Dilma Rousseff, em sua história de vida, nunca foi uma “política”, embora à política tenha dedicado sua existência.
Foi e é, como mostrou ontem, uma mulher de convicções e de dignidade.
Cabeça erguida e dedo em riste, professoral, orgulhosa e forte, Dilma Rousseff encarou “olho no olho” seus juízes, recusando o “silêncio obsequioso de covardes”, escreve o Le Monde.
Não concordo com as análises de que ela tenha apenas “salvo a sua biografia”.
Tocou em todos os pontos essenciais, sem os arroubos oratórios que lhe seriam falsos não lhe dariam nada, porque eram dezenas de senadores sem causa brigando por frases grandiloquentes e ocas.
Disse o essencial.
Que o impeachment é produto do descontentamento das elites e a “eleição indireta” de quem não ganhava no voto.
Que foi Eduardo Cunha o instrumento para torna-lo viável.
Assumiu os erros de suas políticas econômicas, mas dentro de seu contexto. E, em boa parte, por fazer as políticas que mercado e mídia exigiam, em matéria de cortes, desoneração de tributos e elevação de juros.
Teve a decência e a correção de não atirar sobre seus auxiliares os atos pelos quais é injustamente acusada, sobretudo na questão dos pagamentos do Plano Safra, que era operado exclusivamente por Joaquim Levy ao longo de 2015 e foram liquidados quando já era Nélson Barbosa o Ministro da Fazenda.
Defendeu a apuração de todos os atos de corrupção, destacou o papel que ela e Lula tiveram no fortalecimento das instituições judiciais que, infelizmente, lançaram-se num arreganho fascista.
Sem sequer mencionar seu nome, imprimiu a marca da traição na testa de Michel Temer e, mais do que o PT, será ela a referência quando seu fracasso inevitável se evidenciar.
Reduziu o clube alegre do Senado àquilo que se tornou: um convescote de oportunistas que repetiam, com um pouco – mais nem tanto – o triste circo assistido na Câmara.
Não culpou o PT, nem mesmo aqueles que, usando o partido, entregaram-se ao jogo de vantagens que sempre foi a política brasileira.
E, ao seu jeito, serenamente, fez os parágrafos da carta-testamento de sua morte política anunciada, mas talvez não inevitável:
Entre os meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado. Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados.
Na época, eu era muito jovem. Tinha muito a esperar da vida. Tinha medo da morte, das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma. Mas não cedi. Resisti. Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir, na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Não mudei de lado. Apesar de receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia.
Dediquei todos esses anos da minha vida à luta por uma sociedade sem ódios e intolerância. Lutei por uma sociedade livre de preconceitos e de discriminações. Lutei por uma sociedade onde não houvesse miséria ou excluídos. Lutei por um Brasil soberano, mais igual e onde houvesse justiça.
Disso tenho orgulho. Quem acredita, luta
Na era do cinismo, do farisaísmo, da falta de credibilidade, não há quem não tenha visto ontem: Dilma acredita.
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Será que nao existe naquele senado ao menos 28 senadores honestos e democraticos.
Não. Não existe.
É um luxo só.
Perguntinha inocente.
Com um Judiciário sueco o Golpe vingaria?
Presidenta Dilma saíra enorme deste julgamento de exceção, do tamanho do território do Brasil e de seu povo. Quanto aos ratos e ratazanas do senado....
O Brasil do jeitinho aprende com Dilma que existe outro Brasil. Sempre vi Dilma tal como a vejo hoje: digna, corajosa, honesta, responsavel e competente. Aqueles que dizem que ela estaria preocupada com sua biografia retratam suas visões pequenas de mundo, de vida, de objetivos, de dignidade e acima de tudo de amor ao outro. Sim, existe um mundo melhor, mais solidario, menos sordido e perverso, mas este deve sempre e antes de mais nada, estar firme e claro dentro de nossos corações. Essa é a Dilma de sempre, sem pôr nem tirar. Parabens Presidenta !
Mulheres brasileiras mesmo algumas de voces nao gostando da presidenta e muito menos do pt mesmo assim como e bom ver uma mulher honrada e digna como presidenta do pais ontem no senado a diferença dela comparando com muitos senadores e gritante parabens presidenta tenho muito orgulho da senhora e muito obrigado que graças a senhora e muitos brasileiros dignos que lutaram pela democracias inclusive alguns ate com a vida hoje muitos cafajestes podem ofende la sem precisar ir preso.Parabens presidenta Dilma que Deus a abençoe.
Dilma. Não há nem uma mulher nem um homem no Brasil com história tão nobre e honorável.
Esse Nbah emporcalha o ambiente e afasta pessoas do blog.
Muitas não tem estômago forte.
Se a postura da Dilma no julgamento não conseguir impedir o golpe, facilitará a reação e diminuirá o tempo de duração da ruptura democrática.
Por mais idiota que seja quem crê na globo, fica difícil não ver diferença em se comparando Dilma, Lula, Amorim, Haddad, e tantos outros, com figuras como Feliciano, Bolsonaro, Eduardo Cunha, Aécio, FHC, os Marinho, etc.
Vai ficar difícil o 1% mais rico, com ajuda dos seus 10% de "capitães-do-mato" bem remunerados segurar essa farsa.
Como os senadores não podiam replicar, a Anta abusou do direito de mentir, fugindo das perguntas e repetindo seu discurso autoritário, típico dos filhotes do Fidel que só gostam de democracia quando podem se aproveitar dela. Assim, ela decidiu que não cometeu crime algum e os senadores podem julgá-la desde que concordem com ela, caso contrário deixa de ser democracia e é golpe. Além disso, ela e seu partido não cometeram erro algum. É tudo culpa do Cunha, que aliciou o Temer, convenceu 6 milhões de pessoas a exigirem a saída do PT nas ruas e obrigou mais de 70% dos deputados e senadores a votarem contra ela.
Já vai tarde esse encosto que oprimiu o Brasil por quase 14 anos.
Mimimi de quem imaginava que ia ser um baile. Vai reclamar com o Lewandowsky sobre o "procedimento". Tudo que não seja linchamento não agrada aos coxinhas de porco. Linchamento da Dilma, Lula e do PT óbvio, né? Pq o linchamento dos verdadeiros corruptos - aqueles que constroem eoroportos em fazendas prórprias, são heptacampeões em delação, tem filhas com fortunas de bilhões, ou sejam pegos com "trust' na Suíça, esses corruptos não vêm ao caso para a grande estufa coxinha que se tornou a justiça no Brasil ou para os "indignados" da Paulista. Estes, até portam cartazes dizendo que são "os milhões de Cunha". Penso que o cartaz seja justamente um apelo inconsciente (?) para serem levados para algum lugar na Suíça. #coxinhatemsobrenomeesemmoral
Como eu disse, não foi um baile. Foram longos 13 anos e meio em que o Brasil aguentou os picaretas bolivarianos que, além de muito mais corruptos que os políticos tradicionais, ainda tinham como modelo o autoritário Socialismo do Século XXI da Venezuela. Mas não há mal que sempre dure. Amanhã a Anta se vai e em breve o Molusco receberá a sua merecida hospedagem em Curitiba.
Treze anos em que a parte Brasil que para ti era apenas uma fria estatística ascendeu e mostrou o rosto. É isso que verdadeiramente te incomoda.
Sei, sei, o pobre no aeroporto é o que resta ao pobre de argumentos. Que pena que não viramos uma Venezuela ou uma Cuba, onde ninguém poderia criticar os companheiros que quebraram o país, não é mesmo?
Realmente quebraram o país (e por três vezes), no governo FHC. Agora o Brasil tá tão quebrado que deram aumento de 100 bilhões para o serviço público federal, ou será só notícia falsa de blog sujo? Deve ser né? Afinal o Bolivarianismo tomou conta de tudo contaminando até a "imprensa livre".
O idiota até nisso se trai. A corrupção "tradicional" pode, o que não pode é a "corrupcao" declarada como "socialista". O seu problema não é a ojeriza à corrupção, é unicamente ojeriza ao socialismo ( seja lá o que vc entenda como tal). A corrupção até é aceita por vc, desde que lubrifique devidamente a iniciativa privada. Entao terás o cinismo de dizer "Ah, mas não foi com dinheiro publico, então não é corrupcao"
Dilma foi mesmo de uma dignidade incontestável.
Sem exaltações e acusações mostrou claramente a farsa de que é vítima.Legislação retroagindo coisa nunca vista em lugar algum. Mas aos vendilhões da pátria "não vem ao caso".
O recorte que fizestes da declaração de Dilma expõe claramente a vida e a luta da presidente.
Teve também o tranquilo e seguro reconhecimento de que erros houveram - quem não os comete ? - mas todos com o objetivo de engrandecimento do nosso Brasil.
Como a carta de Getúlio Vargas foi um marco sinalizador do quanto somos manipulados e roubados, a declaração Dilma dá a dimensão a que chegamos com sua eleição a presidente. Foi um pico de moralização, brasilidade, dignidade e imparcialidade no exercício de suas funções.
Vamos esperar que no STF - ! ? - seja corrigido o banditismo do congresso.
Tive a ventura de viver em um Brasil onde essa mulher de coragem, altivez, honrada, culta, extremamente preparada governou. A sua dignidade foi demais para esse bando de hipócritas, que tem o dna do Cunha, ela não compactua , não transige não negocia com corruptos ela ama esse Brasil, ela luta por um pais mais justo e por isso sou seu fã e admiro a sua trajetória de vida. Dilma você demonstrou que nem tudo esta perdido que por vezes nascem seres dignos que dedicam a sua vida a política embora essa no Brasil seja um pântano fétido.