O general Eduardo Pazuello foi à televisão anunciar o “início” da vacinação contra a Covid 19 em algum dia antes de 25 de janeiro, ou seja, em alguma data anterior ao início do plano de vacinação feito pelo governo de São Paulo com a vacina Coronavac, por acordo entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.
Seria ótimo, se não fosse uma mentira, uma vacinação, como tenho chamado aqui, de “coreográfica”.
Por uma simples razão: o governo brasileiro não tem vacinas e vai improvisar com um lote de dois milhões de doses arranjado às pressas na Índia, uma versão da “vacina de Oxford que, em tese, seria produzida – primeiro o envase e, a seguir, a formulação – aqui pela Fundação Oswaldo Cruz.
Em tese, porque até agora não há em território brasileiro uma gota sequer do ingrediente farmacêutico ativo, matéria prima essencial da vacina, e nenhuma transparência sobre a estrutura da Fiocruz que seja capaz de produzir o imunizante final na quantidade e no tempo necessários.
São Paulo tem, segundo afirma, perto de 11 milhões de doses. Uma quantidade mais que suficiente para aplicar a primeira dose em um quarto da população paulista e com um contrato de fornecimento que garantiria sua continuidade sem maiores sobressaltos.
Os dois milhões de doses indianas seriam suficientes para menos de 1% dos brasileiros, o que tem feito zero no bloqueio da propagação da doença e na mitigação do número de mortes nos grupos de maior risco.
Aguarda-se, ansiosamente, saber quando chegará o material para produzir as quantidades que a Fiocruz promete entregar e sua capacidade de processá-lo.
Pazuello frisou que o Brasil tem uma quantidade de seringas e agulhas para iniciar o processo de vacinação.
Sim, tem.
O que o Brasil não tem, exceto em São Paulo, vacinas para isso.
Todos os 350 milhões de vacinas anunciados por Pazuello são virtuais, à exceção dos já armazenados pelo Butantan, que correm sério risco de serem confiscados.
É a única forma da vacinação federal não começar numa semana e parar na seguinte, por falta de imunizantes.
Vem aí um espetáculo de arbítrio e espetacularização de uma vacinação completamente insuficiente e desorganizada.
O “Show do Agulhão”.