Do mato onde não sai cachorro e os cachorros que saíram do mato

A caminho do final, a CPI da Pandemia prestou um extraordinário serviço aos brasileiros, tanto por demonstrar que o charlatanismo presidencial – e, por sua ordem, governamental – atrasou o combate e a vacinação contra a Covid-19 quanto por revelar a teia de interesses espúrios que se montou dentro e em torno do Ministério da Saúde, envolvendo picaretas de calibre o mais variado que se possa imaginar.

Dito isto, é melhor esperar sentado que se produzam, no curto e no médio prazo, as consequências jurídicas e políticas dos crimes que nela se estão apontando, sejam os do Presidente da República, seja do staff militar que ele instalou no Ministério.

Enquanto Bolsonaro detiver o controle total sobre o presidente da Câmara e, portanto, sobre o curso de todo e qualquer pedido de impeachment ou apontamento por crimes de responsabilidades, nada caminhará e ninguém terá de responder, de fato, pelas barbaridades que aqui se cometeu.

Tambem não se depositem muitas esperanças de que as denúncias internacionais, junto à ONU e a Corte de Haia vão produzir resultado pela violação de direitos universalmente consagrados: os organismos mundiais são pachorrentos sempre e dez vezes mais quando se trata de um país grande, como o Brasil, sobretudo se estiver ligado aos – vejam a expressão – “interesses ocidentais”. Leia-se, dos capitais.

Nada disso tira a relevância do que se fez ali.

Viu-se que tipo de gente foi posta a comandar o setor mais importante do governo brasileiro durante os longos meses de pandemia, viu-se uma parte das lacraias escondidas sob os cascalhos da administração pública e de que patentes militares garante que sejam impolutos os que as ostentam.

Reaprendeu-se a respeitar parlamentares corajosos, que enfrentam as situações em público, que confrontam e não se entregam a conchavos e as suas diferenças com os Rolando Lero governistas, de um padrão tão deplorável que custa a crer que sejam senadores da República.

Num país que espera nada de seus parlamentares, foi um alívio e um sopro de credibilidade nas instituições ver que uma Comissão Parlamentar de Inquérito não tem de caminhar, necessariamente, para uma pizza. mesmo que haja quem, depois da CPI, cuide de colocar suas conclusões no freezer.

 

 

 

 

 

Fernando Brito:
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