Pode ter começado ontem à noite – tomara – uma rearticulação política que ponha freio à escalada golpista que o país assiste, já nem tão nas sombras.
Claro que o desembestar do dólar e os sinais mais que negativos da economia ajudaram, mas o que fez, mesmo, reverterem-se os placares acachapantes registrados em outras votações, sobretudo a Câmara, foi a retomada mínima da capacidade de articulação com o PMDB, sem o qual se dissolvem, quase todas, as rebeliões em outros partidos aliados.
Colocar “a cabeça de fora” quando não se está no meio de muitos é ato que boa parte dos parlamentares evita e sem a multidão peemedebista para acompanha-los, ela não o fará. ao ponto em que a oposição, em algumas votações, nem sequer atingiu 100 votos no plenário da Câmara.
Haverá, certamente, um preço político a pagar. E pesado.
Teme-se que o maior deles, politicamente, seja maior do que o de ceder ministérios ao PMDB, o de que a Presidenta silencie (isto é, não sancione nem vete) o dispositivo da reforma política que proíbe o financiamento privado das campanhas políticas. Isto é, que deixe para que o próprio Congresso o promulgue e, depois, que o Supremo o derrube.
O risco de que isso represente restabelecer o dinheiro privado nas eleições é minúsculo, até porque a reforma política (que não reforma quase nada, aliás) é lei e não a Emenda Constitucional que Eduardo Cunha fez votar até ser aprovada. Esta dificilmente passará no Senado e tem alguma possibilidade de criar problemas no Supremo, ainda que os fundamentos da decisão da semana passada refiram-se a princípios constitucionais de revogabilidade impossível.
Mas será, claro, uma imensa afirmação de poder de Eduardo Cunha, algo do qual ele precisa desesperadamente a poucos dias de ser votada a admissão de seu processo no Supremo.
Do lado oposto, será também praticamente o sepultamento das iniciativas de “impeachment” até (e se) fatos novos vierem a acontecer. E a afirmação permanente da soberania popular não é apenas um momento vazio de afirmação de poder, é essencial para nossa caminhada dura até sermos uma nação.
Não se trata de gostar ou não ou raciocinar com o mundo ideal, mas de fazer a política como ela é. Sem deixar de fazê-la como deveria ser, porque precisa-se voltar a olhar para a frente e isso não se pode fazer quando se tem de baixar os olhos para cruzar a buraqueira que se deixou abrir.
Teremos um rápido e nem tão grande alívio, na política e na especulação financeira. Pequeno, mas essencial para conter o quadro de degradação acelerada em ambos.
Que o duro e frustrante exercício da política, ao menos, nos prepare (ou nos restaure) para entender que sem comunicação com a população, sem apontar os conflitos que teremos de viver e, sobretudo, de saber conviver com as lamas da realidade sem lambuzar-se nelas.
E que saibamos suportar até 2018.
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É isso, Brito. Sem tirar nem por.
Um abraço
Faço minhas as palavras do Milton.
Dilma não manda mais nada, é fraca, fantoche.
Quem domina tudo é o PMDB.
Fabio, não tem essa de mandar.
Ela governa com esse congresso que elegemos.
Bom dia,
já passou de hora de ir para o choque, o governo tá hibernado como o Mercadantes, sonolento. O PT não pode dormi no ponto, hora de renovar nosso quadro políticos com sangue novo que ponha a cara na rua e que apoie Lula. Mas essa vitória custou algo que são os ministérios, chega de partidos mandar nesse país.
Correto, Brito!
Se esse cenário se confirmar, vão-se os anéis, mas ficam os dedos.
Por anéis, a soberba de Dilma.
Por dedos, a população que sofrerá menos até 2018.
Resta saber quem se refrescará nestas águas,esse congresso não da ponto sem nó.
Será realmente que o governo tem motivos para comemorar? Tenho minhas dúvidas, visto que até oposicionistas votaram a favor do governo. Vale destacar a entrevista do senador Collor, independente de qualquer opinião a respeito da pessoa. Collor disse que, caso seja instalado o processo, não terá mais como ser parado, terá vida própria. Disse ainda que se enganou a respeito da Dilma, achando que ela fosse uma pessoa capaz e depois viu que se tratava de alguém sem nenhuma condição de ser presidente e que as decisões eram tomadas sem o menor planejamento, citou como exemplo o que foi feito no setor elétrico. Um governo moribundo com esse falta somente a bala de prata.