E se o vôo fosse o Air France 447, Charlie faria isso?

Muita gente – inclusive o presidente russo, Vladimir Putin – está furiosa com as “piadas” que o Charlie Hebdo, jornal de humor e apelação francês, está fazendo com o desastre que matou mais de 200 pessoas na queda de um avião russo no Deserto do Sinai, no Egito.

Duas delas – “Rússia intensifica seus bombardeios sobre o Daesh (o Exercito Islâmico)” e “Os perigos da aviação russa de tarifas baixas – Eu prefiro pegar a Air-Cocaína”- estão reproduzidas aí em cima e provocaram a ira dos russos, que perderam parentes e amigos na queda do Airbus.

E prefiro perguntar aos franceses o que eles sentiriam se este tipo de “gracinha” fosse feita com seus patrícios desafortunados que morreram no desastre do Air France 447.

Seria o caso de falar em “liberdade de expressão”, de um “je suis Charlie, aussi“?

Humor é irreverente, cortante, ácido, polêmico; jamais é desumano, pois que assim não é humor, é morbidez.

Debochar da vida humana é só um pequeno degrau acima de tirar uma vida humana, como fizeram há tempos com integrantes do jornal e não há direito ou justificativa para que o tenham feito.

Daí a aplaudir este tipo de achincalhe a pessoas, por serem árabes, muçulmanos, judeus, negros, russos ou sírios e, pior ainda, estando mortos vai uma distância que é fácil de compreender quando se pensa em como repugnaria a França que se fizesse aos franceses mortos no desastre sobre o Atlântico.

Je ne suis pas Charlie, cada vez mais.

Fernando Brito:

View Comments (24)

  • Não vejo diferença entre esse jornaleco e os gentilis do Brasil... bando de sem vergonhas, isso sim.

  • Geralmente aprecio os comentários da Rita, mas " meio estranhos"? Em antropologia, isso que você escreveu expressa o que é considerado etnocentrismo.

  • Caro Fernando, uma pequena correção no francês: o correto seria escrever "Je ne suis pas Charlie".

  • Sempre me posicionei contra o tal "je suis Charlei" e explico. Algo que pouca gente discutiu: como explicar que franceses, nascidos e criados sob a égide da République, foram facilmente recrutados por fanáticos e praticaram a matança dos jornalistas do Charlie? Simples: estas pessoas estão abandonadas pelo Estado nas péripheriques e nos banlieues da vida. Além do que, a destruição de países como Iraque, Líbia e, agora, a Síria, provocando o êxodo de milhares de pessoas, é culpa não só do americanos, mas também de franceses e ingleses. "Ce ça, je ne suis jamais Charlie"!

    • Há uma suspeita de que o atentado contra o Charlie Hebdo é de falsa bandeira. Teria sido cometido por forças políticas como o Mossad, p.ex, para colocar a população francesa contra os muçulmanos. Não estou afirmando que o sejam, mas que faz sentido, faz. Dá pra desconfiar. Todo o mal que vem daquelas bandas, bem ao gosto do império sionista ocidental, não pode ser descartado. A propósito, hj mesmo li (e vi um vídeo divulgado num site relacionado pelo Castor Filho), mostrando que o avião A-321 da empresa russa Kogalymavia (ou algo parecido com este nome) foi explodido (uma bomba instalada antes da decolagem, posteriormente detonada à distância), também supostamente por terroristas do ISIS, com apoio da Arábia Saudita e de Israel. Tudo isto parece muito complicado de entender, mas não dá pra descartar. Mas é visível que os norte-americanos do Pentágono (os falcões arruaceiros, fazedores de guerras) não estão gostando nada nada que os russos tenham resolvido destruir bases do Estado Islâmico na Síria. Vamos aguardar pra ver se alguma novidade surge nas investigações dirigidas pelos russos, que provavelmente, se caminha nessa direção, vão ser boicotadas pela imprensa ocidental, habituada a esconder os malfeitos dos EUA, como a farsa dos atentados de 11.9.2001.

  • Air-Cocaína?
    Ele deve estar falando do helicóptero do Perrela ou do aeroporto do Aécio.

  • É triste que exista gente que ache graça em coisas desse tipo. É triste que as pessoas tenham perdido a noção a ponto de publicar um absurdo desses, pensando que são engraçados.

  • Concordo em gênero, número e grau Fernando. Estas piadinhas, tão comuns também no Brasil, como as sobre pobres, negros, gays, escondem preconceitos, intolerâncias e soberbas. O uso de clichês para ser referir a populações só se prestam para desumanizar o grupo alvo. ao invés de tratarmos do pai, mãe, filhos, etc, passam a ser refugiados, russos, comunistas, o inimigo a ser enfrentado.

  • Não se faz piada com a desgraça de um acidente destas proporções. Só demonstra como os europeus e americanos são egocêntricos.

  • O Charlie Hebdo caiu no ridículo há muito tempo. Não considero humor satirizar a dor e sentimentos de sofrimento.

    Lembro de uma capa na qual foi retratada uma mulher com uma burca atochada no ânus. Já não é demasiado os sofrimento das mulheres do islã? A charge mudou algo na vida delas?

    Existem certos tipos de piadas que não levam ninguém a lugar nenhum. Aliás, terminaram por levar o Charlie para um lugar indesejado.

  • Para quem não sabe, agora o Charlie mudou de lado, está a favor do Estado Islâmico e contra a Humanidade. Um pequeno detalhe explica isso: O Charlie foi vendido aos Rothschild, uma das famílias donas das finanças do mundo, uma semana antes do suposto atentado onde um dos terroristas altamente treinados teria deixado placidamente sua carteira de identidade no banco do carro do crime. Acidez e humor negro agora só para os "nossos inimigos" lá deles, Putin inclusive.

    • É verdade, Tomás. Os Rothschild são os donos da revista Charlie Hebdo. Essa família é pró-EUA e Israel e por isso são contra Putin. São contra Putin e, por tabela, contra a China também.

Related Post