Falar demais tirou de Aécio. Calar demais tira de Dilma

Encerrada a votação e divulgados os resultados do 2° turno, qualquer pessoa com alguma lucidez política percebia que o caminho da governabilidade para Dilma Rousseff tinha demarcação muito nítida.

E continua tendo.

Todos eles – desde o relacionamento com o empresariado até o com os movimentos sociais, passando pela óbvia necessidade de composição com um Congresso inquieto e que cobre de razão o que previu o velho Ullysses Guimarães  , ao responder “espere só  para ver o próximo” a quem  criticava  o Parlamento – dependem, por sua vez, de um, essencial.

O da capacidade de Dilma de absorver e sintetizar, na composição de governo, não apenas representações, mas as vontades políticas – eventualmente contraditórias – destes setores, dentro dos marcos que foram a razão de sua vitória: crescimento da economia e crescimento da inclusão social.

Neste último campo, inevitavelmente, precisa somar-se ao conjunto da inclusão a politização que, em seu primeiro mandato, faltou em escala maior do que já havia faltado no primeiro governo Lula.

Compreende-se, pela prudência e pela necessidade de compor, a demora em anúncios formais de ministério – este, ao que parece, começará ao final da semana – e políticas.

Cada coisa tem sua hora e, para quem precisa de provas, basta que observe o comportamento de Aécio Neves.

Durante a campanha, para mostrar que o governo de fato não seria exercido na economia por suas pífias capacidades, pré-nomeou Armínio Fraga para a Fazenda.

Depois da campanha, em lugar de recompor seu patrimônio político com a votação, lançou-se como “general” de forças transtornadas, que têm muito mais espaço na mídia do que nos fatos, enquanto os tucanos de São Paulo se rearticulam e deixam que sofra ele os desgastes do radicalismo.

O que falta, portanto, a Dilma não é atirar-se estouvadamente às precipitações político-administrativas.

Falta assumir, decididamente, uma mudança de métodos, que é algo que ficou evidente na campanha como indispensável à sua sobrevivência.

O estabelecimento de linhas de comunicação direta com os agentes políticos e com toda a população.

E isso só pode ser feito por ela, não por ministros ou mesmo pelo próprio Lula, pela evidente bicefalia governamental que isso traria.

Engana-se quem pensa que o que se discute, essencialmente, na comunicação governamental é a distribuição de verbas publicitárias.

Até porque este pensamento tosco leva a uma voracidade de “bater mais” para “ganhar mais”.

Nem mesmo em relação a publicações “de esquerda” isso é tolice: o apoio militante ao projeto Lula-Dilma nunca dependeu de sacudirmos canequinhas às verbas de governo, tanto que crescemos quase sem tê-las e, no caso deste blog, sem tê-las de forma alguma.

A história dos “blogs sujos” é apenas a transposição para o texto alheio das motivações de nossa imprensa de direita.

Dilma precisa, mais do que falar, dar sinais de como e com quem vai falar.

Porque isso é o que determinará seu texto.

Seu primeiro contato público, após o natural momento da vitória eleitoral, foi uma “entrevista exclusiva” aos grandes jornais.

O resultado foi que sua fala reduziu-se ao óbvio, mas que foi notícia por coincidir com o discurso da mídia: cortar despesas, refrear as pressões inflacionárias, providências obvias a qualquer governo diante de uma conjuntura de dificuldades.

Não foi notícia o que representava os seus compromissos: retomar o crescimento, defender o emprego e os salários, reafirmar a soberania brasileira.

Algo ser ou não ser notícia significa, simplesmente, ser dito ou não ser dito à população.

A eleição de um Presidente é uma relação direta que se estabelece entre eleitor e eleito.

Não pode ser a única, nem extinguir-se para ser buscada, de novo, daí a quatro anos.

Na velocidade que tem, hoje, não apenas a permeabilidade do país à comunicação mas, com ela, o imediatismo na formação de impressões  e julgamentos, é  impensável.

Dilma perde ao adiar não o anúncio de seus ministros, mas ao não sinalizar que fará esta relação o mais possível diretamente ou, ao menos, não exclusivamente pelas estruturas da mídia que a hostiliza abertamente e tenta determinar aquilo que dirá.

É de esperar que o faça, nos próximos dias.

O silêncio tem suas sabedorias.

A mudez, não.

Fernando Brito:

View Comments (19)

  • Entre o silencio do primeiro mandato e o silencio da expectativa do segundo , a presidenta se cala.
    Nessa marcha , da falta de comunicação e da negação da política , os ruídos dos aliados ampliam os sons do desanimo e da preocupação . Quem a presidenta estará ouvindo ? O que estará esperando cair dos céus ?

    • Acho que tem gente falando demais, desvalorizando a Presidente, para alegria da Oposição.

      • E tem gente que acha que tudo se resolve com a absoluta subserviência à figura da Dilma e uma suposta infalibilidade da mesma.
        Já faz 4 anos e ainda não aprenderam.
        Esses sim ajudam a oposição.

  • Ainda no ritmo da mobilização eleitoral e neste já terceiro turno, não se sei se faço um botom com "Bolívar é legal" ou "sou bolivariano"?

  • Quando foi desmentir a veja. Fiquei muito orgulhoso. O espirito Brizola. que estava falando naquele momento e espera que posteriormente ela assumisse de vez está postura , como uma líder que é. Cheguei a pensar em novos para o PT
    Mais combatido e voltar a ter vinculos mais estreitos com os movimentos sociais

    Enfim.....Ainda tenho esperança

  • Nem preciso dizer o quanto admiro este site e as opiniões do Fernando Brito, mas vou discordar um pouco dessa vez...
    Creio que se é inegável que a campanha política virou Fla-Flu, essa fase pós-eleição está parecendo "pré-temporada". A imprensa, pela absoluta falta de novidades, transforma qualquer boato (quando não inventa o boato) em verdade absoluta.
    Dilma ficou presa sob tortura durante três anos. Ela sabe, mais do que eu, da importância do silêncio em tempos de golpe.

    • Concordo Pedro Lima, é momento de muita calma e serenidade, para, deixando o tempo passar, baixar o ânimo, histeria e ódio da oposição (partidos, PIG e eleitores). A eleição está ganha de forma legítima! Faltam ainda 2 meses para o fim do seu primeiro mandato e planejamento, conversas e escolhas para o seu próximo. Nós, a maioria, que votamos nela e em seu projeto, não temos tanta ansiedade, porque já a conhecemos. Como ela mesmo já disse, governo novo, idéias novas! O tempo é o senhor da razão...

      • Uma das coisas que discordo da Carta Capital é a ansiedade para indicar o Ministro da Fazenda. Com vários balões de ensaio...
        Aqui também começa a crescer a ansiedade desnecessária e até prejudicial. Ora, se o País tivesse eleito outro... Somente em janeiro tomaria posse e a partir daí levaria, no mínimo três montando sua equipe. Uma certeza, entretanto, seria Armínio Fraga.

  • é irritante, é desanimador, é broxante,( e muita gente da esquerda que apoiou dilma pensa assim) ver que tudo não só continua como dantes, mas como o governo agora parece ceder mais ainda...foi a oposição que ganhou a eleição ?

    • Sensação de "déjà vu". Só que agora ela não está ancorada em recordes de popularidade pra suportar esse tempo para pensar e acalmar. Ela depende única e exclusivamente dos movimento sociais, das ruas e da militância da internet, mas parece (por enquanto parece), que ela está querendo se distanciar destes e isso será a sua ruína.

  • Realmente, esse mutismo vai mal. Tomara que seja só uma respirada pro começo do trabalho. Se continuar assim, vai mal, muito mal.

  • Muita calma nessa hora !! Eu acredito na Presidenta e sei que ela vai dar um nó nos seus críticos. Mas gostaria de tê-la visto no evento da Carta Capital...

    "O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"

  • Fernando

    Pesquisei os sites do New York Times, do Wall Street Journal e da SEC (a CVM americana) e não achei qualquer referência a algum processo ou inqério envolvendo a Petrobrás.
    Será que o Financial Times inventou isso

  • Dizer o quê? Que ela é fraca como política é um pleonasmo, porque ela nunca foi política. Nunca tinha concorrido a um cargo eletivo. Mas posso dizer sim que a ela falta humildade porque só foi eleita graças ao Lula, a militância e ao PT.Tão logo saiu o resultado dessas eleições, no primeiro discurso da vitória, demonstrou nítida irritação com a militância que gritava o seu nome. No dia seguinte deu entrevista para a Globo; E ontem deu desfeita para um aliado de peso…; Outro dia declarou que não é REPRESENTANTE DO PT (???!!!), republicanamente disse que é presidente de TODOS, ou seja, ela não sabe diferenciar os lobos dos cordeiros, direitistas de esquerdistas, aliados e inimigos; No ano passado ela deu uma desfeita ao PT não indo na convenção do partido que foi feita em Brasília para que ela pudesse ir. A desculpa que ela deu na época foi de que, no sábado iria discutir a segurança do Papa… Fechando-se na sua magnanimidade e egocentrismo, deu as costas para todos os comentaristas de esquerda, e pretende indicar o Zé da justiça para o STF, para o ÉSSE-TÊ-EFE ???!!! Nitidamente uma dos mais ineptos e amarelo de seus muitos ministros incompetentes! Ela quer rediscutir pela ad nauseam vez a lei de mídias que já está pronta há anos, engavetado por um de seus incompetentes ministro. A Dilma não quer fazer amigos ou aliados. O que ela quer é colocar em pauta o seu projeto de poder, pouco se importando se vai se sustentar ou não, se vai preservar o partido ou não. O próximo passo irresponsável que ela vai fazer, colocará uma pá de cal sobre o PT e as esquerdas por mais 50 anos: Ela vai lutar pelo aborto e casamento gay sem antes implementar uma Lei de Mídias. Isso será o gatilho que a direita irá usar para demonizar o PT e conseguir tirar o partido do poder. A Dilma não é petista. Nitidamente demonstra desprezo e até ojeriza ao partido. Se muito, ela tem gratidão ao Lula, mas mesmo assim, ela disse que conversa com o ex-presidente, mas que SE RESERVA O DIREITO DE TER A ÚLTIMA PALAVRA, ou seja, podem lhe dizer o que quiserem, ela vai fazer somente o que lhe der na telha. Talvez seja melhor a PEC DA BENGALA ser aprovada logo… Decepcionante.

  • Nunca é demais relembrar que a presidenta tem à sua disposição uma rede de concessionárias de rádio e tv que ela tem direito de usar à sua vontade. É um direito que Dilma não deveria desprezar.

    • Pois é, porque os canais públicos são fechados?
      Isso já mudaria muita coisa no espectro da comunicação!

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