A finalidade de escrever, no final das contas, é ser capaz de mexer com o leitor. Com seus pensamentos, com seu grau de informação. Dar-lhe a mão, por escrito, para caminhar, formular – ou reformular – conceitos, dividir dúvidas, certezas e esperanças.
Algumas raras vezes, porém, o escriba viu ou viveu – e lembra – algo que é capaz de ir mais fundo em que do que a razão. toca os sentimentos e escava a memória de alguém.
E desenterra dela o que é mais valioso, que tem um brilho tão precioso que se tem o impulso de dar a quem nos é mais precioso: aos nossos filhos, a nossa vida.
E então, tem a obrigação e o prazer de fazer o que desejou a vida inteira fazer: dividir com todos as riquezas que lhe cai às mãos.
Partilho, assim, a carta de uma amiga (que há muitos anos não vejo), Cláudia Bensimon, a sua filha, texto que li neste correio moderno do Facebook, a propósito da homenagem feita anteontem aqui a Leonel Brizola.
Ia tirar os sobrenomes, vício de brizolista que conhece há mais de 30 anos as discriminações, mas vi também o orgulho com que se expõe e não tenho o direito de ser cuidadoso com a coragem alheia. Retiro só, mesmo sob ameaças da autora, meu próprio nome, que fica implícito na referência – exageradíssima – que faz a mim.
Divido, porque não é só dela, nem só minha, é de uma geração de jovens que se entregaram aos sonhos.
E sonhos, cantou o Milton Nascimento, sonhos não envelhecem.
Nunca desista
Clara, minha filha. Este foi um dos homens mais importantes desse País.
Tem gente que ainda hoje não acha. Pior, destila ódio à simples menção ao nome Brizola.
Mas a História está aí para provar que o menino pobre de Carazinho, uma cidade da qual provavelmente você nunca ouviu falar, tornou-se um gigante. Um verdadeiro homem público, aquele cujos propósitos sempre foram servir ao povo brasileiro. O pobre povo brasileiro.
Sim, pois embora tenha governado para todos, ele nunca compactuou com essa elite insensível e violenta que, hoje, como em tantas outras ocasiões sombrias, se avoluma e tenta nos corroer as esperanças e nos roubar o futuro. O seu futuro.
Foi ele que me fez conhecer de verdade e vibrar com a política. Foi com ele que reforcei minhas convicções e aprendi o que é democracia e justiça social. Na primeira vez em que pude exercer o meu direito a voto, usurpado pela ditadura cruel que se instalou no Brasil dos anos de 1960, foi nele que depositei minha esperança juvenil por dias melhores.
Nasci em 1962. Mas só pude me tornar cidadã plena desse país, e exercer o direito de escolher o meu governante, 20 anos depois.
A chegada de Brizola, com a anistia, e a sua candidatura ao governo do estado, poucos anos depois, foi tão marcante para mim que, naquele momento, em que eu já cursava o segundo ano de jornalismo, o meu grande sonho passou a ser participar, de alguma forma, daquela grande festa cívica: um governo genuinamente popular. E eis que a oportunidade surgiu
(Ah, os sonhos… como é bom tê-los. Melhor ainda realizá-los).
Aos 29 anos (se não me engano), a convite do meu amigo e parceiro de tantas jornadas Luciano Fruht, deixei uma iniciante e talvez promissora carreira no Jornal do Brasil, onde já assinava uma coluna e contava com a boa vontade de alguns leitores e dos meus chefes, para integrar o segundo governo de Leonel Brizola no Rio. Fui feliz, sem olhar para trás, sem ligar para salário, sem me importar com nada que não fosse a alegria e a oportunidade de integrar uma equipe que estava efetivamente interessada em lutar pelas causas populares, particularmente pela Educação (com E maiúsculo). Foi nessa ocasião que conheci outro cidadão gigante, com quem tive o privilégio e a honra de conviver, este mesmo que presta uma merecida homenagem ao velho Briza, com este vídeo que compartilho orgulhosamente com você, e que me inspirou a escrever estas palavras.
Hoje, no auge da minha maturidade, revejo essas imagens e me tomo de nostalgia (sem tristeza e sem esmorecer, pois aprendi a lição).
Aplaudi de perto cada conquista, chorei rios nas derrotas (como a das Diretas-Já). Mas as lições de Brizola estão aqui gravadas na minha alma. Isso ninguém me tira.
Nesse momento de tanta injustiça e de tanta desilusão com os rumos da política e do Brasil, eis aqui o exemplo de quem personificou tão bem o que se chama de “espírito público”, de quem nunca se dobrou diante dos poderosos, nunca desistiu da luta, defendeu a liberdade e, acima de tudo, zelou pelos brasileirinhos pobres, sem oportunidades e sem estudo, infelizmente maioria nesse Brasil tão desigual.
A lição que fica aqui é ( e escrevo isso para você com lágrimas nos olhos): Nunca desista. O improvável acontece. E, sim, é possível dobrar o “impossível”.
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Impossível determinar a vontade com que todo mundo saiba disso. Um grande abraço ao autor.
Caro Brito, como muitos de seu leitores ,não sou e nem tenho esse talento e o Dom da escrita, é muito menos de conseguir expressar através de seus relatos e sua crítica afiada e verdadeira ,que expressa acredito eu muitos dos nossos pensamentos, e o que desejamos para nosso País, Brizola e a síntese, da luta por Brasil melhor para todos. Vendo hoje o massacre a injustiça que o Lula sofre hoje, as duas histórias são semelhantes,Lula é Brizola, claro hoje estamos em uma outra realidade, as informações é em tempo real, mas no fundo a repressão e a mesma.hoje e o judiciário,+ globo é quase toda mídia.
BRIZOLA, o maior brasileiro de todos os tempos. Lembro na década de 80 eu com 25 a 35 anos, a difamação que a rede Bobo e os militares faziam contra o Brizola, na minha falta de experiencia e vivencia politica cheguei mesmo a detestar o Brizola, tal o grau de difamação que faziam, Hoje sei que foi o maior de todos os políticos brasileiros, quem duvidar e desejar saber consulte a Wikipédia.org. O que fazem agora com o Lula para difamá-lo é o mesmo caso, vejo pessoas que foram beneficiadas pelo Governo Lula descendo o pau nele. É o poder da imprensa e da classe dominante.
Fernando,não desanimar é o mais difícil.admiro muito pessoas persistentes como vc e sua amiga.
De entrevista de Brizola que recortei de uma edição do Jornal do Brasil dos anos 1980 e cujo recorte guardei por muitos anos. Mais ou menos assim: "A Política precede a Economia. Esta deve ser determinada por aquela e não o contrário. A ciência econômica ensinada nas escolas é o desdobramento das doutrinas de Maquiavel, sempre no sentido da dominação".
E viva Lula que MIL VEZES mais perseguido do que Brizola mantém a serenidade e o amor na luta incansável pelo povo sofrido do Brasil.
JÁ que muitos ignoram sua palavra nesse momento, ai vai mais uma vez o post "nota de página" que lhe foi dedicado ontem. Fica como registro da história que estamos escrevendo em tempo real.
http://www.tijolaco.com.br/blog/ao-vivo-lula-na-radio-rba/
http://www.tijolaco.com.br/blog/ao-vivo-lula-na-radio-rba/
Viva Lula ...
http://www.tijolaco.com.br/blog/ao-vivo-lula-na-radio-rba/
Muitos ignoram a palavra de Lula nesse momento tão crucial ... Mas ele fala ! E fala tudo que muitos nunca quiseram escutar e que talvez nunca conseguirão escutar ...
http://www.tijolaco.com.br/blog/ao-vivo-lula-na-radio-rba/
Viva leonel!!!!!!!!!!!!!
Viva Lula.
Brizola era um mito como Lula o é.
Saudoso Brizola!
A direita, apesar de chamar muitos mequetrefes de mito, não os têm. Direita simplesmente não tem mitos porque para ser mito a pessoa tem que ser altruísta.
Lula não é mito. Ele é real, está vivo no aqui e agora. Não tem nada a temer por ter um coração gigante.
Quando eu era pequena não entendia a devoção e o respeito que meu pai (gaúcho de Palmeira das Missões) tinha pelo Brizola! Mais tarde, lendo os livros de história, percebi o baita brasileiro que ele era...exemplo de amor à democracia, ao povo e ao Brasil!