Vou tentar recompor pelo noticiário a acareação entre os ladrões Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef – o primeiro “arrependido” e o segundo “bandido profissional”, nas palavras do Dr. Sérgio Moro – durante de oito a “cerca de 10 horas” segundo as diferentes versões publicadas – em que estiveram juntos.
Do Globo.com:
“De acordo com ambas as defesas, o único “ponto de convergência” obtido na acareação foi com relação a um pagamento de propina feito pela Braskem braço petroquímico da Odebrecht para uma compra de nafta. Os outros oito pontos destacados para análise, segundo os advogados, terminaram com os delatores mantendo as versões originais das delações premiadas.”
Veja-se como chegaram a esta convergência:
“O advogado João Mestieri, que representa Paulo Roberto Costa, confirmou a convergência entre as versões. “No primeiro momento, o Paulo Roberto Costa disse que não participou disso, porque não se dava com o diretor-presidente [da Braskem]. Aí começaram a rememorar uma série de questões para então chegar à admissão de que isso ocorreu”, afirmou.”
Reparem que maravilha: Paulo Roberto Costa, responsável pelas refinarias que produzem e vendem nafta, dizia que “não participou disso” e quem lembrava tudo era Alberto Youssef, que provavelmente de nafta só conhece aquelas bolinhas que se colocava nas gavetas para espantar insetos.
Como é que Paulo Roberto Costa “esqueceu” e depois “lembrou” do negócio? Seria um trocado?
Muito ao contrário: a compra de nafta da Braskem à Petrobras monta a quase R$ 1 bilhão por mês. Com a “taxa de roubalheira” que dizem que era praticada – de um a três por cento, uma coisa indefinida que faz lembrar o bordão usado pelo Didi Mocó: “aí vareia, né, doutor” – dá entre quase R$ 10 milhões e R$ 30 milhões por mês. Aos preços de hoje entre R$ 50 milhões e R$ 150 milhões por um contrato de seis meses, já que venda de nafta não é na base do “me dá aí um quilo e meio, bem pesado”.
Amigo, será que você precisaria “rememorar uma série de questões” para lembrar de uma bolada destas? Mas o advogado de Costa se desculpa, na Folha: “são coisas que aconteceram há cinco, sete anos. É possível que as pessoas se esqueçam de algum ponto.”
Observe o tamanho, em reais, o tamanho deste “algum ponto”.
O fato de que essa é a questão que interessa agora para incriminar a Odebrecht, sócia da petroleira no controle da Braskem certamente não vem ao caso, não é?
Vejamos outra questão abordada na tal acareação, narrada pelas matérias:
“O ex-diretor da Petrobras disse que, em 2010, autorizou Youssef a fazer contribuições para as campanhas da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e do senador Humberto Costa (PT-PE), mas o doleiro afirma que não entregou dinheiro a eles.Segundo Youssef, é possível que Costa tenha se confundido e os repasses tenham sido feitos por outros operadores do esquema de corrupção”. (Folha)
Bem, acusar Rosena Sarney até de roubar balinha de criança é algo que, em geral, todo mundo acredita. No papo de botequim, porque na Justiça tem de haver o pequeno detalhe de provas, ao menos testemunhais.
Só há uma maneira de que os dois estejam dizendo a verdade: Costa mandou pagar e Youssef não pagou, embolsando o dinheiro. Se ambos pediram, como diz Costa, e não receberam, é obvio , iriam queixar-se e o ladrão-diretor daria ao menos um telefonema: “aí, turco, não mandei você dar?”
Mas isso, diz um dos advogados de Youssef, é “bom”: “A divergência mostra que não houve combinação de versões, então dá mais valor para a colaboração de cada um deles”. Certo doutor: um mandava, o outro obedecia; o um diz que mandou, o outro diz que não mandou e isso prova que os dois estão falando a verdade, certo?
Já no Estadão:
“Em relação a Paulo Bernardo, os delatores apontam o pagamento de R$ 1 milhão para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano. Bernardo, que é marido da senadora, fez a solicitação.Um dos pontos de divergência explicado foi o de quem efetivamente teria entregue os valores pedidos por Paulo Bernardo. O doleiro (disse?) não ter sido ele pessoalmente o efetivador das entregas.”
Então quem foi? O “Careca”? O motoboy? “Um rapaz que trabalhava lá no escritório, que eu não lembro o nome”? Ou foi por Sedex?
Quando comecei em jornal, um velho jornalista contava, divertido, que sua primeira apuração foi de um incêndio num prédio na Avenida Rio Branco. Voltou da cena, escreveu a matéria e o redator (que virou copydesk) sentiu falta da informação: “qual é o número do edifício?”. “Ih, não reparei”, respondeu o “foca”. “Então volta lá, desgraçado”…
A Folha narra o clima ameno do encontro de Costa e Youssef:
“Segundo os advogados dos dois delatores, não houve tensão durante a acareação. Apenas num determinado momento, de acordo com os advogados, os delatores trocaram farpas, como “Você não está lembrando direito”, e “Não, você é que não está”.
Retiro o que disse sobre papo de botequim, porque no botequim isso faz diferença. Parecem mais duas senhoras dividindo implicâncias enquanto tricotam.
Espremi as matérias para ver se saída mais alguma coisa de concreto de uma acareação-interrogatório que durou de oito a dez horas, mas não tem nada além, segundo os jornais. A história do dinheiro que Costa diz ter sido pedido por Palocci e Youssef “não deu tempo” de tratar. Marcaram outro chopinho para hoje, outro para amanhã e quem sabe, na quinta.
Quem sabe, como no providencial caso Braskem-Odebrecht, até lá lembram ou seus advogados combinam algo?
Ou terminam o casaquinho. Porque tem de prestar atenção: é um ponto meia, outro tricô. Não são iguais, mas formam um belo conjunto.
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Brito, concordo plenamente com você.
Olha carregar 1 milhãozinho, mesmo em notas de R$ 100, novas, já é um trabalho suado, imagine 20 ou 30 milhões.
O pessoal acha que isso é por num saco de papel e pronto. São malotes e malotes de notas. Imagina que 20 milhões são nada mais nada menos que 200 mil notas (isso mesmo) ou seja 200 milheiros. São malotes pra burro nenhum conseguir carregar.
Fora dessa hipótese esta no sistema financeiro e é muito simples rastrear!
E, em se tratando de campanha, todos os recursos arrecadados tem sua identificação garantida pois o sistema de TI dos bancos exigem a identificação do doador através do CNPJ ou CPF.
A república do paraná esta tão perdida nesse processo, interminável diga-se, que poderíamos rebatizá-la de "SAMBA DO MORO DOIDO".
Entendendo o Direito Penal do Inimigo saberemos pq Moro adota dois códigos penais: Um para os amigos e outro para os inimigos
https://www.youtube.com/watch?v=MjNcdY2-N_0
Olha, o negócio é o seguinte, primeiro vou colar um trechinho do site da Obrecht aqui:
"Odebrecht Defesa e Tecnologia
Desenvolve soluções para o Governo brasileiro no setor de Defesa. Concebe, implanta, integra e gerencia tecnologias e produtos de uso militar e civil. Atua no contexto de implantação da Estratégia Nacional de Defesa (END) do Governo brasileiro, que tem, entre outros objetivos, a modernização do setor e reestruturação da indústria brasileira, assegurando o atendimento das necessidades de reaparelhamento das Forças Armadas com tecnologias sob domínio nacional. A Odebrecht Defesa e Tecnologia participa de três empresas: Itaguaí Construções Navais (ICN), para a construção de submarinos convencionais e nuclear do Programa Nacional de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub); Consórcio Baia de Sepetiba (CBS), responsável pelo planejamento, coordenação, gestão e administração das interfaces do Prosub; e Mectron, voltada para o desenvolvimento e fabricação de produtos de alta tecnologia e sistemas complexos para usos militar e civil."
Segundo, vou dizer: além de asfixiar esta empresa de destacada atuação até no exterior, a turma da Suja Rápido quer meter justamente os EUA a bisbilhota-la. Ela está envolvida não só em importantes obras de infra estrutura, como também da segurança nacional. Agora sou eu que estou achando que está na hora dos militares intervirem em alguma coisa.
Carlos ... você está totalmente correto! Nessa altura dos acontecimentos também estou pensando que somente uma intervenção militar na defesa da nacionalidade. Tenho pensado na aplicação de alguma Lei de Segurança Nacional nos entreguistas, mas parece que não existe essa lei, então só resta os militares salvarem a Nação desses entreguistas traidores espalhados pelos três poderes da Nação.
Começamos a pisar num terreno meio perigoso, mas o fato é que coisas começam a passar pela cabeça quando começamos a pensar no papel da Odebrecht no Brasil e não vemos atitudes firmes por parte do governo, do PT, etc. No fim quem está tomando a primeira atitude firme é a própria Odebrecht ao não aceitar a dedação premiada e ainda por cima usar a mídia para expor sua versão dos fatos através de anúncio pago porque se fossem depender da decência da mídia para apresentar sua versão, receberiam meia dúzia de linhas no meio do caderno de classificados para apresentá-la. Combater a corrupção é necessário, mas sem prejudicar o interesse nacional. Sei lá, com a palavra o Ministro da Defesa. O que ele pensa de colocarem os EUA bisbilhotando e até colaborando na asfixia de uma empresa envolvida em projetos que envolvem segurança nacional, inclusive submarinos necessários nestes tempos de pré sal? Gostaria de ler mais opiniões a respeito por parte de jornalistas, analistas, etc. Eu sou só um zé mané.
Você não é um zé mané, você é um Cidadão 9isto mesmo em letra maiúscula)que está interessado no país, assim como muitos denós que estamos aqui batalhando para o pais e o pré sal não se dissolva nas mãos de uma direita canalha e entreguista. Temos de prosseguir nessa nossa caminhada de formiguinhas e termos muito cuidado mesmo, antes de falarmos em militares. Um grande abraço.
Pode ter certeza de que alguma coisa farão. Mas, infelizmente, não ficaremos sabendo. Os militares brasileiros podem ser uma porção de coisas, mas estão muito longe de ser bobos. Nem creio que sejam entreguistas.
Essa lava a jato já cansou.
Meses de investigação e não sai desse disse que me disse.
Provas que é bom, nada.
Imagina como se rouba centenas de milhões sem deixar rastro?
Eu imagino: na verdade, quem roubou está quietinho e estão acusando inocentes. Reviram a vida de inocentes, por isso não acham nada.
A coisa toda tá que nem novela da globo, clima para na, Sexta Feira, pedir a "prisão preventiva" dos suspeitos. Para simplificar, até Sexta alguém estará preso.
É mesmo o samba do moro doido. E bote doido nisso. Doido varrido.
Tudo isto é irrelevante. O que interessa é arrumar alguma maneira de prender o Lula.
A verdade é uma quimera.
Creio que nessa história há três bandidos,
Na foto acima falta um bandido o pior de todos O tal Sergio Moro esse sim o chefe da quadrilha do Paraná.
Do nobre jurista alemão que instituiu o Domínio do fato para crimes de guerra no nazismo ao ilustríssimo DR. Alzheimer que deu nome à doença triste que acomete algumas pessoas, parece que o esquecimento e a memória turva dos delatores pode comprometer essa marmota de operação lava jato.O problema é que memória de crininoso confesso ninguém controla, nem mesmo o juiz camarada.
Está mais que na cara, que a reação da Odebrecht e a fragilidade das acusações em que baseiam-se as prisões, escancaradas no JN pela falta de argumentos do delegado da PF escalado para explicar o que não dá para ser explicado, portanto inexplicável, necessitam de mais material para sustentar midiaticamente a barreira de fumaça que impede a sociedade brasileira enxergar essa farsa política seletiva, de quinta, da República do Paraná. Nada melhor para produzir isso, que recorrer a bandidos confessos, coringas e pau para qualquer "obra", Paulo "Arrependido" Costa e Alberto "Bi-delator Premiado" Youssef. Para disfarçar, inclui-se outras situações conflitantes, que futuramente também serão ajustadas, conforme a necessidade. O pior é pensarem que somos todos idiotas.