Gadelha e o filme do PT: a diferença entre o medo do futuro e o medo do passado

Reproduzo, por sempre confiar em sua análise de publicitário, o texto em que  Hayle Gadelha, veterano de campanhas eleitorais, analisa o comercial veiculado pelo PT que está deixando a direita em alvoroço.

Concordo integralmente com suas restrições a “comerciais”  com tom “pra baixo” – sou adepto de carteirinha da frase de Joaosinho Trinta sobre o gosto intelectual pela miséria, na comunicação – mas reconheço que o filme teve o poder de despertar, na direita, seu grande medo: o da comparação.

Será este, de novo – e não há como deixar de ser – o eixo do debate de 2014, como o foi em 2006 e 2010, nesta um pouco menos, diante do momento de recuperação da auto-estima que o país vivia, então.

A diferença entre o medo e o medo

Hayle Gadelha

O PT fez o que a mídia imediatamente chamou de “vídeo do medo”, associando-o ao comercial de Regina Duarte, em 2002, contra Lula. “PT aposta no medo na propaganda do partido” mancheteou o GloboOn de ontem.E depois: “O marqueteiro João Santana produziu um vídeo plagiando o polêmico e criticado discurso do medo, usado pelo PSDB na campanha de 2002”.

Faz sentido. Não tem como não associar um ao outro.

Ao invés do tradicional clima alegre, festivo, que costuma povoar as propagandas partidárias, vem um vídeo mais tenso. Mas há uma diferença abismal entre a propaganda do PT deste ano e a do Serra de 2002.

Em primeiro lugar, Regina Duarte, como atriz global de prestígio, dirigia-se pretensamente a “todo o povo brasileiro”, mas era mais especificamente à classe média que partia de corpo e alma para abraçar Lula – sem medo de ser feliz.

O vídeo petista deste ano dirige-se bem claramente – com muita precisão, aliás – à Nova Classe C. E faz bem em fazer isso. Quero mais uma vez lembrar o que escrevi aqui, em abril de 2011 (“Povão” ou “Classe Média”: em defesa de Fernando Henrique), analisando um texto do ex-presidente tucano:FHC ainda demonstra mais um momento de lucidez ao aconselhar o partido “a priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia”. Ele está apostando nas parcelas da nova classe média que vão procurar se adequar a novos valores, esquecer que um dia já foram “povão”.

Foi exatamente esse pensamento que motivou a nova propaganda do PT, certamente a partir de muitas pesquisas. Parte do “povão” que virou “nova classe média” provavelmente deslocou-se para aquela faixa dos “indecisos”, mais suscetíveis ao chalrar tucano. Era necessário abrir os olhos para essa tagarelice. Daí o trabalho de recordar o passado recente.

E essa é a grande diferença entre os dois medos.

Regina Duarte trabalhou o medo do futuro, dirigido principalmente a quem sempre viveu bem. O PT trabalhou o medo da volta a um passado recente, dirigido a quem sempre viveu mal, e agora está bem melhor.

Pessoalmente, não gosto de propagandas tensas, porque me parece que se voltam contra quem faz. Mas reconheço que essa peça é muito bem produzida, inteligente e convincente.

Só não atinge quem nunca precisou ter medo de ser infeliz.

 

Fernando Brito:

View Comments (32)

    • O medo da Regina Duarte do PSDB: Medo de uma possibilidade que não se concretizou.
      O medo do PT: Voltarmos ao passado terrível que aconteceu e nos fez sofrer.

  • Cada brasileiro, cada empresário, cada indivíduo, todos nós deveríamos analisar a época em que nos vivemos melhor: antes de 2003, ou de 2003 em diante! Quando ganhamos mais dinheiro? Quando viajamos mais para o exterior ou mesmo dentro do País? Quando conseguimos consumir mais ( comida, carro, outros bens consumíveis )?. A situação pode piorar? Pode! Basta começar a reduzir a base monetária ( dinheiro que circula ) existente no País, aumentar o preço dos combustíveis para atender os acionistas da petrobrás ( antes dos acionistas, existe o povo brasileiro )e esta é a propostas das legendas 40(PSD) e 45(PSDB), então, pergunto: vale a pena mudar?

    • Por falar em acionistas, basta ver o que aconteceu com a Sabesp: não investiu em tratamento de água e pagou fortunas para os acionistas. Deu no que deu!

  • Brasileiros,

    Nos tempos atuais, em um domingo qualquer, pelo horário das 7:30 h da manhã; o distrito industrial da minha cidade tem muito mais movimento de carros e pessoas do que numa segunda-feira dia útil do ano de 1.999, ano no qual perdi meu último emprego de carteira registrada. Hoje sou empresário realizado.
    Eu como milhares ou talvez milhões de outros brasileiros, me sinto protagonista deste comercial.
    Neoliberalismo nunca mais.

  • Muito bom!
    Pra competir com a farsa demo tucana da mídia, temos que criar várias pecas desse nível.
    Que dizer,a qualidade e a verdade, superando a mentira porca veiculada contra o governo, diariamente, pela mídia desesperada,macomunada com a fraca oposicao.

    José Emílio Guedes Lages-Belo Horizonte

  • Nunca passou pela minha cabeça de forma alguma a volta ao passado, sempre soube que quando começasse a divulgar os feitos do Governo Federal pelo imenso Brasil, de imediato as pessoas conseguiriam enxergar-se no contexto e assim descartar os lixos que são jogados no dia a dia dentro das nossas casas pelo PIG.
    Viva o povo Brasileiro, viva o partido dos trabalhadores!

  • Como psicólogo, entendi perfeitamente o que o marketeiro fez. Foi colocar densidade na discussão, foi sair da tal "euforia", da "mania" e apostar na densidade da "depressão". E isso foi importante! Ninguém cria na euforia, mas na depressão; ninguém aprofunda (o nome já diz tudo) jogando confetes e serpentinas, mas refletindo, sentindo a dor ou - neste caso - revivendo esta a fim de dar valor ao que se alcançou. A direita sentiu o golpe no fígado mas ainda vai sentir no queixo. Sentiu porque o PT falou de um medo de fato, não imaginário, tais os que eles propagandeiam de que a inflação VAI subir; o país VAI quebrar; a luz VAI faltar. Ou seja, falam em apostas e desejos muito mais do que fatos.

    Com isso, as pessoas vão perceber qual é o medo verdadeiro: O de atravessar a avenida Brasil de olhos vendados, ou o medo de achar que algum foguete vai cair sobre sua cabeça.

  • Concordo com quem disse que o PSDB e PSB dançaram! Esse vídeo “Fantasmas do Passado” é simples e objetivo, mas ao mesmo tempo “demolidor” porque de forma sensível toca na “memória afetiva” de muita gente, como, por exemplo, a minha que naquele tempo ao terminar meu curso técnico fiquei dois anos procurando emprego! Era angustiante e você se sentia impotente diante da vida. O “filme” não prega o “medo” do desconhecido tal como fez a atriz Regina Duarte na campanha de 2002, mas traz a memória “momentos reais” que muitos de nós talvez desejássemos esquecer, mas recordar é viver. Não é mesmo? Quem o vê logo se lembra da sua situação no passado, de algum parente, vizinho ou amigo próximo quando o desemprego era algo real que atingia imensas parcelas da população. Era comum se formarem enormes filas de desempregados quando algum estabelecimento anunciava a contratação de funcionários mesmo para posições que exigiam pouca qualificação. Não era difícil encontrar “engenheiros” ou profissionais mais especializados nessas filas. E hoje isso nem é constatado nas pesquisas como a maior preocupação entre os brasileiros, quando antes o desemprego era o item principal da pauta nacional. Essa é, de fato, a primeira “bofetada” para ver se esse “gigante adormecido em berço esplêndido” realmente acorda pra vida, mas virão outras quando os dados de educação, saúde, IDH, PIB e inflação forem honestamente divulgados e comparados com o passado recente do período tucano de FHC. E aí vem o Aécio e o Eduardo Campos “entre quatros paredes” e anunciam para os maiorais do PIB Nacional as tais “Medidas Impopulares”? Xô! Tô fora! Não tem jeito não! Eu vou é cravar 13 em outubro! Eu e minha geração devemos isso ao PT! É Dilma, outra vez, em 2014! Meu manifesto: #Ley de Medios Já! #PSDB nunca mais!

  • Eis um que não tem medo de continuar sendo feliz: O PARANAENSE SOLIMAR. Leiam sua emocionante carta "pra cima" ao PHA, no seu blog conversaafiada.

  • Perfeito, disse tudo. O PT precisa desenvolver, também, uma campanha tão contundente quanto esta para conquistar os jovens, tem que enfatizar o sucateamento das universidades e a proibição da abertura de novas escalas técnicas no tempo de FHC e tem que deixar bem claro que o Arrocho Neves apóia e é apoiado por FHC.

  • Como meu filho sempre diz, sou suspeito ao elogiar qualquer coisa que se refere ao PT. Mas olha, o vídeo é demais!

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