Como previsto, Artur Lira, o candidato de Bolsonaro para controlar a Câmara, venceu com folga.
302 votos, perto do que dizia a letra dos Paralamas do Sucesso sobre os “300 picaretas” deram-lhe o cargo não de presidente da Câmara, mas de ditador do Legislativo, como demonstrou já no seu primeiro ato na cadeira que Rodrigo Maia ocupava.
Em lugar de conciliação, rolo compressor e, numa penada, anulou as eleições para os demais cargos da Mesa Diretora, convocando outras para amanhã, quando do alto dos poderes que adquiriu, promoverá o expurgo de qualquer grau significativo – talvez sobre um cargo decorativo para afagar algum deputado quinta-coluna dos partidos de oposição – de participação divergente no comando da Casa.
A Mesa será formada sob o peso da autoridade que o líder do Centrão ganhou esta noite e quem quiser aderir, que pague o preço da obediência.
A direita, pode-se ver, não se ocupa muito dos “mimimis” sobre republicanismo e pluralidade.
Rodrigo Maia está vendo que suas tergiversações não levaram senão à formação de um rolo compresso que amalgamou fascistas, corruptos, fisiológicos e paroquianos, num parlamento onde uma emenda para uma ponte ou alguns quilômetros de asfalto valem muito mais que princípios ou convicções democráticas.
A destruição dos partidos políticos, obra que vem de décadas, mas que ganhou impulso com a chegada de um outsider, que já esteve em oito e não está em nenhum, está cobrando um preço ainda maior do que aquele que já vinha cobrando nas negociações de varejo que marcaram todos os últimos governos: quem não ceder cai, quem contratar a bom preço, fica.
Só que agora Lira e seu grupo se tornaram os donos do mercadinho e vão enfeixar estas negociações. O ato inaugural de sua gestão mostra de quem é o poder em ao menos uma das conchas do prédio do Congresso.
O que resta da direita – e pode contar que dos 145 votos de Baleia Rossi mais da metade vieram de deputados dos partidos de esquerda – ainda que com algumas defecções pró-Lira – deve, obrigatoriamente convencer-se de que criaram um serial killer das correntes políticas com algum nível de equilíbrio e que não são capazes de resistir ao rolo compressor bolsonarista.
Não se trata de fazerem retornar à política o líder que dela excluíram por uma questão de justiça e de respeito a princípios legais atropelados desde 2015. Trata-se de ir buscar a única força política capaz de deter o avanço inexorável da besta autoritária, do fascismo, da ditadura em roupagens formalmente democráticas, nem sequer inéditas na história.
A reabilitação judicial de Lula é a única reserva política deste país capaz de fazer frente, politica e eleitoralmente, a Jair Bolsonaro. O resto, de Moro a Maia. passando por Doria, Mandetta e Ciro, já não tem luz própria.