Gabrielli: Oposição distorce fatos e dados sobre Pasadena

Vamos ouvir alguém que entende do assunto? Repare que Gabrielli aborda com sutilíssima ironia o silêncio do blog da Petrobrás, ao dizer que a “oposição distorce fatos e dados” sobre a refinaria de Pasadena. O blog da estatal se chama “Fato e Dados” e até agora não fez nenhuma contribuição para dirimir as dúvidas da sociedade em relação às recentes denúncias.

José Sérgio Gabrielli de Azevedo: Pasadena: mitos e verdades

Na Folha.

20/04/2014 03h00

Pasadena foi um bom negócio? A resposta é sim para o momento da compra, mas não teria sido sob o cenário entre 2008 e 2012.

Nos últimos dois anos, as condi ções do mercado de petróleo, sobretudo nos Estados Unidos, voltaram a se inverter, com a crescente valorização dos ativos.

A refinaria está em operação todos esses anos e, devido à disponibilidade de petróleo leve e barato no Texas, como efeito do “shale gas” [gás de xisto], ela é lucrativa, ainda que a Petrobras não tenha realizado os investimentos para capacitá-la a processar petróleo pesado.

Irresponsavelmente, a oposição distorce fatos e dados sobre sua aquisição, criando uma narrativa que desinforma a população, prejudica a imagem da Petrobras e atenta na depreciação de seu valor de mercado.

Vamos aos mitos: o primeiro refere-se ao fato de que o antigo proprietário de Pasadena, o grupo Astra, pagou US$ 42,5 milhões pela refinaria e depois revendeu à Petrobras por US$ 1,25 bilhão.

A verdade é que a Astra desembolsou US$ 360 milhões antes de revender por US$ 554 milhões, sendo US$ 259 milhões pagos pela Petrobras em 2006, como afirmou a presidente da empresa, Graça Foster, e US$ 295 milhões posteriormente à disputa judicial, já em junho de 2012, mas considerando as condições de mercado de 2006. O crescimento da demanda de derivados nos EUA, sobretudo de 2004 a 2007, levou a um aumento progressivo no preço das refinarias, contudo, o valor de Pasadena foi inferior à média das transações em 2006.

Outro mito aponta para suposto equívoco do Conselho de Administração na compra de refinaria no exterior. O fato é que a decisão atendia ao planejamento estratégico da companhia definido em 1999, no governo FHC, que previa investir em refino no exterior para lucrar com a venda de derivados de petróleo, sobretudo no mercado americano.

Em 2004, o mercado brasileiro de consumo de combustíveis estava estável havia uma década, enquanto a demanda no exterior era crescente. A Petrobras seguiu estratégia recorrente: pagar mais barato por uma refinaria de óleo leve e adaptá-la para processar óleo pesado.

A aquisição de Pasadena foi aprovada pelo conselho porque era vantajosa e atendia ao planejamento estratégico. A decisão foi pautada em parecer financeiro do Citigroup, que, entre 2003 e 2012, atuou em 125 transações do setor. Empresários que participavam do conselho e não pertenciam ao governo foram favoráveis à compra.

O terceiro mito é que as cláusulas “put option” (opção de venda) e “marlim” (referente ao petróleo brasileiro) seriam as responsáveis por transformar um bom negócio no momento da compra em um mau negócio no cenário entre 2008 e 2012.

Neste período, o mundo mudou, nós descobrimos o pré-sal e o planejamento estratégico da Petrobras acompanhou as mudanças. O mercado de derivados nos EUA se alterou drasticamente. Foram as variações de margens de refino e os diferenciais de preço entre o petróleo leve e pesado que fizeram a lucratividade de Pasadena variar. Enquanto isso, no Brasil, a demanda por derivados se aqueceu, levando a companhia a investir em refino interno.

Quanto à cláusula “marlim”, que garantiria a rentabilidade de 6,9% à sócia da Petrobras no caso de duplicação da capacidade de refino, ela é inócua. Como não houve o investimento, e essa é a razão da disputa judicial, ela não é válida. Isso foi reconhecido pela Justiça americana.

A oposição precisa aprender que assuntos técnicos requerem uma abordagem diferente do espetáculo de uma CPI em ano eleitoral. Perceberão, mais uma vez, que a Petrobras continua sendo uma das empresas mais produtivas do mundo.

JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI DE AZEVEDO, 64, é secretário de Planejamento da Bahia. Foi presidente da Petrobras (2005-2012, governos Lula e Dilma)

Fernando Brito:

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  • Para quem estive estranhando esses números[ grupo Astra, pagou US$ 42,5, Astra desembolsou US$ 360 milhões antes de revender por US$ 554 milhões] isso é muito comum no mundo dos negócio. Um amigo comprou um prédio velho por R$ 200,000,00 derrubou tudo só aproveitando o terreno, coisa de R$ 20.000,00, gastou R$ 1mi construindo no lugar prédio novo e faturo R$ 20mi vendendo apartamento financiado pelo caixa

  • [ O fato é que a decisão atendia ao planejamento estratégico da companhia definido em 1999, no governo FHC] Essa é a única verdade que interessa, pois tudo que foi decidido antes o petismo tá obrigado seguir. Até mesmo ter que dá guarida aos todos corruptos anteriormente criados

  • O quê? A Petrobras AINDA está na defensiva? Quando vão cortar esse papo? Se meus vizinhos ficassem dois meses perguntando se minha santa mãe é uma vigarista, até ela iria acreditar que trabalhava rodando bolsinha. Sugestões? Pergunte pro próximo repórter se o patrão não compraria uma estação de TV nos EUA se tivesse a chance. Ou na Itália. Ou se criar uma empresa em paraíso fiscal para sonegar impostos que seriam usados na educação e saúde no Brasil é um método legítimo de se fazer 'bons negócios'...

  • COM GABRIELLI,nada ficava sem respostas,que volte ELE,tire a mulher,que não sabe responder à ALTURA.

    • [ O relatório é falho e omisso como disse a presidente Dilma?
      José Sergio Gabrielli - Acho que não (foi falho). Ele foi omisso. Sem dúvida nenhuma foi omisso porque as duas cláusulas mencionadas (Put Option, que obrigou a Petrobrás a comprar a outra metade da refinaria, e Marlim, que compensaria a então sócia Astra por possíveis prejuízos) não constavam da apresentação feita aos conselheiros. ] Os conselheiros, como Dilma, só podem responder pelo que constava no relatório e nada mais. Nenhum tinha como saber de nada que não tivesse nesse

  • Sou muito mais Gabrielli. Essa Graça está sendo uma desgraça para a Petrobras. Fraca, em todos os sentidos.

  • Tenho me manifestado desse ponto de vista, e esta situaçao esta a ponto de CPI porque dilma e graça quiseram e se mntiveram comu suas opinioes.

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