Fernando Morais e as babás que não têm nome

No Facebook, o escritor Fernando Morais chama a atenção para o “infográfico” que  O Globo publica na cobertura – que virou novela – do acidente – felizmente sem graves consequências – do apresentador Luciano Huck e sua família.

Como você vê, todas as pessoas que estavam no avião e que correram riscos iguais não são iguais.

A família Huck e os pilotos têm nome, as babás, não, embora, provavelmente, tenham pais, mães, irmãos e, talvez, filhos.

Não se chamam Helena, Maria, Antônia, nem mesmo Cleide ou  Dilcéia.

Aliás, em poucos lugares, entre eles o boletim médico da Santa Casa, pode se saber que se chamavam Marciléia Garcia e Francisca Mesquita.

Embora suas vida valham tanto quanto a de qualquer outro, que merece ser identificado por seu nome.

O anonimato das babás é um ato falho do pensamento elitista que toma conta, inconscientemente, de nossos profissionais de imprensa.

Como toma conta das mentes de todos os que orbitam a elite dominante, seja econômica, seja (aspas necessárias) “culturalmente”.

Quem puder achar, leia o livro “A história de Garabombo, o Invisível”, do magnífico Manoel Scorza, peruano que se dedicou a contar a vida e a luta dos descendentes dos pré-colombianos do altiplano andino.

E como e por que era invisível aquele índio, que servira, porém,  ao Exército peruano, onde acabara, por motivo fútil, mofando numa prisão?

Uso os excertos do ótimo trabalho de Elda Firmo Barros, da Universidade Federal Fluminense, para explicar.

− Não me viram. − Mas eu vejo você! − É que você tem nosso sangue, mas os brancos não me vêem. Passei sete dias sentado na porta da repartição. As autoridades iam e viam, mas não olhavam para mim. (…) Na prisão, compreendera a verdadeira natureza de sua doença. Não o viam porque não queriam vê-lo. Era invisível como eram invisíveis todas as reclamações, os abusos e as queixas.

Talvez, porém, eles tenham um momento em que são vistos: aquele em que votam.

E, por isso, neste momento, não lhes são indiferentes. Mas são odiados.

 

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • Para mim as babás apesar de invisíveis, sem nome, são melhores do que eles e a Globo juntos. Loucura, loucura,loucura ou inutilidades das inutilidades. E segue o jogo.

  • Fernando,
    Uma explicação, também possível, para a "invisibilidade das babás" é o fato de que essa "profissão" ou esse lugar na nossa história foi majoritariamente ocupado por negras. Ralph Ellison, também tem um romance muito interessante sobre o Homem Invisível. “Sou um ser humano invisível. Não, eu não sou um fantasma como os que assombravam Edgar Allan Poe" (Trecho do livro acima citado)
    João Benicio

  • Fernando,jamais por querer me exibir, mas chamei a atenção ontem sobre este fato (das babás sem nome)-quando comentei no post do posto de saúde que fostes consultar e narrei meu episódio com a UPA aqui em Floripa. Este é o modus operandis dos "globais" com honrosas exceções. A "casa grande" trata a "senzala" por números, apelidos, assovios...quando não chicote. Triste elite desumana!

  • Individualistas estúpidos como 'SERGIO ROSA' e primadonas otárias e dondocas como LUANA PIOVANI, que ficam mandando o LULA se tratar no SUS, são pessoas desalmadas, BURRAS e sem noção que não percebem que a questão não é igualar os salários de todos, isso sim seria uma ditadura, mas que cada um 'contribua conforme as suas possibilidade e que cada um receba conforme suas necessidades', esse é o verdadeiro socialismo, que é um humanismo.

    "O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"

  • Embora suas vida valham tanto quanto a de qualquer outro, que merece ser identificado por seu nome.Discordo camarada , avida das babas valem e muito mais que as de Luciano e sua família , afinal elas trabalham.

  • Muito boa essa reflexão!
    Aliás, para melhorar o mundo em que vivemos, reflexões como essas são muito valiosas, pois desfazem as amarras obscuras que mantem o poder constituído do capital, baseado no egoísmo, na competição e nos privilégios a quem tem dinheiro.

  • Aconteceu uma situação semelhante quando da queda do avião do candidato Eduardo Campos.
    E continuamos sem saber de quem era o avião.

  • Embora estivessem no mesmo avião e nessa hora por circunstâncias todos são "iguais", na visão elitista as duas babás foram simplesmente ignoradas pelo noticiário dessa mídia bandida e canalha...Aliás, na entrevista concedida ao JN da Tv Globo o casal elitista nem citou o nome das babás.....O problema é que as duas babás não pertencem à Casa Grande, embora prestem serviços relevantes ao casal global.....Elas pertencem à Senzala.....Aí está o grande problema.....

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