Eu escrevi sobre isso em maio, mas como a Folha publica hoje que o “Leilão (do campo de Libra) faz Petrobras buscar acerto com a China”, acho útil voltar ao assunto e explicar porque, com tanta certeza, se antecipou aqui que haveria um acordo entre a estatal brasileira e os chineses, através da Sinopec que, aliás, já tem um acordo de cooperação com a Petrobras desde 2009, firmado quando da viagem de Lula a Pequim.
Qual é, para o Brasil, a vantagem da Petrobras se consorciar com os chineses, em lugar dos americanos ou ingleses? Não dá no mesmo? A sociedade não é igual, inclusive nos riscos sobre a nossa soberania sobre a maior reserva de petróleo entre as descobertas recentemente no mundo?
Não.
Para entender isso, é preciso entender o que cada um quer, quando vem para cá. Todos têm interesses, todos querem vantagens.
Mas, quais?
Para as multinacionais – embora tenha, pelas dimensões um valor especial – Libra é mais um negócio. Mais lucrativo, pela escala, menos lucrativo, pelas condições da concessão. O barril de petróleo de Libra, para eles, vale tanto quanto qualquer outro barril de petróleo extraìdo pelo mundo afora.
Para os chineses, o interesse -embora também participem do mercado de óleo – tem outra natureza: a estratégica.
A China, que tem reservas de petróleo semelhantes às do Brasil (antes do pré-sal) em volume, tem quase o quádruplo de consumo. Suas necessidades de importação são imensas e dependem em mais da metade do Oriente Médio, por mais que tentem diversificar com compras na África, na Venezuela e no Equador (com estes dois últimos, acaba de emprestar US$ 5,2 bilhões para que aumentem suas produções).
Ora, qualquer leitor de jornal sabe que o Oriente Médio., além de instável, é área sob o controle geopolítico norte-americano. E que, se os EUA não hesitam em usar armas por aquele petróleo, menos ainda hesitarão, se necessário, em usar aquele petróleo como arma.
Por isso, ter acordos de fornecimento seguro, hoje e no futuro, com sistemas de preços médios que previnam picos e que garantam seus planos de suprimento energético – para a indústria e para o crescente consumo em eletricidade e combustível automotor – é muito mais importante para os chineses que o mercado do dia a dia do petróleo.
E nós, o que temos a ver com isso?
Temos é que os chineses estão dispostos a pagar por essa segurança de fornecimento.
Muito mais que participar dos lucros econômicos com o petróleo de Libra, lhes interessa ter a garantia de poder comprá-lo. Seu primeiro objetivo é assegurar o seu abastecimento, não os ganhos de capital.
O aporte de capital que se dispõem a fazer, de bom grado aceitam amortizar em compras futuras. Ou seja, colocar dinheiro para extrair petróleo em troca de comprar petróleo, claro que com cláusulas que assegurem preços medianamente estáveis.
Ainda assim, o negócio não terá as características descritas pela Folha. O chineses não terão – e nem querem ter – controle sobre o consórcio vencedor, e é por isso que haverá, provavelmente, a entrada da estatal norueguesa Statoil no grupo, para criar um sistema de freios e contrapesos.
Em qualquer condição, a brasileira será a empresa-líder do consórcio, com algo na faixa de 40 a 60% do seu capital, embora com parcela menor no desembolso da fatia do bônus que a ele couber e no fluxo de investimentos pré-produção – de cinco a oito anos para se dar em escala significativa.
No bolo total, contando com os 30% que, pela lei, serão obrigatoriamente seus, a Petrobras deverá ter perto de dois terços do controle de Libra (30% mais metade dos outros 70%, 35%, o que perfaz 65%).
Esse é o lance que as multinacionais terão de cobrir para superar os chineses e, de qualquer forma, sem ter o controle operacional do campo.
Mas precisamos de estrangeiros para que, se a Petrobras não apenas possui a tecnologia para explorar o pré-sal como é a lider mundial nestes conhecimentos?
Precisamos não por isso, mas porque a exploração do campo de Libra, durante os 35 anos de concessão por partilha, vai exigir entre 70 e 110 bihões de dólares, dois terços deles na primeira década de implantaçao e desenvolvimento. Dificilmente conseguiriamos reunir sozinhos tudo isso rapidamente e isso atrasaria a apropriação, pelo paìs, de um imenso valor em óleo. E isso pode ocorrer sem que tenhamos de entregar nosso controle sobre o petróleo e a maior parte dos lucros com sua comercialização.
O script do leilão de Libra está cuidadosamente desenhado pela Petrobras, a quem os 30% “natos” deram um imenso poder de barganha. Por isso, que ninguém se supreeenda se alguma multinacional vier pegar uma pequena fatia de um consórcio pluriestatal liderado pela Petrobras.
Cinco por cento, quando se trata de algo em torno de 10 bilhões de barris de petróleo, é algo capaz de arregalar os olhos de qualquer um.
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Apenas um teste para saber se serei publicado.
Há muito que venho querendo fazer comentários às suas excelentes matérias, melhor diria, à sua luta sem tréguas pela igualdade social.
Diminuir a taxa Selic em uns 2pontos arrecadaria os 110bilhões, rsrsrsrs.
é muito limitada.
O petróleo e a educação.
é muito limitada.
A Marina deve se recolher à sua insignificância. Fala pelos cotovelos. Como Ministra do Lula, travou tudo. Se não fosse demitida à época, acho que o Brasil estaria bem pior.