A notícia do cancelamento, feito por telefone, da exibição do filme Retratos de identificação, que tinha projeção-debate prevista para o dia 31 de maio, na embaixada brasileira de Paris, denuncia um viés curioso do próprio Serra.
O motivo alegado foi o de que o filme Retratos de identificação seria “assunto espinhoso”.
Mais uma covardia do chanceler, valentão contra os países latino-americanos.
É difícil imaginá-lo peitando Obama ou Merkel. Serra virou o inverso do Capitão Rodrigo Cambará, de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, que se espalhava dizendo: “nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho”. O facão de Serra é só para os pequenos.
Mas o que teria incomodando tanto Serra?
O filme, resultado de uma pesquisa universitária junto aos acervos das agências de repressão brasileiras, conta a história de dois combatentes da luta contra a ditadura que se deparam com fotografias de presos políticos na prisão.
Então, o passado retorna.
Serra deve ter lembrado os tempos de discursos estudantis acalorados contra as multinacionais.
Suas intervenções veementes nos diretórios, mas, principalmente, do discurso no comício na Central do Brasil, quando Jango ainda lutava, defendendo reformas de base, contra o golpe que viria em semanas.
Serra tinha 21 anos e foi o mais jovem a discursar.
Então veio o golpe, a fuga, o exílio e um retorno prematuro.
Em 1965, entrando clandestinamente no país, Serra se escondeu na casa da atriz Beatriz Segall, que vinte anos depois interpretaria a famosa vilã Odete Roitman, na novela Vale Tudo.
Foi, justamente, na casa de Beatriz, que Serra foi convencido de não ir a reunião secreta contra a ditadura.
Mesmo relutando, Serra não foi à reunião.
A polícia descobriu o local.
Todos os que estavam lá foram presos e levados ao departamento de ordem política e social – DOPS.
Restava a Serra,fugir novamente do país, mas os militares queriam a sua cabeça.
Costa e Silva, na época ministro da Guerra, disse, ao saber que ele estava escondido na embaixada boliviana: Este não deixaremos ir embora.
Mas Serra conseguiu fugir. Foi para o Chile e lá casou-se e teve filhos.
No entanto, outro golpe, em 1973, o faria fugir novamente.
Preso no aeroporto, depois ter ajudado vários companheiros a se refugiarem na embaixada do Panamá, foi levado ao Estádio Nacional, onde, como sabemos, muitos foram torturados e mortos.
Se Beatriz Segall não o tivesse convencido a não ir naquela reunião e se algo tivesse dado errado naquele estádio onde tantos morreram, Serra não estaria hoje aqui.
Não estaria aqui tentando apagar a própria história e a de tantos como ele, que um dia acreditaram que a vida, a liberdade e a democracia eram mais importantes que o Vale Tudo do poder.
Mais importantes que dinheiro, principalmente o de multinacionais, contra as quais ele iniciou sua nova história.
Esta, que o faz ser algoz da sua própria juventude.
Não há nada de espinhoso num tema que é nossa história, mas não é mais a de José Serra.
Nas fotos onde ele próprio podia estar, ele não reconhece mais ninguém.
Muito menos a si próprio.
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Serra se tornou um embuste. Uma farsa, como todas as produzidas pelo PSDB. No retorno de Dilma, espero que todos esses sejam enquadrados na lei de segurança nacional e respondem por conspirar contra a soberania nacional. Cadeia para esses vermes é pouco.
Se tornou ou sempre foi????
Em Paris, ele só gosta de se lembrar da reunião que teve, no início dos anos 80, com o dito aloysio: qual foi o assunto, mesmo? Ele consegue ser o paradoxo em pessoa: comunista (kkkkkkk) exilado no Chile, quando do criminoso golpismo pinocheteano, ressurge em plena universidade americana, já fazendo mestrado em economia (ué, ele não era - quase - engheiro?).
PIOR QUE UM CAPITALISTA E UM EX COMUNISTA QUE VIROU CAPITALISTA. MAUS EX: ROBERTO FREIRE, CESAR MAIA, ALOISIO NUNES, MARCIO LACERDA.A LISTA NAO E PEQUENA NAO.
A vida pregressa de Serra pouco importa! apenas resta-nos alguns aprendizados capazes de nos trazer um vislumbre da verdade:
- A luta contra a ditadura foi uma colcha de retalhos, assim como as manifestações "contra-tudo-que-taí" de 2013 pra cá. A classe média gosta mesmo de cheiro de fumaça. Um incêndio sempre preconiza carne cozida, fácil de mastigar e a luz do fogo - ah, a luz! - sempre ilumina a todos sem distinção. Sendo assim, ter sido um 'revolucionário" nos anos de chumbo não define o caráter nem é prerrogativa de espírito democrático algum. quando o mal atinge a todos, cobras e coelhos fogem na mesma direção.
- Tem muito caroço no angu da ditadura. Lembremo-nos das ameaças do falecido coronel Paulo Malhães, nas quais afirma ter nomes de antigos traidores e informantes da esquerda que lhes prestaram favores, os quais ele jurou nunca revelar.
- A afirmativa da maioria dos ex-militantes de esquerda que hoje engrossam as elites conservadoras de direita tem como explicação moral a imaturidade e o fervor juvenil para sua ruptura com o passado. Segundo estes "todo mundo é de esquerda na juventude e vira de direita na maturidade". Na minha opinião esta é a afirmação mais reveladora, não só da índole dos mesmos, mas dos paradigmas que regem a formação política e dos papeis sociais de quem vem das classes mais favorecidas: esquerda é baderna, logo é coisa de moleque. Pra eles, a luta por causas populares e a defesa do pensamento revolucionário são o equivalente político a atropelar um negro na rua e arrancar-lhe um braço durante um racha; é coisa de jovem. Quem nunca? No que concluímos que, neste país, botar fé na juventude urbana de classe média é pedir pra ser traído no futuro. Serra não é o único representante desta "cepa revolucionária". Podemos entender também o ranço entre a esquerda urbana e a campesina. Isto nos distancia e muito da teoria convenientemente aclamada de que "não se deve confiar no trabalhador do campo".
- A História ainda está por ser escrita no país. Não temos dúvida de que, mesmo após a ditadura militar, a versão oficial presente nos livros didáticos e nas teses acadêmicas reflete ainda a História dos Vencedores, sem o contraponto real da visão dos vencidos e dos conflitos cotidianos de nosso povo, estes sim, mais legitimamente considerados História com "H". É paradigmático da classe intelectual, amplamente representante do pensamento e dos extratos sociais mais abastados, não ter o menor escrúpulo em lançar mão das mesmas metodologias anteriormente a serviço da versão antagonizada da qual alimentam sua credibilidade intelectual. Falar mal do outro e de quem foi superado é cacoete para o reconhecimento de seu trabalho. Talvez por isto, tenhamos hoje um certo estarrecimento ao vermos vir à tona e com grande representatividade o pensamento neofascista, num país que sempre construiu para si uma imagem moderada, relativizando noasas mazelas sociais em comparação a outras civilizações: o racismo velado "à brasileira", o homem cordial, a "ditabranda", entre outras definições que só fazem acobertar nossa real ideologia. Uma ideologia que em nada difere de regimes totalitários, a não ser por sua enorme sofisticação em escamotear-se. Serra prova com eloquência o quanto as elites sabem absorver qualquer discurso politicamente correto a fim de mascarar o peso de suas atitudes. Isto também é um paradigma político que engolfa toda a sociedade, em todas as direções. Ainda me pergunto como pode alguém que se arroga consciência social e um compromisso com os pobres - como membros de uma entidade em que trabalhei em que todos tinham ligações com o PT - e que me horrorizaram com procedimentos dirigidos a crianças carentes numa favela em São Paulo. Só pra se ter uma ideia, como alguém de esquerda, pode dirigir-se a uma criança como "preto, favelado, passa-fome, que tem que obedecer porque só recebe favor"? Ouvi isto de uma pessoa filiada, inclusive. À época, fiquei tão chocado com a indiferença de quem eu conhecia na militância desde minha infância que duvidei de meu próprio caráter, relutando em prejudicar pessoas 'tão aguerridas na causa dos pequeninos". Quebrei a cara. Eram mesmo, crápulas! Não cometi e não cometo mais este erro. É preciso que aqueles que verdadeiramente acreditam em valores humanistas, apregoados como bandeira de luta das esquerdas, aprendam a separar o joio do trigo tendo base estes mesmos valores. E não permitir que tal erro seja repetido. Erro este capaz de levar por água abaixo todo um projeto de país!
Serra é um erro destes. Um errão!!! Não tenho dúvidas de que sua biografia demonstra contradições que denotam alguma "falha de pesquisa". Ninguém muda da água pro vinho tão radicalmente. A versão que nos foi apresentada é que está precisando de uma revisão. Mas, tenhamos em mente que farsas desta natureza ainda encobrem muitos lobos em pele de cordeiro.
Tudo isto pra dizer que, enquanto não questionarmos a agenda intelectual proposta pelas elites, não conseguiremos avaliar com clareza os meandros de nossa real identidade social nem sua sinergia com os processos históricos. Pra ficar num único exemplo, a teoria do hoje golpista assumido Roberto Damatta, de que nosso problema é a indistinção entre o público e o privado nada mais é que cortina de fumaça para a maior mazela de uma sociedade que jamis deve ser vista como mentalmente homogênea. Se por um lado tal tese possa ser minimamente crível olhando-se a partir do comportamento da imensa maioria da sociedade, nossas elites, por outro lado demonstram idiossincrasia muito mais primitiva, muito mais grave e muito mais doentia: fica provado no presente processo a incapacidade de nossas elites - a jurídica, a econômica, a intelectual, a política - de diferir a esfera individual da coletiva. E isto não é a mesma coisa que a tese anterior. Trata-se de não ter um senso coletivo nem na esfera privada. Não é à toa tanta trairagem e tão pouco escrúpulo com seus opositores mas, sobretudo, com seus iguais. Eles não entendem outra forma de relação humana que não seja o "eu" contra "todos os outros".
Congratulações, Edgar. Excelente comentário. É muito fácil construir biografias da forma que melhor aprouver (vide a de josé serra) e currículos acadêmicos edulcorados e estrelados (vide o de roberto damatta) quando se está do lado dos vencedores e opressores, quando se é um típico representante da casa grande. Como você mesmo disse: a nossa história ainda está por ser escrita. E o mais assustador é que com certeza muito da verdade já foi irremediavelmente perdido. Esperemos, porém, que nem tudo.
Talvez tenhamos que recorrer à Arqueologia no futuro, colega. O tolete de bosta e o crachá da UNE do Serra devem estar enterrados em algum canto da casa da Betariz Segall.
Não custa lembrar: o golpe só se consumará em definitivo após a nova votação no senado. Serão necessários 54 votos, eles tiveram 55 na primeira votação. Então vou falar de novo: o povo deve fazer uma grande vaquinha caixa 2 para a campanha de pagamento do resgate da democracia de Grand Fenwick e arranjar uns votos a favor do estado de direito. É muito barato, vai custar menos do que os sapatos gastos em caminhadas e dinheiro gasto em ônibus e metrô para participar de manifestações contra o golpe. Notem bem: se apenas metade dos 54.500.000 eleitores contribuir com 10 reais e outra metade com 1 real conseguiremos a quantia de aproximadamente 300 milhões. Aí é só avisar que aqueles que mudarem seus votos rateariam entre si a quantia arrecadada...
Espero que seja uma brincadeira.
Pois é, mas não chega a parecer uma coisa plausível?
Ufa! Que alívio. Desculpa, colega. Mas, é que nos dias de hoje, ler uma ironia sem ver o sorriso sarcástico de quem escreve nos remete à possibilidade do surreal tão bem exemplificado no momento político em que vivemos. A diferença é que assistimos o que poderia ser irônico mas, infelizmente, é cínico mesmo. Daí, não custa perguntar se é ironia, só pra ter certeza. Abraço!
Custa-me acreditar na veracidade dos relatos do passado revolucionário dessa turma que saiu ilesa do golpe de 1964, sem um arranhãozinho, sem serem torturados, uns terminando seu exílio nos EUA, outros sendo promovidos no trabalho em estatal, um outro abandonando seu amigo numa emboscada. Tudo X-9.
Bem feito para os diplomatas engomadinhos do itamarati que se acham "o" primeiro mundo. Quero ver agora justificar para governos do circuito elizabeth arden (onde esses engomadinhos sonham em conseguir uma sinecura como funcionarios d'alguma organização internacional depois de se aposentarem) a boçalidade do gangster paulista como chanceler. Vai ferrar a fama da diplomacia nacional. Estão caladinhos os itamaratis obviamente dentro do golpe. Até a desmoralizacão internacional provocada pela boçalidade do gangster do serra começar a respingar neles.
Ah Fernando! Não aguento mais tanta loucura.
Alguem pode me explicar porque o PT não entrou com ações populares para suspender a posse de ministros como esse? ou como aqueles envolvidos em corrupção e investigados, como fizeram com o Lula? Tem explicação? Claro que o STF iria viabilizar os ministros, mas pelo menos fazia os ministros do STF assinarem pelo golpe preto no branco (registro da história), avalizando um bando de corruptos assumindo ministerio, bloqueava um governo ilegítimo. Obrigava o STF a meter a mão na lama que ajudou a afundar o país.
Porque o PT não faz nada? ou o resto da esquerda no parlamento e senado?
A verdade é que não podemos esperar mais nada do PT, está completamente vergado e desorientado. Nem o Lula diz nada, convocando, falando como ele faz tão bem. Precisamos de lideranças URGENTE no campo popular, não penso que o envelhecido e burocratizado PT seja capaz de congregar e liderar a imensa multidão que se manifesta hoje em todos os lugares do Brasil contra o golpe e por democracia.
Nestes tempos de transição, porque são tempos de reconstrução da esquerda, transição do inferno para alguma coisa melhor, necessita-se mais que nunca de novas caras, capazes de construir um "agendão" com todas essa forças vivas que tem saído na rua e dado a cara a tapa para combater o retrocesso.
Colega, acredito que se há um ponto positivo em toda esta esculhambação é que, novamente, veremos os setores humanizados da sociedade dos incluídos (digo humanizados porque já não faz mais sentido pensar o golpe para além de uma agressão humanitária) se reaproximarem de novo do restante da sociedade a qual, a despeito da inclusão econômica, viam-se alijados de tudo que pudesse ser qualitativamente construtivo no país: educação de qualidade, cultura, Estado de Direito, acessibilidade a serviços, etc. Havia uma acomodação incômoda (se isto não for um paradoxo) daqueles que queriam um Brasil melhor com a presença de seus representantes no topo da vida política do país, como se isto fosse suficiente para se acreditar que os benefícios aos quais dispunham e usufruíam fossem estendidos a toda sociedade. Viraram elite por pura acomodação. Ainda quero ver uma peça com o Wagner Moura e da Letícia Sabatela no meio da rua...
...um musical, de preferência. Escrito pelo Chico, com dança do corpo de bailarinos e sinfônica da Heliópolis. Legal, né?
Que viagem!
Quando o PT se aliou com os mais podres e reacionários políticos da nação, juntou ministros do FHC a sua volta, estava traçado o desfecho
Acreditam que o PP, partido dos latifundiarios do RS, vai ter algo com trabalhadores, exceto ódio? É só dizer quais são teus companheiros que é possível ver quem tu és. Se juntar com canalhas acanalha tudo e todos.
Será que não foi ele que entregou a reunião . Há controversas . Na sua viagem aos Estados Unidos voltou devidamente adestrado. Os amigos da CIA infiltrados na UNE de então . Como ele , temos vários outros traíras obscuros , onde uma fundação americano irrigava os diretórios estudantis . Um celeiro infestado de entregadores .
Esse cara (Cerra) não sabe nem o nome do país, como pode ser ministro das relações exteriores? Esse medíocre é um conchavista e entreguista da nação.