Cheguei a uma idade em que, francamente, patrulha não me assusta.
Quase sempre – e hoje especialmente – entra gente para comentar com o único propósito de xingar, desqualificar – a mim e a outros comentaristas – e fazer este chatíssimo discurso do ódio, em todas as suas variantes.
Desde o “vai pra Cuba” (nunca fui) até o – muito raramente – ultraesquerdismo que dá a volta ao mundo e acaba na direita.
São bem-vindos, em geral, não apenas porque ajudam a manter o blog, com o “ouro de Moscou” do Google, mas por serem seres humanos.
Sim, é isso o que penso. Penso dos que concordam, penso dos que discordam, penso dos que são hetero, homo, das muitas variações recém-trazidas à linguagem, dos que são brancos, dos que não negros, dos que são roxos, azuis ou amarelos, dos que creem em Deus, dos que não creem.
Perdoem se não listo todos os “istas” e “ismos” , mas acho um horror ficar picando a humanidade em pedacinhos, Resumo: dos que são qualquer-coisa-que-são-ou-que-acham-que-são.
Desde que me deixem – e se não deixarem, perdem tempo – ser o que eu sou.
Não me recordo ter mandado alguém ir para a Ucrânia ou para a Arábia Saudita.
Dou minhas opiniões, sem pretender agradar a todos e, confesso, cuidando de não me deixar enredar em armadilhas em que, por uma palavra, todo o contexto do que digo seja distorcido.
A ninguém obrigo a nada e a nada me deixo obrigarem.
Acredito na polêmica como instrumento de purificação do pensamento, porque ouço e espero ser ouvido.
Não acredito em ovelhas negras nem em ovelhas branquinhas.
Só de uma coisa me envaideço: de ter chegado ao inverno do meu tempo ardendo como um dia de verão.
E só uma coisa agradeço: a oportunidade de poder falar a alguém. Melhor ainda que sejam quase 200 mil estes “alguéns”, todos os dias, ainda que nem sempre fale com a graça, o estilo e conteúdo que queria ter.
São mais de quatro anos, todos os dias, sem folgas, sem feriado, final de semana ou dia santo.
Se de algo mereço ser chamado, virtude ou defeito, é de teimoso.
Falhei num bocado de coisas, mas não desisti.
Porque este é o pior defeito, o de desistir, de achar que é melhor ser outra coisa, porque é mais fácil ou lucrativo.
O anjo torto do Drummond não me deu o talento do mestre, mas igual me disse – e eu segui seu conselho – para ser gauche na vida.
Com 40 anos de política, poderia estar aboletado, vendo a vida passar com certo conforto, mas dirijo sozinho este táxi aqui, todo dia.
Ainda que, nos últimos tempos, meus olhos só percorram ruas e gentes destruídas, pela pobreza ou pela bestificação.
Não escolho os passageiros e gosto de todos eles, dos que viajam uma vez comigo ou dos que todo dia me deixam transporta-los. É serviço público, como toda profissão é, e nele não se escolhe o freguês.
É a profissão, o trabalho, o maior bem que qualquer ser humano pode ter e o único que possuir o torna mais digno.
É profissão, como disse. E profissão tem de ser de fé, porque sem ela é cínica e mercenária.
E aí, perdoem a vaidade, é algo que me orgulho de não ser.
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Estamos juntos!! Disse tudo! Parabéns Fernando!
Eu não costumo comentar, pois não posso contribuir em nada ao seu discurso, que admiro mas, diante de tal desabafo, gostaria de comentar em como suas crônicas são importantes para mim, pois me ajudam a vislumbrar um outro lado, que sei existir além da cortina da ilusão feliz de uma realidade normal - inexistente - mas que os ao meu redor vestem como se fossem túnicas de ouro, não farrapos da própria derrota em entender a realidade que assombra - literalmente - o dia a dia do nosso Brasil tão possível mas, cada vez, tão mais utópico.
Desculpe, amiga, mas pode contribuir sim.Nem só de doutores se formam os pensamentos e se chega à consciência.Até sua presença com uma simples palavra de aprovação representa uma soma e um estímulo.Mostra que vc está junto e somando.E olha que vc escreve bem.Parabéns,
Teimoso também sou. E admiro sua pena. Obrigado por manter o ofício.
Você é forte.
Eu sou uma fã... e o acompanho... mesmo caladinha.... hoje resolvi falar e lhe dizer que me encarrego de espalhar pela internet muito do que você escreve.... nada além do motivo de concordar. AMEI A FRASE: "Só de uma coisa me envaideço: de ter chegado ao inverno do meu tempo ardendo como um dia de verão." Vou transformar em post, e fazer circular na internet e nos outros lugares whats, Instagran , simplesmente por que achei linda.... simplesmente porque traduziu aquilo que fez sintonia comigo.
Bem sou sua fã o acompanho diariamente, e modestamente me encarrego de espalhar muitas publicações suas , pelos muitos grupos de que faço parte. Meu trabalho é o do vento, que espalha as sementes de lucidez que você publica. Uma forma de contrapor a grande mídia e derrubar as viseiras do povo deste nosso país.
Parabéns Fernando, sou passageiro diário do seu blog e através dele tenho conhecimento e análise dos fatos que não são publicados na grande mídia.
Prezado Fernando
Mas é justamente porque vc é assim que incomoda esses que xingam, que não conseguem exprimir uma ideia com fundamentos lógicos. Vc é "a mosca que pousou na sopa", " que perturba o sono", como cantava o Raulzito. Mas, é como vendo o Lula viajando pelo nordeste : os cães ladram e a caravana passa.
Parabéns.
Grande Fernando!!!
Valeu!!!
Parabens Fernando!
Somos muito parecidos!
Acredito ainda muito no homem, no ser humano, nesta parte do planeta chamada de America, Centro e Sul America e principalmente no Brasil, um pais que ainda não sabe a força que tem e as qualidades que tem.
Tem muita gente de dentro e fora daqui tentando lhe roubar seu destino, com estes realmente não tem conversa e não se preocupe em agradar-lhes, não o merecem, eles se juntaram ao lixo da historia.
Quando visitamos uma casa antes de mas nada devemos respeita-a, ninguém que entra numa casa para xingar, provocar, semear discórdia tem boas intenções, portanto nem se de o trabalho de dar-lhes atenção ou de levar-os em conta. Apenas este é um sinal que seu trabalho esta no sentido certo, suas palavras são certeiras atingem realmente os inimigos desta nação, e por isto o combatem, ninguém chuta cachorro morto.
Parabéns pelo seu trabalho Fernando!
Vá em frente!