A economia que “não tem provas, mas tem convicção”

Laura Carvalho na sua excelente coluna de hoje, na Folha, debruça-se sobre a interessante confissão contida na matéria do Valor Econômico onde ser afirma que “Sem endosso da realidade, economia se descola da expectativa“, a que chama de “quase lacaniana.

Para entender isso, basta lembrar a máxima de Jacques Lacan de que “os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”.

Vejam, não foram as expectativas que se descolaram da realidade, mas o inverso: a realidade, teimosa, que insiste em fugir àquilo de que tratamos em post anterior, com o vídeo de Bob Fernandes, a pós-verdade.

Laura recorda que:

Em 2011, o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman criou um personagem místico –hoje mundialmente conhecido– para ironizar a defesa do corte de gastos públicos como solução para a crise econômica. Krugman combatia a ideia de que, se os governos cortassem seus gastos, e só por isso, uma fadinha da confiança apareceria para recompensá-los com investimentos e gastos do setor privado, estimulando a economia.

Krugman, diz ela, insistia em que “a mera retórica e seu efeito sobre as expectativas não seriam suficientes para alterar o resultado de políticas, fossem elas equivocadas ou acertadas.” De uma maneira mais jocosa, o que se repetiu aqui quando há dias, afirmou-se que “os fatos desmentem a “retomada” econômica de “gogó”.

Volto ao texto de Laura:

Diante do ceticismo cada vez maior nos Estados Unidos e na Europa, a fadinha resolveu mudar-se para os trópicos, onde descobriu uma legião de fiéis. Aqui, o misticismo anda em alta mesmo com o fracasso retumbante do corte de gastos e investimentos públicos desde 2015 como forma de estímulo aos investimentos privados ou de estabilização da dívida pública.

Sem qualquer preocupação em transformar uma convicção ideológica em uma predição científica passível de refutação, a resposta é sempre de que, se não há sinais de retomada, é porque a política não foi realizada com vigor suficiente.

Diante do descolamento entre a confiança dos agentes e a economia real, opta-se por considerar que fatores inesperados fizeram com que a economia se descolasse das expectativas. Os crentes não admitem que as expectativas possam estar contaminadas pela retórica política, e que, sendo esse o caso, a economia não necessariamente vai obedecê-las.

Ou, nas palavras cortantes de Robert Skidelsky, que discordava e passou a concordar com a tese de Krugman, lembradas por Laura, como se ao “pular de uma janela, com a crença equivocada de que seres humanos podem voar, eliminaria o efeito da gravidade”.

Fernando Brito:

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  • Ontem assistindo à GloboNews, o tom da reportagem que analisava a queda do setor de serviços era exatamente esse: "As famílias AINDA não estão gastando, AINDA não estão fazendo novas dívidas", era sempre num enfoque no qual se lia que a realidade não está se adaptando ao cenário cor-de-rosa que a globo quer vender como vindouro. Fazia parecer que em breve isso aconteceria. Impressionante.
    No final ainda tentaram pinçar um indicador positivo aqui e acolá, mesmo que isso nem de longe caracterizasse uma tendência.
    E o próprio tom era dócil, sem caras zangadas, cenhos franzidos... Não preciso nem dizer como seria a mesma reportagem se a Dilma ainda fosse Presidenta.

  • As expectativas no Brasil hoje são de dois tipos: Os inteligentes que ganham muito dinheiro no mercado sabem que não há boas expectativas para o país mas fingem pensar o contrário porque o sistema rentista selvagem lhes é extremamente benéfico. Esses sabem que dentro de pouco tempo o país estará novamente aos pés do FMI, mantida a política contracionista da atividade econômica que sustenta única e exclusivamente o pagamento da dívida pública a níveis de juros estratosféricos. Sua política é muito parecida com a dos que derrubaram o governo eleito: quanto pior, melhor. E há o segundo tipo de expectativas, o dos idiotas de todas as áreas de atividades (incluindo economistas e a imensa maioria dos analistas econômicos na imprensa) que não entendem coisa alguma da economia real e das demandas reais, nem tampouco do efeito de políticas públicas importantes que estão sendo abandonadas. Há imbecis desse naipe que fundamentam suas "boas expectativas" apenas no fato de que "agora o governo tem maioria no Congresso e portanto consegue aprovar suas medidas". Sim, de fato, ali colocado pelo Congresso, o governo golpista tem seus votos no bolso. Mas que tipo de medidas podem e devem ser aprovadas é outra história, que essa gente não consegue compreender. Em resumo, o cenário é patético e grotesco para quem, como eu, acompanha economia, finanças e reviravoltas políticas há mais de 40 anos. Nunca dantes estivemos nas mãos de tantos idiotas e/ou malfeitores como hoje. É triste.

  • Em conversa com as pessoas me tem relatado as dificuldades que muitos pessoas de suas relações que possuem comércio, restaurantes, prestação de serviço estão passando. Várias falindo e fechando, o desemprego aumentando, muitos completamente endividados. Nesse país desde que o golpistas assumiram só se fala em crise. Pela previsão do mercado com arrecadação caindo com as exportações diminuindo vamos p/ buraco agravado por esse PAC do Temer que é um suicídio coletivo. Colocaram uns picaretas incompetentes no comando da nação e a Mídia coloca a cenou ra na frente do burro dizendo que brevemente ele será recompensado. O Brasil esta sendo destruído e vamos ter milhões de miseráveis até se darem conta da catástrofe que nos meteram.

  • Sem dúvida, as expectativas vendidas pelos apoiadores do impeachment davam conta que o segundo semestre de 2016 seria do início da recuperação econômica. E isso não está acontecendo. Sem dúvida, que as eleições americanas demonstram a necessidade de Estado para proteção dos menos favorecidos pelo sistema econômico. E o governo Temer não apresenta como tornar essa rede de proteção melhor no Brasil.

    Por outro lado, a Laura Carvalho defende uma saída keynesiana, com incremento de gastos públicos. Contudo, em 2014, ano de eleição, em que a economia foi turbinada com gastos imensos, o momento ainda era favorável ao PT, visto que Dilma foi eleita, e a Lava Jato ainda estava começando, tivemos uma estagnação, com crescimento pífio de 0,1%. Como explicar isso?

    Nem gastos públicos desenfreados, nem ausência de investimento governamental, o atual estágio da economia brasileira precisa ser melhor explicado.

  • O índice de confiança é uma farsa, simples assim. OU os entrevistados que foram usados para compor o índice são realmente, mas realmente otários.

  • Acho que são otários mesmo. Por todo lado só se vê empresas fechando. Descarrilharam o trem e agora ninguém sabe onde isso vai parar. Aliás, pessoas inteligentes e de bom senso sabem. Só os patetas aibda não perceberam o óbvio.

  • Isso que tai, ninguém em sã consciência pode acreditar. O TEMER é temerário, eu não ousaria falar o que verdadeiramente é e nem por isso ele deixa de ser. O GOLPE foi a maior irresponsabilidade que aconteceu neste país, não se para a uma das maiores economias do mundo e fica por isso mesmo, os brasileiros não merecem, os políticos que tem, não merecem o judiciário que tem e nem os empresários que financiaram o golpe junto com outros clubes as escondidas, isso foi o assassinato de uma nação em tempo real, jogar irmãos contra irmãos é um crime e isso deve ser punido exemplarmente.

  • E tem gente pensando que os eua elegeram o pateta. Ledo engano. Nisto o Brasil saiu na frente, e nem precisou se eleger. Foi ungido por um bando de PATETAS GOLPISTAS.

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