Vinícius Mota, secretário de Redação da Folha, produz hoje um impagável texto de humor negro – “Ele não pode tudo” – dentro daquele “mimimi” de que as candidaturas de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro são igualmente extremistas mas que qualquer dos dois será “contido” pelas “instituições democráticas”.
“(…)o fato, que ficará claro conforme o novo governo se desenvolva e a sóbria modorra do cotidiano prevaleça sobre a ansiedade, é que o presidente da República está mais limitado do que nunca sob esta Constituição.”
Ora, Vinícius, isto é uma escancarada meia-verdade e, portanto, verdade alguma.
Meia, porque certamente vale para Fernando Haddad e o PT, que provaram, ao longo de 16 anos, respeitar os ritos constitucionais mesmo quando eles foram deformados (não na sua opinião, claro) para apeá-los do poder.
Mas está longe de valer para quem, com todas as letras, disse que iria fechar o Congresso, que no voto nada se resolveria, que era necessária uma guerra civil que matasse “ao menos 30 mil” e que, como única “autocrítica” (que tal a palavra da moda?) diz que isso foi há vinte anos.
20 anos nos quais, aliás, produziu pencas de barbaridades que é ocioso repetir e que o secretário de redação da Folha está cansado de saber.
E que continua produzindo, como o recente “vamos metralhar os petistas” ou a defesa das milícias, como lembrou, também hoje, o corajoso Bernardo Mello Franco, em O Globo:
A defesa das milícias não ficou no passado de Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, já como candidato ao Planalto, ele elogiou os grupos paramilitares em entrevista à rádio Jovem Pan.
“Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, afirmou.
Parece incrível que alguém que registra em seu perfil ser “mestre em sociologia pela USP” não observe que foi nesse linguajar e promessas que Bolsonaro construiu a base que o levou às portas do poder e que, senão tudo, muitos de seus reposicionamentos agora fazem parte da dança hipócrita que o torna palatável a goelas complacentes.
É impossível que observe e dê de ombros ao fato de que, pela composição e pelas articulações que tem, já assumiria como um governo paramilitar e fortemente policialesco.
Em 1930, Hitler também disse que só buscaria o poder pelas vias democráticas e, anos depois, diria à revista Time: “Não se esqueça como o povo riu de mim quinze anos atrás quando eu declarei que um dia governaria a Alemanha. Eles riem agora, de forma igualmente tola, quando eu digo que vou manter o poder!”
O secretário de Redação da Folha, certamente um amante de bons autores, não deve desconhecer o sinistro título de um dos contos de Edgar Allan Poe: “Nunca aposte sua cabeça com o Diabo”.
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esperar o que de uma midia que saudou os militares dizendo que enfim a democracia esta salva?
estamos repetindo tudo de novo, e o povo não aprende
a ditadura emburreceu o povo
e bastou apontar uma juventude mais esclarecida pra eles virem detonar tudo de novo
o milico da educação diz que terá aula de criacionismo - voltamos por século XVII
Seremos governados por pastores
Quanta ingenuidade. Os pastores também não se salvarão.
É o tal do Alt-
rightback.e o povo achando bom
O povo crente precisa de pobre como parte do seu mundinho "perfeito".
Minha cara.
O problema não é o povo, é sim a liderança de esquerda que age como barata tonta, não há uma mínima articulação central, nem uma "inteligência" que trace rumos a serem seguidos, o discurso da confusão serve a Bolsonaro, a esquerda todos leem mil textos e cada um diz uma coisa.
olha
no meu entender é muito complicado, pra não dizer impossivel, lutar contra um grupo que atua de forma desonesta como o do Bolsonaro, que tem o auxilio da midia, das igrejas evangélicas, e do judiciário que sapateia em cima da Constituição a cada decisão em relação ao PT.
é uma proeza extraordinário o PT ter chegado até aqui de pois de mais de década sendo detonado todas as horas de todo santo dia, esquecer e ignorar esses fatos é pura falta de consciência.
O segredo da vitória.
Para cada uma das dez mil inteligentes linhas que a esquerda escreve, dez figurinhas toscas e mentirosas são postadas nas redes. Dez mil linhas ninguém lê, dez figurinhas todos olham.
Mais realista que o Rei, como tem....
A liderança de esquerda não tem a seu favor cinco canhões de fakenews baseados nos Estados Unidos, cuspindo fogo contra a população ingênua, dia e noite. E aquele país acusa a Rússia de ter interferido nas suas eleições. O probema maior nem é dinheiro. É que quando, para certo tipo de gente, se trata de "auri sacra fames", como disse o Haddad, vem a falta completa de limites de escrúpulo e princípios, coisa que os progressistas não têm.
A experiência na "primavera árabe" ,tensão e revolta geradas por meio das redes sociais ,deu aos rapazes do império o conhecimento necessário para tornarse eficientes.O próximo paso é Argentina em 2019.
Enquanto isso ,as massas em cada país atuam como seus próprios algozes.
A campanha do Haddad tem cinco dias, nada mais do isso, para montar uma estratégia de combate muito eficiente à enxurrada de fakenews do Bolsonaro. E agora, para piorar tudo, ele dá sequência, numa atitude muito mais perigosa para a democracia, à demonização direta e desbragada contra o PT e seus grandes quadros nos horários eleitorais.
Eleitores emocionalmente manipulados (idiotizados) decidirão nosso futuro imediato:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-cambridge-analytica-e-bolsonaro-brasil-esta-sendo-manipulado-nas-eleicoes/
A mídia golpista precisará, mais dia menos dia, fazer uma autocrítica sobre o quão fundamental ela foi na criação e crescimento do monstro nazifascista que representa uma gravíssima ameaça para todos. O sistema judicial assiste a toda esta truculência da extrema-direita como se tudo estivesse transcorrendo na mais completa normalidade e é também culpado pelo crescimento do perigoso e aterrorizante monstro neofascista.
Vai levar 30 anos, de novo, pra que algum remanescente dessa mídia resolva fazer a tal auto-crítica. E olhe lá. Vão agora entrar em batalha campal pelas verbas publicitárias do Coiso. Quando ficarem famintos, talvez voltem a publicar sonetos de Camões e receitas de bolo para fingir que são censurados...
FINGIR,SIM FOI O QUE FIZERAM;FINGIRAM!FIZERAM UMA AUTO CENSURA,JAMAIS FORAM PERTURBADOS.
A maioria se atirou nos braços da censura.
Perfeito. A referência a Poe casa à perfeição com as atuais circunstâncias de alguns meios "intelectuais" tupiniquins que se recusam a enfrentar o demônio como ele é. Quem dera eu pudesse me trancar em minha biblioteca e só sair daqui a quatro anos para verificar os estragos ao redor. Infelizmente não posso. E tenho netos cujo futuro como cidadãos brasileiros vai depender dessa patética quase-civilização que está por um fio.
obs. Civilização Brasileira: lembram quando isso era tamanho motivo de orgulho e esperança que produziu até mesmo o nome de uma grande casa editora? parece que aconteceu há milênios...
Pois é, ainda existem jornalistas que acreditam no candidato fake? Uma piada, mas perigosa!
Santa ingenuidade dessa gente..... Será que ainda não caiu a ficha dessa gente de que estão lidando com um déspota?
Eles odeiam o pt. Na verdade so querem impedir o pt. Depois eles fazem como com janio quadros.
Senhores, o quê faço!!??? Minha família está cheia de negros, alfabetizados - ou nem tanto... - que dizem que vão votar no estrupício!!!!
Bravo, Fernando Brito, excelente análise !
O pior cego, é aquele que não quer ver de jeito nenhum.... Os caras desdenham das leis, e vão respeitar a Constituição ??? Só se for a que eles fizerem ....
Lamentável o caminho que este jornal tomou ... Pior ainda o contorcionismo de seus colunistas para explicá-lo ... Uma desonestidade intelectual estarrecedora
Penso que os que poderiam juntamente com o PT constituir uma frente ampla em defesa da democracia, poderosa o suficiente para impedir a eleição de Bolsonaro, estão fazendo a opção de lavar as mãos apostando na destruição do PT, considerando que eleger Bolsonaro é mal menor.