Tive de ir à rua por necessitar de compras básicas e, ao menos no meu bairro, não tem nem sombra de lockdown.
Ruas com movimento pouco abaixo do normal, raras lojas completamente fechadas – muitas á meia-porta, apenas – e academias de ginástica a todo o vapor.
Uma amiga, recém chegada de Portugal comenta que não se parece em nada o que vê aqui com o que houve lá e ajudou a romper a escalada de mortes no país.
Parece que estamos, afinal, apenas esperando a morte chegar, seja no conhecido, no vizinho, no parente…
A nós, claro, não virá, porque….porque…ora, porque não…
Os dirigentes deste país, salvo exceções, estão aceitando este morticínio como uma fatalidade inevitável.
E foi, hoje, de novo, para quase 4 mil pessoas. 3.769, exatamente, segundo as secretarias estaduais de Saúde.
Tenho dito e repetido que, em um mês estamos tendo mortes em escala de bombas atômicas: em março, morreram os 70 mil de Nagasaki, em abril e em junho teremos os mais de 90 mil de Hiroshima.
Aqui no Rio, tivemos hoje um recorde de mortes, 387, e a Prefeitura tenta reabrir as escolas na segunda-feira.
Nada é pior, porém, que, nesta Semana Santa, ver invocada a fé religiosa para produzir mais mortes, com estas ações do Procurador Geral da República e da Advocacia Geral de Bolsonaro, digo, da União, tentando que os locais de culto religioso sejam abertos nesta Páscoa.
O que é isso, quando a própria Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, sugere, em documento, que “adotar normas e práticas de segurança sanitárias que buscassem garantir a defesa e a conservação da vida de nossos fiéis, pelo cuidado com a não disseminação do vírus em nossas celebrações litúrgicas”.
Fazer isso, como dizem os jornais, para cabalar apoios por uma vaga no Supremo. Ou melhor, de produzir apoios que o façam ser o “terrivelmente evangélico” que Bolsonaro deseja nomear.
Tudo se instrumentaliza neste país: Judiciário, Forças Armadas, religião, vidas humanas.