A pesquisa que dá manchete hoje em O Globo, dizendo que as “teorias da conspiração” – terra plana, vírus chinês, cloroquina, etc – conseguem a adesão de parcelas significativas dos brasileiros, mostra algo pior do que burrice ou desinformação.
Ao “puxar” a chamada para “o dobro dos brasileiros se diz mais de direita que esquerda”, reforça a ideia do segmento dominante do conservadorismo brasileiro passou a ser dependente da ignorância e, assim, algo como “coisa de pobre”.
As diferenças não chegam a ser significativas entre eles e a dita “elite”.
Se os 27% no total que acham ser mentira que o homem tenha ido à Lua podem ser atribuídas à falta de informação nas periferias e sertões, como explicar que 21% – um quinto! – dos que têm nível superior adotem esta ideia. Aliás, o mesmo dos que concordam que a Terra é plana (20%) , embora ainda menos que a metade (49%) que acham que o coronavirus foi criado pelo governo chinês e, assim, faz parte de uma “conspiração de esquerda” que visa “dominar o mundo”, verdade para 36%.
É claro que o bolsonarismo insuflou esta onda, mas não é apenas isso.
Resultam também, de um mundo onde a estupidez intelectual deixou de ser um impedimento ao progresso social e que o conhecimento e a compreensão tenham se tornado uma mercadoria que, nas raras vezes em que é necessária, pode ser comprada, bem barato e até de graça, dos “especialistas” que, nas prateleiras do “mercado”, são encontrados com facilidade.
A direita política sempre se valeu disso, mas com certa vergonha. Quando eu era guri, era comum que quem ascendesse economicamente se preocupasse em comprar uma bela estante e livros “a metro” para dar impressão de sabedoria.
Hoje, são os livros que os procuram, como se faz exemplo a medalha solenemente outorgada ao brucutu Daniel Silveira.
É o presidente da República indignado com a possibilidade de que clubes de tiro possam tornar-se bibliotecas.
Não é loucura, é um método. A estupidez, frequentemente, é a porta de uma felicidade possível, a de um mundo que não se pode mudar, remenda-se com convicções simplórias, onde o “é a minha opinião” – que agora veste-se tanto de “liberdade de expressão” – transforma-se em razão suprema e imutável.