Em entrevista a blogueiros, Berzoini defende democratização da mídia

O ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Relações Institucionais, incluiu ontem, em sua agenda oficial, “um encontro com blogueiros e imprensa alternativa”.

O ministro, de início, sofreu quase um bullying dos blogueiros, ansiosos em entender porque o governo não dá um sinal positivo para a regulamentação democrática da mídia.

Ele disse concordar que há necessidade desta regulamentação, por razões de ordem democrática e também econômica. Ele enfatizou a importância da indústria da mídia, em termos de geração de renda e empregos. É uma abordagem inteligente, porque foge da armadilha ideológica que a direita tenta criar a todo instante, e convoca agentes, inclusive puramente capitalistas, interessados em lucrar com um processo de desconcentração econômica do setor.

As dezenas de bilhões de reais concentrados em mãos de meia dúzia de nababos, se distribuídos, poderiam adubar um “ecossistema” econômico muito mais variado, mais complexo e mais democrático. A palavra ecossistema foi usada pelo ministro.

Berzoni lembrou, contudo, que a regulamentação da mídia é um processo que precisa ser construído na sociedade.

Mais bullying, merecido, em cima do ministro.

Vários blogueiros e jornalistas disseram ao ministro que o governo não poderá continuar fugindo do debate usando esse argumento. Ele precisa tomar posição, dissemos quase em uníssono, e fazer jus ao papel de liderança que a sociedade lhe outorgou, quando votou na presidenta.

O ministro insistiu, porém, que propostas como essas precisam ganhar apoio popular, sobretudo porque o Congresso não tem um perfil simpático a esse tipo de mudanças. Berzoini estima que a esquerda tem apenas uns 120 deputados, numa Câmara com 513.

Ele deixou bem claro, porém, que ele, Berzoini, será uma força dentro do governo em prol de uma regulamentação democrática da mídia.

Berzoini admitiu que entrou no governo para “endurecer o jogo”, para usar as palavras de um blogueiro presente, e que receberam um gesto de assentimento do ministro. Isso quer dizer que ele entrou mesmo para dar uma injeção de política num governo cujo maior defeito é o excesso de tecnicismo.

Uma das suas funções é convencer – com argumentos políticos –  a burocracia dos ministérios, por exemplo, a destravar emendas parlamentares e projetos importantes para o país. Ele deu a entender que, a depender da burocracia, fica tudo paralisado.

O ministro falou das diferenças entre Lula e Dilma. Lula tinha um estilo mais intuitivo, generalista. Dilma é muito mais cartesiana e racional, e detalhista. Há vantagens e defeitos em ambos os estilos. O intuitivo é ágil e veloz, mas erra mais. O detalhista é lento, mas corre menos riscos.

Berzoini revelou-se um político ao estilo clássico, aquela pessoa que fala o que você quer ouvir, e que parece defender o que você mesmo defende, mas quando você volta para casa e reflete com calma no que foi dito, percebe que ela não se comprometeu com absolutamente coisa alguma.

É um jeito de ser de quase todo político tradicional, mas não é necessariamente um defeito. Talvez seja porque um político tradicional, numa democracia, entende que ele até pode ser o aríete que derrubará o portão da fortaleza inimiga, mas são as pessoas que deverão segurar e manipular esse aríete.

Um politico do campo popular poder ser uma arma do povo, mas o povo é que tem de puxar o gatilho.

O ministro deixou bem claro que o governo precisa que a sociedade se organize em prol das reformas, porque, sozinho, o governo não terá forças para fazer nada. Movimentos sociais, sindicatos, partidos, todos têm que se mobilizar mais.

Berzoini disse ainda entender que a reforma política deveria ser debatida paralelamente a uma nova regulamentação da mídia, porque são coisas que se comunicam.

Confrontado sobre os recuos constantes do governo, em vários aspectos, Berzoini rebateu que a correlação de forças é uma realidade. “Não posso vender ilusões. Eu tenho que mostrar a vocês a vida como ela é”, explicou, lembrando que não há mar de rosas em lugar nenhum do mundo. Na Argentina, na Venezuela, onde os governos tem um perfil mais de confronto, a situação também não está confortável. Lembrou ainda os recentes resultados das eleições para o parlamento europeu, em que se viu um avanço da direita.

Berzoini tentou passar para nós a imagem de que o governo tem uma orientação autenticamente progressista, de esquerda, mas que permanece engessado por uma correlação de forças às vezes muito desfavorável, sobretudo no Congresso Nacional.

Reclamou ainda do Tribunal de Contas da União, que se tornou, segundo ele, um órgão partidário, de oposição.

Ele revelou a existência de um “núcleo político” duro no governo, que costuma se reunir nas noites de domingo e segunda-feira.

(Atualização: Berzoini não usou o termo “núcleo político duro”. Ele apenas disse que tem um grupo que se reúne para discutir política.)

Ele e Franklin Martins integram esse grupo. Franklin está sendo ouvido atentamente por Dilma, quase como se fosse um ministro de Estado, o que é um excelente sinal para os ativistas que lutam pela democratização da mídia. Outros que integram o grupo seriam Miriam Belchior, Mercadante e Mantega.

Algumas decisões importantes recentes, como o discurso da presidenta no primeiro de maio, e a última propaganda do PT, que alerta a população sobre os riscos de um retrocesso, nasceram dessas reuniões.

Estavam presentes: eu, representando o Cafezinho e o Tijolaço (o Fernando não pode ir); Renato Rovai, da Forum; Paulo Nogueira, do Diario do Centro do Mundo, que mora em Londres mas está passando uma temporada no Brasil; Eduardo Guimarães, do blog da Cidadania; Conceição Oliveira, do blog da Maria Fro; Paulo Salvador, da TVT; Vagner Nabuco, dono da Caros Amigos; Renata Mielli, do Barão de Itararé; outro rapaz da TVT; um amigo nosso da Mídia Ninja; e uma ou outra pessoa que eu não conhecia.

A entrevista foi gravada pelo Rovai, mas não sei se o áudio ficou legal. Talvez consigamos disponibilizar uma parte na internet.  Ainda vou escrever outros posts sobre essa entrevista.

Fernando Brito:

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  • BLACK BLOC BUSCA APOIO DO PCC POR "TERROR NA COPA"
    :
    Que os Black Blocs prometem levar o caos na forma de protestos contra o Estado durante a Copa do Mundo já não é mais novidade; mas, agora, para poder "tocar o terror", eles estão buscando apoio junto ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que domina os presídios de São Paulo e comanda o crime organizado de dentro das prisões; segundo os líderes dos Black Blocs, não está em curso a formação de uma aliança, mas uma soma de esforços em comum; o Estado irá tolerar essa parceria?
    31 DE MAIO DE 2014 ÀS 19:28

    247 – Não é de hoje que os ativistas do Black Bloc prometem levar o caos na forma de protestos contra o Estado durante a Copa do Mundo. O detalhe é que agora eles estão buscando um apoio inusitado, junto à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que domina os presídios de São Paulo e comanda o crime organizado de dentro das prisões. Segundo os líderes do movimento Black Bloc, não está em curso a formação de uma aliança, mas a expectativa é um somatório de esforços em comum.

    “Não temos aliança nem somos contra o PCC. Só que eles têm poder de fogo muito maior do que o MPL (Movimento Passe Livre, que iniciou as manifestações, há um ano, com ajuda dos Black Blocs). Pararam São Paulo”, disse uma das lideranças do Black Bloc em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. Segundo ele, quando integrantes do movimento foram presos durante por participarem de manifestações violentas no ano passado, líderes do PCC teriam se solidarizado com eles durante o tempo em que permaneceram nos presídios paulistas.

    De acordo com este membro do Black Bloc, “o caos que o Estado tem colocado na periferia, por meio da violência policial, na saúde pública, com pessoas morrendo nos hospitais, na falta de educação, na falta de dignidade no transporte, na vida humana, é o caos que a gente pretende devolver de troco para o Estado”. “E não na forma violenta como ele nos apresenta. Mas vamos instalar o caos, sim. Esse é um recado para o Estado”, complementou.

    Conhecidos por irem às manifestações mascarados, usando roupas pretas, os black bloc depredam diversos estabelecimentos em suas manifestações. No entanto, de acordo com a socióloga espanhola Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora dos black blocs, há uma distorção nessa atenção dada às depredações. “Um país que naturaliza tanto a sua violência não tolera ver a violência na Avenida Paulista”, afirma. Por sua vez, o ativista complementa: “No Brasil, choca mais 14 bancos quebrados do que a polícia matar 6 crianças”.

    O PCC foi responsável por uma das maiores ações criminosas desferidas de forma simultânea em vários pontos do país. Os ataques começaram no dia 12 de maio de 2006, em São Paulo, e se espalharam rapidamente por outros estados como Espírito Santo, paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. Em menos de 24 horas foram registrados 251 ataques contra as forças de segurança, órgãos públicos, instituições financeiras, ônibus, dentre outros alvos. Também ocorreram mais de 70 rebeliões em presídios e delegacias.

    O Governo Federal diz estar pronto para garantir a segurança durante a realização do mundial. Ao todo, teriam sido investidos cerca de R$ 1,9 bilhão no aparato de segurança que será utilizado durante a Copa. O esquema contará com 157 mil agentes de segurança e das Forças Armadas. Nas cidades-sede, funcionarão 27 centros integrados de comando e controle móveis, que ficarão próximo aos estádios e das Fan Fest.

    Haverá, ainda, 12 centros integrados de comando e controle locais, nas arenas. Serão mobilizados, também, 24 aviões Super Tucano, 47 helicópteros, 29 aeronaves de apoio, dez caças F-5 e três aviões radares, além de outras ações que envolvem tecnologia e os serviços de inteligência.

    Confira aqui a matéria publicada pelo Estado de São Paulo. USCA APOIO DO PCC POR "TERROR NA COPA"

    • E com apoio indireto da mídia, haja vista a afirmação do Ronaldo para o uso da violência.

  • O que tem que acabar, como fez Cuba e Venezuela, é gasto de recursos públicos de qual

  • É necessário o governo fazer um discurso contra a Globo e nominá-la diretamente. Pois o problemas são os Marinhos, que têm mais de 60% da verba publicitária no país.

    O resto nem conta, é tudo satélite. Fazendo um discurso contra a concentração da Globo, quem sabe ganhe a simpatia de outros veículos de comunicação, que acabam se prejudicando com a atual distribuição de verba publicitária.

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