Em que economia Paulo Guedes vai mandar?

A Fundação Getúlio Vargas deu hoje mais dois índices de confiança e expectativa, completando os do comércio e do consumidor: o dos serviços e da construção civil.

O dos serviços caiu 31,7 pontos em abril, chegando a 51,1 pontos, atingindo o menor nível da série histórica iniciada em junho de 2008. Desde janeiro, baixou de 45,1 pontos de um valor de 96,2 pontos (100 é o “neutro”). Os serviços , recorde-se, representam mais de 60% do PIB brasileiro.

Na construção civil o impacto também é terrível. O índice desabou 25,8 pontos, ficando em apenas 65, também recorde negativo histórico.

“Em abril, houve uma piora abrupta e sem precedentes no ambiente de negócios da construção: os empresários apontaram redução em suas carteiras de contrato, mais dificuldade no acesso ao crédito e queda da atividade. As perspectivas de queda na demanda nos próximos meses derrubaram o otimismo empresarial dos primeiros meses do ano. Vale notar que nem no pior momento da crise de 2014-2018, que reduziu em 30% o PIB setorial, os empresários se mostraram tão pessimistas. Essa percepção negativa dos empresários não poupou nenhum segmento da construção”, observou Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE”.

Em algum momento do futuro – e nem tão próximo, já se percebe – vai haver uma recuperação, claro, mas muito longe do “V” que, tolamente, previu ontem o ainda ministro da Economia Paulo Guedes, ao receber nova e falsa “carta branca” para gerir a economia que, segundo ele, “já estava decolando” quando veio a pandemia.

Poupo o tempo e os argumentos para o que, para sermos gentis, em lugar de mentiras podemos chamar de autoengano do ministro.

Mas é completamente irreal que seu incorrigível fiscalismo, a obsessão por cortes de gastos, a recusa em entender que coisas que já não davam resultado antes agora são impensáveis, como uma “invasão de investimentos estrangeiros”.

Ao mesmo tempo, a queda da atividade econômica para além do período da pandemia é mais que certa e, com isso, a ponta da receita pública vai encolher por longos meses, talvez mais de um ano.

Não há máscara capaz de deter a contaminação de longo prazo para a economia, mas Guedes sonha com alguma cloroquina do capital privado, quando há um século se sabe que é o investimento estatal a penicilina para as recessões.

 

Fernando Brito:

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