Entrevista com Lula deu saudades do Roberto D’Ávila gentil

Conheço e reconheço Roberto D’Ávila como um homem gentil.

Não apenas no seu comportamento pessoal, mas muito especialmente no exercício de seu ofício de entrevistador.

Sempre foi, aliás, sua melhor estratégia para obter grandes declarações dos que foram personagens de seus programas: a delicadeza estabelecia um clima de confiança e um relaxamento que baixavam guardas, soltavam línguas e produzia revelações e grandes frases.

Ele pró´rio, ao relatar as dificuldades de trabalhar com Brizola no Rio de Janeiro, onde o ex-governador “era brifado com todo mundo”, disse: “eu não sou de guerra, eu sou de paz”

Estou assistindo sua entrevista com Lula e não posso deixar de dizer que não o reconheci.

O tom de deboche em relação a Dilma, a interrupção hostil, o “fernandismo” permanente, nada disso era necessário.

Desnecessário e contra-producente, porque certamente a intenção de Lula e usar uma entrevista que tinha tudo para ser em tom ameno – e não de amenidades – para dizer o que não podia dizer nas oportunidades que tem de falar, sob a ponta de faca da imprensa.

O “autoelogio” de Lula que se critica na primeira parte da entrevista não podia ser diferente, por uma postura que parece que a mídia quer impor, a de um “pedido de desculpas” absolutamente impensável em quem comandou um período tão bem sucedido da história brasileira.

A questão sobre Henrique Meirelles, por conta do “manda nela-não manda nela”, não se prestou a tirar de Lula seu pensamento sobre as necessidades do país em matéria de política econômica. Usar um “ah, pera aí…” diante de uma resposta de um ex-presidente não é exatamente o que estimula o entrevistado a falar.

Só no final, na pergunta sobre o filho, Roberto foi gentil, até porque já viveu, por conta de amizade com filhos de ex-presidentes – o que nada tem de errado, diga-se logo -, a situação de “suspeita prévia” em que vivem, merecida ou imerecida.

No nosso convívio, embora não tenha existido amizade, sempre houve respeito, como estou tendo aqui, embora certa vez ele tenha me atribuído “culpa” por uma radicalização de Leonel Brizola, o que é uma absoluta impossibilidade de um guri “fazer a cabeça” de alguém com tamanha trajetória e experiência.

Talvez Roberto tenha tido receio do massacre que se abateu sobre Jô Soares, pelo tom descontraído de sua entrevista com Dilma. Pena, porque com todas as diferenças havidas entre nós, sempre admirei – até por minhas insuficiências – o que o estilo gentil de D´Ávila era capaz de produzir jornalisticamente, desde que o acompanhava no Abertura, do querido Fernando Barbosa Lima.

Sobretudo, nestes tempos de cólera que vivemos, tenho pena pela oportunidade que se perdeu.

PS. Duro de assistir está o “Tribunal da Globonews”, onde se faz a “exegese” da entrevista. 

Fernando Brito:

View Comments (50)

  • CPMF e veto ao aumento real dos aposentados. O Lula não será eleito em 2018.

    • Então ninguém será eleito em 2018, se esse for o critério. A não ser que as pessoas queiram se arriscar com o PSOL.

  • Boa noite,

    concordo com o texto referente a Roberto Dàvila como entrevistador e a GLOBO NEWS COMO INFERNO. Parece mulher que perdeu o marido para a amante e não para de reclamar e falar mal.

  • Também estranhei. Cortava toda hora a fala do Lula, não o deixava completar o pensamento que queria expor, como quando falou do Pronatec - "é, mas agora está ruim..." (ou coisa parecida). Fez uma reciclagem na escolinha da Globo, junto com os outros entrevistadores amestrados, que se posicionam contra qualquer um ou qualquer coisa que se relacione com Lula-Dilma-PT. Mostrou ignorância (ou má-fé) quando quis responsabilizar somente os Presidentes pela falta da Reforma Política, como se dependesse somente deles. É... sem pagar, o Congresso não vota... lembra da emenda da reeleição?...

  • Pois eu nunca confiei NESSE CANALHA.Mesmo quando trabalhou com o Dr.Leonel,nem sei como,sempre foi PUXA SACOS DE RICOS.Não passa de mais um JORNALISTA CANALHA,como de resto,é a quase totalidade.Raros,os que não são.

  • Também já admirei o entrevistador D'Ávila, mas já faz muito tempo. Hoje, perdi a paciência contra a famigerada Globonews que evito, hoje foi uma especial ocasião, por causa de Lula. . Mas, o que me deixou pasma foi a petulância do entrevistador agindo como menino de recado de FHC para propor um debate entre O príncipe(sic!) e o operário. Lula foi rápido, dizendo que não via sentido num debate para propor soluções para o Brasil em nome de quem não solicitou, no caso, Dilma. E sugestões qualquer um pode fazer, os partidos podem fazer, os congressistas podem também. Os tucanos e a oposição em geral estão mesmo perdidos, a eleição já acabou e a próxima é só em 2018.

  • O cenário era com o fundo negro, nunca visto antes. Sempre eram salas chiques, bibliotecas, jardins...

  • Ingenuos do tijolaço por favorrrrrrr,o lula foi de vaca pra tóuro nessa porra de entrevista esse cabra é um patricinho vendido tinha que lascar pau-nele, tava na cara que era pegadinha do kamel, porra quanta ingenuidade, só mico..........

  • Lula sabe bem como conduzir a economia de um país, ele sabe perfeitamente que esse tipo de austeridade é um tiro no pé. Mais ainda, Lula sabe que um presidente da república não deve ter como foco principal um ajuste e deixar de lado a política, é por isso que o Lula foi provavelmente o melhor presidente deste país, e, por isso, e não por outro motivo, é odiado pela imprensa mais hipócrita do continente, imprensa esta que continua a fazer a cabeça da classe média, de juízes e promotores de apostilas que falam grosso com Lula, mas falam fino com FHC e Caiados da vida. O que Lula deve fazer hoje pelo Brasil é ajudar a alavancar uma mídia que seja contraponto para essa que temos hoje, ou seja, não dar entrevista para essa gente que beija os pés de FHC. Se o Lula focar na contribuição de termos um imprensa mais diversificada e menos canalha, ele não só passará para a história como sendo um dos maiores presidente da nossa história como também será o maior ex-presidente deste país.

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