Empresários pagam anúncio pró-golpe. Que não tem voto tem dinheiro, e vice-versa

Na coluna de Jorge Bastos Moreno, em O Globo, a notícia de que “lideradas pela Fiesp, centenas de entidades da indústria, comércio, serviços e agricultura assinam e publicam amanhã – dia da reunião do PMDB que vai decidir pelo rompimento com o governo – nos principais jornais do país anúncio de sete rodapés sequenciais duplos defendendo o “impeachment já”.

Claro está que o cabeça é Paulo Skaf, que com todo o dinheiro que o empresariado paulista pôs em sua candidatura ficou com 20% dos votos em São Paulo e agente de Michel Temer em terras bandeirantes.

Se os sindicatos de trabalhadores pagarem um anúncio contra o golpe, claro, estarão fazendo política com o dinheiro do imposto sindical. É a história do filé-pode, mortadela é crime.

Mas não é novidade empresário apoiando ditaduras ou pré ditaduras. No destaque da foto, o anúncio do Sindicato das Indústria de Máquinas do Estado de São Paulo, publicada na revista O Empreiteiro, nos anos 70. O “hippie” cabeludo ilustra a ideia do “não reclame, trabalhe”.

Ele foi reproduzido num artigo do professor Pedro Campos, já citado hoje aqui,sobre a promiscuidade entre as empresas – empreiteiras, sobretudo – e o regime autoritário no Brasil, do qual reproduzo um trecho:

“No ano passado, defendemos nossa tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação de História da UFF, intitulada “A ditadura dos empreiteiros: as empresas nacionais de construção pesada, suas formas associativas e o Estado ditatorial brasileiro, 1964-1985”. A pesquisa será lançada em breve em forma de livro e o título deve ser: “Estranhas Catedrais: os empreiteiros e brasileiros e a ditadura civil-militar, 1964-1988”. Nosso estudo tentou investigar a participação e o empenho dos empresários brasileiros da construção civil no regime instaurado em 1964. Partíamos de questões atuais, como o pronunciado porte e poder detido pelos maiores grupos nacionais de engenharia, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Cogitamos inicialmente que talvez encontrássemos a resposta para a origem da consolidação desses grupos durante a ditadura, com seus vultosos projetos de infra-estrutura. De certa forma, nossas hipóteses iniciais se confirmaram com o desenrolar da pesquisa. Durante a ditadura, uma série de grandes empreendimentos de engenharia, aliado a políticas protecionistas de defesa e impulso do setor de construção pesada fizeram com que as empreiteiras brasileiras se tornassem grandes grupos econômicos, atuando em importantes projetos de infra-estrutura e desenvolvendo tentáculos para outros ramos econômicos, além de desenvolver atividades em outros países do mundo. Tudo isso com ampla defesa e incentivo estatal.

Além disso, conseguimos perceber com a pesquisa que os empreiteiros não só foram beneficiários das políticas públicas durante a ditadura. Eles também cumpriam diversas posições-chave no aparelho de Estado, tendo representantes de seus interesses em cargos importantes no aparato estatal após 1964. Mesmo as práticas de terrorismo de Estado contaram com o apoio desses empresários, como a Operação Bandeirantes (Oban) em São Paulo, que, liderada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, fez uma caçada sobre grupos da esquerda armada, prendendo, torturando e assassinando guerrilheiros. No caso, empresários ligados à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e ao ministro Antonio Delfim Netto contribuíram com a “caixinha” da Oban, sendo que dentre eles estava Sebastião Camargo, dono da Camargo Corrêa, então maior empreiteira do país. Não à toa, Camargo era um dos alvos principais para a ação de “justiçamento” da Aliança Libertadora Nacional (ALN), grupo da guerrilha urbana que acabou escolhendo e assassinando Henning Boilesen, empresário que além de contribuir com a Operação Bandeirantes gostava de assistir às sessões de tortura.”

A liderança do segmento empresarial no Brasil, que lucrou como nunca nos anos de prosperidade com Lula, não se incomoda de apoiar a volta dos que, em sucessivos governos, afundou e faliu o país.

É que sua mente não consegue ver um só país e um só povo.

Preferem ser feitores de escravos na colônia do que líderes empresariais de um país livre e justo.

Fernando Brito:

View Comments (21)

  • Neste país, empresário é suspeito até que prove que não sonega e que não tem contas lá fora.Podem estrebuchar unidos. Na urna perdem e se tentarem o golpe vai ter sangue ao que tudo indica.Haverá forte reação. Quadrilhas não podem unidas, como um sindicato do crime, destituir governos eleitos.

  • É o mínimo que se espera de quem investe e produz neste país. Sem empresas, o que seria do país? Um bando de funcionários públicos e recebedores de bolsa pagos com qual dinheiro, já que não haveria quem gerasse emprego, riqueza e impostos. O que não pode são as pessoas mais produtivas e lúcidas do país (sejam elas empresárias, profissionais liberais ou empregados conscientes) continuarem dominadas pela ditadura de uma minoria desonesta e corrupta que recebeu a melhor situação que este país já teve e a transformou na sua pior recessão e numa dívida pela qual pagamos 500 bilhões de juros anuais. Basta! Chega da ocupação petista! Os brasileiros querem seu país de volta!
    De quebra, esse manifesto lembra que os deputados traidores, que votarem contra o Brasil e a favor da gang, terão que se explicar com a grande massa e com esses eleitores mais qualificados, principalmente se a absurda proibição das empresas apoiarem candidatos legalmente for revertida.

    • Ernesto, meu garoto, qdo Dilma reduziu a selic para 7,5% seus ídolos estrebuchar de raiva, lembra?

      • Puxa, que fácil viver neste mundo infantil onde tudo depende da "vontade politica". A Dilma decidiu baixar, foi lá e pronto. Você já se perguntou por que, se era só querer, ela não baixou para 1%? Ou, por que ela não pagou a dívida de um vez? Peraí, essa resposta eu sei, é porque gerar superávits fiscais é um política neoliberal que não combina com um governo voltado para os pobres. Acertei? Governo socialmente comprometido é aquele que incha o governo e deteriora seus serviços enquanto faz a dívida saltar para 3 trilhões e os juros para mais de 500 bilhões anuais. Deve ser assim que se ajuda os pobres, comprometendo as receitas futuras para pagar a dívida deixada pela herança maldita do desgoverno do PT.

    • Se alguma dúvida ainda persistir que o tal Alisson é pau mandado (e pago) tucanóide, esse final do seu comentário é esclarecedor: "...se a absurda proibição das empresas apoiarem candidatos legalmente for revertida". Vejam bem até onde vai o reacionarismo do energúmeno. Eu quero ver você e a escumalha da fiesp reverterem a decisão histórica do STF.

      • Decisão absurda e antidemocrática do STF aparelhado. As empresas têm todo o direito de apoiar candidatos que defendam temas do seu interesse (que é também o interesse do país), como simplificação tributária. A proibição ajuda aos desonestos, que fazem acordos com empresas igualmente desonestas e recebem dinheiro por baixo dos panos. E aos que desviam verbas através de sindicatos e ONGs aparelhadas. Ou seja, só ajuda a gang que está por ser defenestrada.

    • Apoiarem legalmente e sem interesses escusos? Tu realmente acreditas nisso? Tá explicado...

  • Meus comentários são mais do mesmo. Não tenho dúvidas que pessoas mais qualificadas e conhecedoras do assunto em maior profundidade, tem muito mais a oferecer a todos que busquem.

    Porém, hoje, fiz um comentário dentro do post "Alguém manda recado a Cunha pela Veja: providencie um golpe cheiroso. Dior, Channell" , onde digo: "o Brasil tem um câncer – A pior elite do planeta". Algo muito próximo do encerramento desse post: "Preferem ser feitores de escravos na colônia do que líderes empresariais de um país livre e justo."

    Não tenho qualquer expectativa que essa turma da Bufunfa, estúpida até os ossos, queira ao menos ouvir ideias que impliquem em autodeterminação, independência, valores próprios. Essa galera ainda se lambuza em perfume "importado" e não toma banho, bebe uísque - a "cachaça" da europa - para se diferenciar, veste terno e gravata - num país tropical - para mostrar que é elegante.

    Promovem um golpe para que tudo fique onde está e os poucos avanços obtidos na última década, além de direitos trabalhistas consolidados na década de 60, seja apagados.

    Vamos propor um plebiscito:
    1 - Tudo na mesma;
    2 - Separa e quem quiser ficar com o projeto neoliberal se associe a SP e aqueles que preferem a esquerda sigam o Norte/Nordeste/Centro-Oeste e quem mais quiser vir junto.

  • A FIESP deveria se envergonhar de ter um "empresário" falido como presidente de sua agremiação. O presidente da FIESP deveria ser, na verdade, presidente de outro grupo, o MSI - Movimento dos Sem Indústria.

  • no brasil essa turma do golpe da direita facista branca , sempre foi assim , nos na nossa imbecilidade que acreditou que nao existia mais facismo , ditadores e golpista. sempre existiram , nunca deixou de ser e sempre vai haver gente desgraçada dessa laia. e nunca vai haver conciliaçao sem vergonha de classe, porque rico sempre vai odiar pobre e vai gostar de pobre na hora que estiver os explorando. fora isso , é dai para pior e no brasil é ainda 500 vezes pior. nos é que enfiamos a cabeça no buraco igual a avestruz e deixamos de ver a realidade. a realidade é essa ai e ainda pior.

  • São os mesmos que apoiaram a ditadura, os mesmos que apoiaram e financiaram a tortura, os mesmos que apoiaram e financiaram assassinatos, os mesmos que se locupletaram e sonegaram impostos ,que são contra programas sociais, que não investem em inovação, são contra cpmf que pega sonegadores. Mas são a favor de mamar muito nos governos e é isso que querem com o governo do Cunha

  • O senhor Paulo Skaf, que está a frente da FIESP a mais de uma década, é uma síntese/exemplo do empresário brasileiro. Não produz ou cria qualquer coisa, vive do dinheiro público (Sistema S) e mesmo sendo um falido, adora dar lições de governanças.

  • Uma nação moderna como a que ainda tentamos construir não admite monopólios, cartéis e lucros pornográficos como são os lucros das empresas no Brasil.
    Os grandes empresários de São Paulo e do Brasil gostam de lucros estratosféricos e de pagar salários miseráveis, sempre culpando os impostos que a maioria não paga, frauda.

  • Hoje me veio a memória os deputados justificando o voto no processo de impeachment do Collor. Alguns diziam: Pela moralidade, pela pátria, por isso ou por aquilo. Fico imaginando os deputados de hoje na votação do golpe da Dilma o que estará passando na cabecinha de deles. A grande maioria dirá pra si mesmo. Pelo fim da Lava Jato, pela salvação da minha pele, pela continuidade da corrupção, para que o pobre se exploda, voto SIM Excelência(Eduardo Cunha é a excelência) pelo impeachment. Que maravilha. Do jeito que o diabo gosta.

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