Galeano se vai, num tempo em que irmão desconhece irmão

Nos anos 70, Paulinho da Viola escreveu a música  “Pecado Capital”, para uma novela da Globo onde um motorista de táxi, Francisco Cuoco, achava uma mala de dinheiro e, por ele, mudava de caráter e de comportamento.

Na letra, a certa altura, dizia que, naquela situação, “irmão desconhece irmão”.

Nos anos 70, “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, abriu a cabeça de milhares de jovens de minha geração não apenas para as identidades na dor e no saque colonial que nos uniam aos povos da América Latina, mas também para a sinergia que esta consciência trazia para os processos de libertação.

Hoje, Galeano se foi, ao 74 anos.

Galeano fez tanto, pensou tão grande e com tanta humanidade que certamente não merecia ver, no seu fim, a mediocridade dominante hoje em grande parte da elite e da mídia, que recusa esta identidade e a transforma em xingamentos obtusos, com conceitos absurdos de “bolivarianismo” vomitados  com ódio, por gente que lobotomizou seus cérebros com ódio.

Tem a sofisticação de pensamentos e sentimentos daquele motorista interpretado por Cuoco, que despreza seus iguais e vê-se grande quando escolhe ser anão.

Ganhe o seu dia com o belo vídeo que reproduzo abaixo, uma entrevista ao jornalista Eric Nepomuceno, que não ousa, por amor e admiração, roubar um segundo sequer do que diz um grande homem.

Fernando Brito:

View Comments (25)

  • Vai, queridíssimo companheiro de dias, anos! Companheiro de horas, de viagens ao passado, cheias de esperança no futuro. Seus escritos fizeram muito do que há em mim, em sangue de hemorragias incuráveis. Obrigado, Galeano! Obrigado, povo uruguaio! Obrigado, gentes de América e de Mundo capazes de se verem como somos: gentes. De uma gente só.

    PS - Não sei como Eduardo morreu - se é que morreu -, mas a impressão que dá é que ele só descansou quando viu Raúl falar de frente para o império, de sua paixão, de nossa América.

  • "As veias abertas da América Latina" é um dos melhores livros que li.

  • Ficamos com essa morte, que não será morte, nós da Gran Patria, um pouco órfãos.

  • Magnífica entrevista que valeu meu dia, desse esplendido escritor com alma generosa. Estava pensado em um livro para ler e ao ouvi-lo me decidi.

  • Muita tristeza.É duro ler esta noticia.Grande humanista, uma grande pessoa.

  • Fico muito triste! Aprendi a admirar este grande ser humano que sempre será em nossos corações. Vá em paz Eduardo Galeano! Você será eterno.

  • Eduardo Galeano, é uma verdadeira oficina de lapidação da alma humana. Uma perda incalculável.

  • Palavras de ordem dos coxinhas : VTNC e FDP.

    Isto é que é ser fino e da elite.

Related Post