E se fosse o contrário, Dr. Gurgel?

Ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu o arquivamento da ação que o  ex-estagiário do Superior Tribunal de Justiça Marco Paulo dos Santos contra o ministro Ari Pargendler, ex-presidente daquela corte.

Marco foi demitido, em 2009, por ordem de Pargendler, por conta de um episódio numa fila de caixa eletrônico. Pargendler sentiu-se incomodado com a proximidade do rapaz, reclamou e, como este dissesse que estava além da faixa amarela que marcava o espaço, o ministro puxou-lhe o crachá do pescoço, disse qual era o seu cargo e mandou-o demitir.

Roberto Gurgel, o temível procurador, disse que isso não foi nada de mais. Mesmo sem ter requisitado as imagens das camaras de segurança do caixa, disse que o puxão de Parglender foi “apenas (com o objetivo) de conhecer a sua identificação.

Ele não tomou conhecimento do relato feito por uma testemunha ao Blog do Noblat,  logo depois do episódio:

Fabiane Cadete, estudante do nono semestre de Direito do Instituto de Educação Superior de Brasília, uma das testemunhas citadas no boletim de ocorrência, confirmou ao blog o que Marco disse ter ouvido do ministro. 

“Ele [Ari Pargendler] ficou olhando para o lado e para o outro e começou a gritar com o rapaz.  Avançou sobre ele e puxou várias vezes o crachá que ele carregava no pescoço. E disse: “Você já era! Você já era! Você já era!”, conta Fabiane.

“Fiquei horrorizada. Foi uma violência gratuita”, acrescentou.

Segundo Fabiane, no momento em que o ministro partiu para cima de Marco disposto a arrancar seu crachá, ele não reagiu. “O menino ficou parado, não teve reação nenhuma”.

De acordo com colegas de trabalho de Marco, apenas uma hora depois do episódio, a carta de dispensa estava em cima da mesa do chefe do setor onde ele trabalhava.

A demissão do rapaz, que é negro, “não tem relevância penal”, diz Gurgel.

Pode ser. Vamos fazer um teste rápido para ver se é assim mesmo.

– Você se afaste, não ve que eu estou fazendo uma operação no caixa?

– Mas eu estou atrás da linha amarela…

– Você sabe com quem está falando? Eu sou Marcos Silva, estagiário do STF! Deixa eu ver esse crachá aí… Peguei o seu nome, você está demitido, “seu” Ari!

Seria “irrelevante”, Dr. Gurgel?

Ou irrelevantes são apenas os pobres, os negros, os simples?

Ainda que o senhor achasse que não era o caso de uma condenação penal, certamente era o caso de uma condenação moral, ainda mais se tratando de um magistrado que, o senhor mesmo disse, tem como traços marcantes o equilíbrio e a serenidade, como se vê neste episódio.

Ainda bem que o senhor, Dr. Gurgel,  está de saída da PGR.

A sua ausência preencherá uma lacuna na Justiça deste país.

Porque não pode haver Justiça quando o mais alto fiscal da Lei tem uma balança tão desequilibrada a favor dos poderosos.

Fernando Brito:

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  • O Brasil tem apenas 513 anos. Acho que mais 500 se passarão e aí sim a justiça estará mais justa.

  • O Brasil tem apenas 513 anos. Acho que mais 500 se passarão e aí sim a justiça estará mais justa.

  • O Brasil tem apenas 513 anos. Acho que mais 500 se passarão e aí sim a justiça estará mais justa.