Ontem postei aqui a observação de que ficar fazendo ioiô com a taxa de juros a cada pequena subida da inflação, além de ser um crime contra o desenvolvimento do país é, também, um “mico” internacional.
No final da noite de ontem, o Estadão publicou uma matéria que mostra o ridículo das posições defendidas pelos nossos “juristas” – os que defendem o aumento da taxa pública de juros – espalhados pelos departamentos de análise dos bancos (o que é que os bancos iam querer, senão juros?) e, infelizmente, boa parte da tropa de papagaios – ou seriam tucanos? – da imprensa brasileira.
Leiam só:
“Se elevar nesta quarta-feira, 29, a taxa básica de juros – movimento dado como certo pelo mercado –, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central colocará o Brasil juntamente com Gâmbia, Gana e Egito no grupo de países que mais aumentaram os juros no mundo em 2013” .
É lógico que, num mundo onde a economia está em crise, com retração ou baixos índices de crescimento, ninguém é louco de elevar juros. Quer dizer, quase ninguém, porque a turma aqui é louca por juros.
Vejam mais, sempre segundo o Estadão:
“Desde o início do ano, de um total de 90 bancos centrais pesquisados pelo Central Bank News, site especializado em política monetária, 27 reduziram as taxas básicas de juros e apenas cinco – Brasil, Tunísia, Gana, Gâmbia e Egito – elevaram. Dos restantes 58 bancos centrais que mantiveram o custo do dinheiro inalterado neste ano, 8 já começaram 2013 com juros entre 0 e 0,5%, ou seja, sem muito espaço para reduzi-los.”
Óbvio que a pressão inflacionária é algo que deve preocupar a autoridade monetária, mas é evidente, pelo próprio noticiário dos jornais, que não há uma inflação de demanda, caso clássico onde a elevação de juros visa frear o consumo.
Ao contrário, o Índice de Consumo das Famílias, marcador do cálculo do PIB, moderou seu crescimento e teve, ano passado, a menor expansão desde 2003, início do Governo Lula.
Não se espera senão um pequeno crescimento, de menos de 1% nesse indicador, nos números que serão anunciados daqui a pouco pelo IBGE.
Então, se é apenas residualmente que a alta de juros afetará o consumo familiar, onde é que ele se abaterá com toda a força?
Nos investimentos, é claro. Justamente aonde nossa economia começa a recuperar fôlego, o que também deverá ser refletido nos números que o IBGE solta daqui a pouco, no indicador de Formação Bruta de Capital Fixo.
Portanto, elevar os juros é um tiro no próprio pé, ou no pé da atividade econômica que começa no investimento, já tão dificultado pelas incertezas do mercado mundial.
Não é só a jabuticaba a exclusividade do Brasil. A estupidez econômica generalizada também é nossa. E é tanta que daria para mandar alguns destes iluminados para Gâmbia e Gana. Não para o Egito, coitado, que já vive uma crise política imensa,com um Governo sem solidez e choques nas ruas a toda hora e tem uma situação sui generis, por isso.
Mas essa burrice não é dos nossos juristas, só de seus papagaios. Eles são sabidos, ganham muito dinheiro e, como todo mundo que ganha muito, sempre querem ganhar mais.
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Depois da declaração do Tombini anteontem eu me preparei para um aumento dos juros de 0,25%, estou tentando entender o que aconteceu ontem, fiquei chocada com o valor. Se o aumento dos juros é no sentido de frear a inflação ( muita gente contesta isso), mas se ela já estava em queda por que esse valor?0,25% era tolerável, aceitável? Claro que não, mas o que aconteceu para aquele aumento sem noção? Na penultima reunião houve muita pressão dos juristas para aumento de 2,5% e desenvolvimentistas para um queda de pelo menos 0,25% ou na pior das hipoteses um vies de queda, pelo que tudo indica o COPOM iria ceder a um aumento pedido de 2,5% só não o fez pelo grita geral dos desenvolvimentistas. Eu estou com RAIVA , chocada e sobretudo acho que estão boicotando a Dilma na cara dura e a luz do dia. A CIA deve ter infiltrado gente no COPOM, só isso explica. Presta atenção Brito nesse numero 2,5%. ele ficou rodando há uns 7 dias antes da penultima reunião do COPOM, se nas proximas 2 reuniões seguintes antes da virada do segundo semestre chegar a esse numero acho que é hora de nos preocuparmos seriamente com o COPOM. Tem infiltrado dos EUA por lá.
Banco Central independente (do governo, naturalmente, mas altamente influenciado pelo mercado financeiro) é concepção neoliberal, da Escola de Chicago. Trata-se de estabelecer uma república soberana dentro do Estado, que, assim, escapa às políticas governamentais. Os representantes do povo não têm voz ativa. Nessa concepção, ajustada para a nossa realidade pelo lobby rentista, o BC reza pela cartilha do mercado financeiro, sob o disfarce da independência. Dourada a pílula, pincelando os enunciados com verniz acadêmico, em muitos MBA da vida, essa conversa mole de atuação independente virou princípio científico. Os papagaios, repetindo o pensamento neoliberal, o tacham de ignorante, se você for de encontro a esse “princípio”.
O Copom colocou a ata decorrente da reunião anterior dizendo uma coisa. Dirigentes do BC, inclusive o seu presidente, inovando na comunicação, fizeram declarações para a mídia sinalizando outra (elevação da taxa Selic), para combater a inflação “preocupante e resiliente”... A coisa ficou no ponto para os interesses corporativos do mercado financeiro, sob a defesa da mídia rentista.
Uma vitória do PIG, que quer ver o circo pegar fogo, rumando para a retração do desempenho econômico, com o forte empurrão dos juros. Demissões... A crise social é perseguida, com objetivos eleitoreiros. Joga solto, diz o que quer, impõe a ditadura das comunicações, ante a incompetente política de comunicação do Governo Federal. Recomendo a leitura da matéria disponibilizada em http://www.comunicacaodemocratica.org.br).