A fuzilaria disparada pela tropa de choque da PM pernambucana, depois desautorizada pelo governador do Estado, Paulo Câmara, teve todas as características de uma ação planejada por comandantes, não apenas uma agressão que tenha acontecido no “entrevero” entre policiais e manifestantes.
As imagens que têm sido mostradas pela televisão mostram que a barreira policial foi colocada adiante da marcha dos manifestantes para, sem razão, esperar que ela se aproximasse para desfechar, repetidamente, salvas de disparos de bombas de efeito moral e balas de borracha, enquanto avançavam, em formação, contra os “inimigos”.
Foi, portanto, uma ação comandada e, ainda pior, uma ação planejada, com o objetivo de produzir uma visão do que “deve” ser feito contra o que serão, assim que reflua a pandemia, uma maré de manifestações contrárias ao governo.
Como é frequente neste tipo de ação, aconteceram “danos colaterais” que expuseram politicamente a trama. As duas pessoas que perderam o olho por disparos policiais, à queima-roupa quase que certamente não estavam nos planos dos comandantes da PM pernambucana – se é que foi só em Pernambuco que se planejou a repressão – e foram típicos dos transbordamentos que acontecem quando se lança a polícia para atacar e não para proteger.
A demorada e tímida reação do governador pernambucano é um demonstrativo do medo que têm os governantes da reação das polícias que só formalmente comandam. Há vários antecedentes, com os motins policiais no Ceará e na Bahia, os quais mostram que, mesmo eventualmente tendo a moderação de alguns oficiais PM, a oficialidade e a tropa estão tomando o freio nos dentes e estabelecendo, à revelia de tudo, a formação de um ambiente repressivo e autoritário, onde o direito de manifestação pertence, exclusivamente, aos apoiadores do presidente.
Nada surpreendente, quando se tem o próprio Comandante do Exército emparedado, sem poder decretar a punição devida a um general que quebra regulamentos e hierarquia militares.
A corrupção das cadeias de comando leva, inevitavelmente, a que chefias menores, mas dispondo de tropa e força letal, mostra que a covardia em adotar titudes duras leva a tragédias como a de Recife, onde formações militares são lançadas sobre civis desarmados e pacíficos, naquela valentia própria dos covardes.
Será algo assim que Bolsonaro chama de “seu exército”?
Parece que sim.