Não há nada mais desagradável que teimar com verdades duras, ainda mais para os que, por décadas, vivemos para proclamar esperanças, progressos, visões de uma vida melhor.
Sinto isso, a toda hora, com meus amigos de mais de 40 anos, companheiros de uma vida inteira, que vejo agarrarem-se à parca, ainda que tocante, alegria de ver pai ou mãe. ou ainda amigo mais velho, sendo vacinado e ganhando a esperança de sobreviver.
Mas sei que estou errado em contaminar-me deste pequeno raio de sol enquanto vejo dezenas ou centenas de seres humanos indo para a morte sufocante, da falta de ar, da solidão absoluta, que não se abrande sequer com um afago final aos corpos mortos.
Esta é a aziaga realidade e, ainda que funesta, nefasta, está diante de nós.
As projeções mais modestas já nos dão “de barato” 400 mil mortes. Há quem fale – e acho otimista, em meio milhão de vidas perdidas.
Sem contar, é claro, o quanto de vida que nós, sobreviventes, perdemos vendo este quadro.
Há 14 meses estamos batalhando para que se dê à pandemia o zelo que ela merece, por seu perigo.
Perdendo leitores, por , talvez, nos ocuparmos pouco tempo com “tretas” e pequenos escândalos, destes de fácil digestão e nenhum efeito.
A vida se torna um inferno, mas quem diz que ela não é suportável assim é taxado de radical, pessimista, alarmista.
Será que se pode dizer isso de quem não aceita 60 mil mortes por mês?
Peço aos leitores que repassem o que se disse aqui e veja onde houve exagero.
Há um genocídio em execução, porque não é possível chamar de outra forma a morte em massa que estamos metidos.
As instituições republicanas podem até – tomara – criar obstáculos aos projetos homicidas e autoritários de Jair Bolsonaro, mas não podem derrota-lo politicamente.
É necessário compreender que é preciso desfazer a suposta legitimidade do atual presidente, que se alcançou pela via eleitoral, por ela é que se desfará.
E o que há de mais agudo para atingi-lo tem um nome: Lula.