Ontem mesmo lembrei-me de uma frase de Leonel Brizola dizendo que “mudar de opinião é um direito sagrado de qualquer ser humano”.
É mesmo e não se pode negar, diante do manifesto subscrito por gente de direita, de matiz conservadora desde sempre, repudiando as ameaças e a continuidade de Jair Bolsonaro.
Sejam bem-vindos, não há outra reação correta diante daquela regra. Além do mais, nenhum benefício traz ao confronto que temos pela frente em ficar cobrando “ficha de coerência” a quem se dispõe a formar ombro a ombro nesta batalha, o que parece ser a disposição da maioria dos que assinam os recentes manifestos antibolsonaristas.
Não estão se expondo, certamente, para sugerir votar em Pablo Marçal ou em Luciano Bivar. A opção por Lula não está implícita, mas quase explícita para muitos deles.
Poderiam, claro, pesar mais frente à opinião pública se tivessem – alguns até o fizeram – se posicionado mais cedo, mas as coisas são o que são.
O que é positivo nisso, em primeiro lugar, que é um sinal muito expressivo da desagregação das forças que jogaram às favas os escrúpulos de consciência e embarcaram na aventura que desgraçou este país bem antes da eleição de Jair Bolsonaro.
Fogem do barco antes de seu naufrágio.
Isso não desfaz totalmente a onda de ódio e de insensatez que fizeram se erguer em 2018, mas é um gesto que, se seguido de outros, ajuda a acalmar as águas e restabelecer o movimento natural das marés políticas que não souberam esperar e quiseram alterar com um tsunami fascistoide.
É um sinal promissor e mais ainda será que não pretenderem tirar a legitimidade de quem pode derrotar o monstro assim que ele tombar, abatido mas não morto, porque levará anos para que não seja de novo perigoso.
Que reorganizem um conservadorismo lúcido e não hostil à democracia, é a mensagem que Lula tem dado, até na formação de sua própria chapa, a estes grupos, para que compreendam que os caminhos que tomaram desde as eleições de 2014 só leva aos Cunha, aos Lira e a Bolsonaros.
É preciso desacanalhar a vida política e aceitar que o país precisa de reformas e, entre as essenciais, está a reforma política, reconstruindo partidos e representações políticas, que foram reduzidas à mixórdia, ao longo do tempo.
Só ela pode desencadear e sustentar uma mudança econômica no Brasil, que depende de uma visão de país e de partilha de objetivos estratégicos de desenvolvimento, que não pode prescindir de ser socialmente inclusivo, e muito mais do que foi nos anos 50 e na primeira década dos anos 2.000.
A inclusão e a solidariedade não são uma opção ideológica, são um imperativo dos tempos atuais, sem o que será impossível viver.
Será isto onírico e irrealizável? Em algum grau, sim, porque estupidez e oportunismo são inevitáveis e haverá bolsões de insensatez remanescentes do extremismo fundamentalista de direita que se espalhou como nunca na sociedade brasileira.
Mas tendo a concordar – ou a sonhar – com o que escreveu ontem Luís Nassif, ao dizer que “o país está caminhando a passos largos para o grande pacto nacional”.
Quem viu tanto retrocesso em tão pouco tempo tende a aprender que o avanço é mais lento que o recuo.
Os homens do passado têm pressa, porque se decompõem, os do futuro sabem esperar a brotação.
Com o tempo, até os homens das caverna se civilizam. Os de Neanderthal, extinguem-se.
A luta política é uma jornada infinda, não uma “treta”.