A reportagem de Rubens Valente – jornalista como poucos no país – no UOL, deixa o país diante de um fato inaceitável: um comandante de Exército – aliás da mais importante área militar do país importante do país, o Comando Militar do Sudeste – promoveu e esteve metido numa trampa para desacreditar o resultado das eleições.
Luís Carlos Ramos, o mais politiqueiro dos generais e hoje ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, era, em 2018, o comandante quando Marcelo Abrileri, um empresário paulista, dono de sites da internet, “foi encaminhado” para um oficial dos serviços de inteligência do CMSE, o coronel Eduardo Gomes da Silva para avaliar o que dizia serem “fraudes” na apuração dos votos das eleições de 2014.
Esta história e seus personagens foram ressuscitados, sem nenhuma prova, na polêmica live presidencial em que, ao lado do coronel Gomes da Silva, agora auxiliar de Ramos no Planalto, Bolsonaro disse que as eleições teriam sido fraudadas (apesar de ele ter sido vencedor com grande margem de votos), conta Valente:
Um coronel da reserva do Exército e um empresário de São Paulo descreveram à Polícia Federal como o CMSE (Comando Militar do Sudeste), então comandado pelo atual ministro da SGP (Secretaria Geral da Presidência), o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, se interessou, em 2018, em receber e avaliar uma suposta denúncia de fraude nas urnas eletrônicas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nas eleições de 2014. As mesmas alegações que teriam sido recebidas pelo Exército em São Paulo em 2018 – sem qualquer base técnica, elas eram falsidades, cuja metodologia “não tem lógica”, segundo o TSE atestou sobre um vídeo com “críticas” semelhantes – três anos depois apareceram com destaque na llive presidencial fosse investigado. O procedimento passou a tramitar no STF na forma de petição (nº 9842), uma apuração preliminar usada pelo tribunal antes da abertura de um inquérito, e como um apenso de outro inquérito, o de nº 4781, o chamado “inquérito das fake news”.
O general Ramos presidiu parte desta reunião no Palácio do Planalto em 23 de julho de 2021, seis dias antes da live, que teve a presença do chefe da Abin, Alexandre Ramagem, e do Ministro da Justiça, Anderson Torres, além de dois peritos criminais da PF, Ivo de Carvalho Peixinho e Mateus de Castro Polastro, que foram intados – e se recusaram – a validar uma tabela onde se “provaria a fraude”. Pediram para examiná-la – o que foi recusado – e apontaram inconsistências.
A história foi para a live assim mesmo, como foi formulada três anos antes e acolhida por Luís Carlos Ramos.
Não consta que comandantes de unidades militares possam ser “investigadores” de supostas “fraudes eleitorais”. Chegando a seu conhecimento, era às autoridades eleitorais, como o TSE, que deveria ter encaminhado o caso. Conduzir uma investigação eleitoral, informalmente, dentro de uma unidade militar é um ato que usurpa a Justiça Eleitoral e torna as conclusões mais ou menos semelhantes ao desejo e à vontade deste militar.
E, ainda pior, Ramos usou-o, três anos depois, para auxiliar no cometimento de um crime de violação de sigilo funcional que rendeu a Bolsonaro o inquérito do qual agora foge.
Ramos é parte deste caso e não poderá, como seu chefe, fugir de ser responsabilizado.
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QUE MALUQUICE ESSE DISQUS.