É com eles que se vai fazer a moralidade pública?

No Tribunal de Justiça do Rio, 98,5% dos magistrados — exatamente 848, segundo a folha de agosto — tiveram vencimentos brutos acima do limite de R$ 33.763 definido constitucionalmente com base nos ganhos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A situação é bem parecida no Ministério Público estadual, onde esse percentual, em setembro, foi de 98,12% (887 dos 904 promotores e procuradores do órgão).

Não sejam acusados os “blogs sujos” de perseguição aos juízes e promotores, porque o levantamento é de O Globo, com quem os colegas federais de Suas Excelências nunca criaram caso, nem mesmo quando seus processos ficais “somem”, misteriosamente, por obra e graça de uma funcionária-bagrinho que, no meio de outros que eram falcatruas, levou, inadvertidamente, o da “bolada” global.

A pesquisa, apressa-se ao jornal a esclarecer, exclui férias,13° salário, abono permanência, acumulações legais, etc. É remuneração na veia, constante, segura, eterna, desde que foram canonizados em um concurso que os tornou cidadãos de primeira classe, com direito sobre o bem e o mal, que podem mandar prender e mandar soltar sem de suas decisões mais graves haja qualquer consequência.

E não é, senhoras e senhores, privilégio da terra de Estácio de Sá. Em geral, é a situação de todos os estados e não rara no plano federal, pois as regras que lhes permitem tais vencimentos são as estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público, que estabelece – se é que assim as podemos chamar – regras remuneratórias.

Também não é, frise-se, um julgamento sobre o caráter de todos os seus integrantes, até porque é humano o sentimento do “já que é assim, quero também”. Vale em todas as atividades: judiciais, parajudiciais, políticas, empresariais, negociais. Você tende a identificar-se com o meio em que está mergulhado e não é fácil permanecer com seus valores originais quando está mergulhado neste ambiente elitista.

O cérebro é permeável e sempre, em maior ou menor grau, absorve o caldo de cultura de suas relações.

Isso passa a ser “natural” e “imexível”. No segundo governo Brizola, na concessão dos reajustes que a imensa maioria dos servidores tinha necessidade, criou-se um “redutor remuneratório” que punha freio aos maiores vencimentos do funcionalismo. Naturalmente, tudo caiu no Judiciário, que os repôs nas alturas e mandou pagar-lhes os atrasados.

Daí em diante, quem faria igual, para se tornar vítima do ódio das castas que se formaram a pretexto do “mérito”?

A sinceridade do desembargador paulista João Batista Nalini, há mais de dois anos, defendendo os “penduricalhos” dos juízes sob o argumento de que é preciso um terno diferente para cada dia da semana e não dá para toda hora ir a Miami para comprá-los é apenas a caricatura deste processo, que tem traços muito mais cruéis.

A cortes judiciais tornam-se cortes, na acepção histórica da palavra não apenas nos escrínios de veludo e guarda-roupas, mas na proximidade do poder e nos desejos de abocanhá-lo próprios da nobreza, que despreza os reis pelo que não têm: o sangue azul do mérito e e a coroa pelo voto.

Em nome da moralidade, querem todo o poder.

Não perceberam, porém, que a fúria moralizadora é moeda de duas faces.

E numa delas, estão impressas as efígies de seus privilégios.

Fernando Brito:

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  • Enquanto as celas dos presídios que deveriam abrigar 4 pessoas tem 30, a maioria, pobres, pretos ou pardos. Indivíduos que poderiam prestar serviço comunitários e frequentando curso de reabilitação, por penas como tráfico e pequenos roubos, ficam trancafiados convivendo com a escória. E o judiciário do pais com salário de marajá. Se isso não é a reprodução do escravagismo que imperou por 400 anos nessa terra não saberia dizer o que é. O que salta aos olhos é que um sistema que não dá oportunidade aos indivíduos, o crime será saída. Cada vez mais ficaremos prisioneiros em casa em um pais com gravíssimos problemas sociais em que a classe dominante e outros agentes não querem resolver.

  • Sr.Fernando.Ontem coloquei um comentário,a um artigo da Sra..Thereza Cruvinel,ao respeito de POVÃO em geral,e esperanças que nele se deposita.Aqui,quero abordar tema que me parece correlato.Penso ser o JUDICIÁRIO, mais um dos agentes da DITADURA DE CLASSES DA BURGUESIA,e antes,na história,da classe que mandava.Ora,se atentarmos para passado recente,os DITADORES MILITARES DE 64,também agentes dessa mesma BURGUESIA,impuseram ao país,os interesses dessa mesma classe.Nos dias atuais,frente ao fracasso daquele método,a BURGUESIA se utiliza de seus vários agentes espalhados pela sociedade,dentre eles a IMPRENSA e O JORNALISMO,fiéis assessores dessa classe,incluindo-se ai,o JUDICIÁRIO,que dá aparente legalidade ao ESTADO BURGUÊS,constituído esses seguimentos por PEQUENOS BURGUESES,fiéis executores das políticas de DITADURA BURGUESA.Hoje,respaldados pela IMPRENSA e JORNALISMO e PUBLICISTAS e PUBLICITÁRIOS, esses agentes,VERDADEIRAS CASTAS dentro da classe a qual pertencem,a PEQUENA BURGUESIA,como ontem os soldados,executam as tarefas que a HISTÓRIA DA DITADURA DA BURGUESIA,lhes incumbiu. Então,para aqueles que ficam pasmos com ações, desses TRAMELAS DOS RICOS,ou MAÇANETAS DE RICOS executam em nome de uma pretensa LEGALIDADE INSTITUCIONAL, não passam tais ações,das mesmas que a milicada executou em 64 e adiante.É a ditadura que alguns dão o nome de JURÍDICO MIDIÁTICO INSTITUCIONAL.Mas as musicas e os participantes do BAILÃO,são os mesmos,hoje travestidos desse jeito que assistimos.

  • O mesmo sistema judicial que tem protagonizado espetáculos degradantes de desrespeito aos direitos mais básicos do ser humano, é o mesmo que abriga os maiores marajás do serviço público. Muitos blogs, e até a velha mídia, têm publicado contra-cheques mostrando os altíssimos salários de desembargadores e procuradores (que agridem os brasileiros que trabalham honestamente a troco de quase nada), mas esses contra-cheques são da arraia-miúda do sistema judicial. Os verdadeiros marajás ganham quase dez vezes mais do que tem sido denunciado:

    http://g1.globo.com/jornal-nac...

  • ... Ainda sobre "a marcha dos abilolados incendiários das trevas procuradores de merda da 'PORCA-tarefa' do 'miniSTÉRIO' PRIVADA"!
    Ah esta 'PORCA-tarefa' da Operação midiático-golpista 'Lava [DEMoTucano a] Jato'!

    $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

    ???Dallagnol tem marqueteiro tucano

    Segundo Esmael, é o mesmo do Richa. Precisa desenhar????

    publicado 20/11/2016

    (...)

    FONTE: http://www.esmaelmorais.com.br/2016/11/lava-jato-agora-tem-marqueteiro-preferido-de-tucanos-para-aprovar-projeto-de-abuso-de-autoridade-no-congresso/

  • MERCADANTE: O GOLPE FOI DADO PARA FREAR LAVA JATO

    Em entrevista exclusiva ao 247, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirma que fica cada vez mais evidente que o golpe parlamentar de 2016 teve como objetivo central tentar frear a Lava Jato, que se aproxima do PMDB; ele diz ainda que a tese de que o PMDB traiu a presidente Dilma Rousseff em razão de aproximações com PSD e Pros é absurda; "Essa é mais uma dentre tantas outras teses, amplamente difundidas pelos golpistas, para enfraquecer o governo Dilma na época e justificar a articulação golpista. Eles precisam criar essas teses absurdas para justificar a traição de Michel Temer e seus aliados", diz ele; leia a íntegra

    20 DE NOVEMBRO DE 2016

    (...)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/poder/266282/Mercadante-o-golpe-foi-dado-para-frear-Lava-Jato.ht

  • Por favor!!! Justiça e/ou injustiçados, procurem a dor. Encontrem: Engavetador, enganador, enriquecedor, empulhador, ... e, o Janot? O povo, o povão, a massa fica com a dor. DesMOROnou geral!

  • É ......... São eles que usam bem a " lei " e as inconstitucionalidades ! Unamo-nos para resolver. Estudemos o melhor meio e caminho para dar FIM a essas ...excrescências. ???? com eles.

  • A virginia esta louca para restaurar a moralidade publica. O vigi, o FHc só nao ganhava 400 k por palestra paga a convite em eventos privados porque é incompetente para falar e convencer.
    Ganhava 250 (e passava o chapeu para guardar as tralhas).
    Dai se infere que um pode e outro não ou que a moralidade dela é quantitativa, né Vigi?

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