao do Deep State Americano. Ele sabia, não é burro, é golpista, mas não é burro, sabia do risco que corria ao grampear e divulgar sem autorização uma Presidente da República. O Procurador da República(que tem a prerrogativa legal de requerer) não pediu pro STF(que tem a prerrogativa legal de conceder que se grampeie o Presidente da Republica) não foi consultado. Portanto quem estava atrás do agente moro, estava ou se achava muito acima de nossas instituições republicanas. A ordem veio lá de fora obedecida pelos aliados do golpe aqui de dentro. Dilma era para ter caído naquele dia. Sou aqui de SP, a divulgação do grampo foi feita por volta das 13h30, as 15hs a Paulista estava tomada de golpistas. O predio da FIESP estava com um banner eletrônico que cobria toda a sua fachada, que tem mais de 100 metros de altura. Isto não se faz em poucas horas. A globo deu a notícia a tarde inteira. Foi caso muito bem pensado. moro vazou pros marinhos etcaterva:" vou soltar uma bomba, manda a turba pra rua". Dilma não renunciou. O massacre continuou. Continua. Queria que Haddad ganhasse a eleição, certamente tínhamos soluções para o país. Este governo não tem nada. Governam para os americanos. Protesto contra o governo " brasileiro" deveria ser feito na Embaixada Americana, são eles que mandam. Imagine Haddad ganha as eleições, iria respeitar, não respeitaram em 2014, por que iriam respeitar agora? É duro admitir isto, o PT fez governos e gestões excelentes do ponto de vista econômico, mas esqueceu de renovar seus quadros políticos e esqueceu-se da base.

  • Sinceramente eu não tenho a mínima paciência com Dilma. Nunca vou perdoar a frouxidão, a pusilanimidade com que ela deixou o golpe avançar. Em entrevista recente, o professor Piero Leirner explica de maneira exemplar, a estratégia dos militares para voltar ao poder e deixa claro que Dilma TINHA de ter agido no caso do grampo. Não agiu, colocou o rabo entre as pernas, foi derrubada e agora fica escrevendo artigos comentando o caos.

  • Quem frequenta caixas de de comentários da imprensa percebe o quanto a mídia afetou a capacidade crítica de milhões de brasileiros, que passaram a repetir chavões que veem na internet.
    Por exemplo, falam que a corrupção teria quebrado a Petrobrás. Pois bem, segundo a Panela de Curitiba, em 10 anos, teriam desviados R$ 6 bilhões. Um chute, mas tudo bem. Falemos em R$ 10 bi. No mesmo período a empresa teve um faturamento de aproximadamente R$ 4 tri. É só fazer a conta. É equivalente a alguém que ganha R$ 10 mil perder R$ 250,00; Que eu saiba, ninguém com esse salário quebra com tal valor

  • Dilma demonstrou que entende da matéria como ninguém.
    Deu uma aula.
    Agora, as consequências dessa política suicida inaugurada por Pedro Parente são mortais para toda a economia brasileira. Até o mundo mineral já sabia que isto iria quebrar o país em pouco tempo. No entanto, os "especialistas da GloboNews", que entendem tudo de especulação financeira e NADA DE ECONOMIA, juravam de pés juntos que estávamos "no caminho certo". No caminho do precipício, né?
    O único que está se dando bem com essa cretinice generalizada que golpeou o Brasil é o Tio Sam e seus sócios banqueiros e especuladores que vivem de tosquiar o povo cordeiro deste país.

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