Alguns políticos têm grande capacidade de brilhar, mas sem possuir luz própria, apenas refletindo a luz de outros, para o que sempre precisam estar em oposição ou enviesados em relação a eles.
É o caso de dois Eduardos, Leite e Paes, que se movem sempre para posições onde a luz os faça visíveis e desejáveis.
Paes era um ilustre desconhecido, um dos Maia Boys lançados na política pelo então prefeito César Maia, que lhe entregou a administração da Zona Oeste da capital, o lhe deu f pela primeira vez uma eleição como vereador. Simpático, bom de bico, jeitoso com o jeitão carioca, o périplo partidário do prefeito do Rio é de dar inveja: filiado ao PV, foi para o PFL, depois para o PTB, de volta ao PFL, depois ao PSDB e, pelas mãos de Sérgio Cabral, uma temporada longa no PMDB, onde se elegeu e reelegeu prefeito, com um vice do PT. Com a desgraça de Cabral, mudou-se para o DEM e, mais recentemente, para o PSD.
Só esta trajetória já indicaria que seu projeto seria voltar a disputar o governo do Estado, que perdeu para o desconhecido Wilson Witzel na onda bolsonarista de 2018. Ele, porém, passou a jurar de pés juntos que não deseja o cargo e inventou, até, um candidato tampão, o advogado Felipe Santa Cruz, tão viável eleitoralmente quanto a minha finada avó.
11 entre cada 10 lideranças políticas desconfiam que Paes repete a estratégia de 2018, quando esperou até o final de julho para lançar-se candidato, num momento em que o vazio político lhe desse uma vitória certa. Pode ser, mas na sua balança dois pesos importam: não deixar que Marcelo Freixo se eleja e faça-lhe sombra na classe média carioca, sua fortaleza eleitoral, e saber quais são as condições de Jair Bolsonaro de impulsionar eleitoralmente o atual governador, Cláudio Castro.
O outro Eduardo, o Leite, é cria do PSDB, mas está tomado pela crença de que é agora uma liderança política nacional e se prepara para apunhalar João Doria, depois de ter aceito um pacto interno dos tucanos para a disputa de prévias. Por isso, está disposto a assumir o lugar de candidato fantasma do PSD hoje ocupado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Não parece que as pechas de traidor, de dissimulado e de inconfiável sejam bons augúrios para a reedição de sua pré-candidatura, nem que Gilberto Kassab seja trouxa de acreditar em compromissos com quem age assim.
Leite, à procura de um brilhareco nacional, pode também estar “testando” a oportunidade de ser notícia enquanto pode para, em seguida, refluir para uma candidatura à reeleição do Rio Grande do Sul, onde teria boas chances, tanto porque aparece na frente das pesquisas quanto pelo fato que, atrás dele, tem um Ônyx Lorenzoni, marcado pelo bolsonarismo e o ex-governador José Ivo Sartori, que teve uma gestão ruinosa no estado.
É uma pena que dois personagens de uma geração relativamente jovem na política de dediquem à arte da dissimulação, deixando de lado o fato de que o país vive uma crise que deveria despertar coerências e não vaidades.