Não estamos a 62 dias de uma eleição democrática, estamos a 62 dias de uma imensa crise institucional.
Fossemos viver, dia 7 de outubro, um alegre domingo onde, reunidos num parque, iríamos escolher o melhor entre nós para liderar o país na primavera, bem, estou de acordo que poderíamos estar discutindo personalidades, métodos partidários, renovação política e outras questões que têm seu mérito inegável.
Parece óbvio, porém, que não estamos.
Estamos a um passo de assistir um retrocesso como não se vê há 40 anos neste país e, talvez por este afastamento geracional não seja percebido em toda a sua dramaticidade.
Existem, porém, evidências de que estamos nesta iminência.
Como antes com os militares, um corporação – a judicial – assumiu a tutela do país.
À sua sombra, pretendem transformar a eleição presidencial em mera formalização de uma escolha de governantes que, de outra forma, jamais seriam os escolhidos pelo povo brasileiro. Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro são tão pouco representativos da vontade popular que só podem vencer pela fraude judicial que o processo eleitoral se tornou.
Mesmo nela, a toda hora – como se vê agora, na ameaça de “inovação” nas regras de registro de candidaturas – precisam de chicanas jurídicas para reeditar, quase 70 anos depois, o sr. Carlos Lacerda: “O Sr. Getúlio Vargas, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”
Não, senhores e senhoras, esta não é uma disputa florida e intelectual entre candidatos a presidente, é uma guerra contra o mergulho definitivo na barbárie social e política, no saque colonial e na fragmentação da unidade nacional.
Não se iludam de que haverá um governo conservador na economia, mas algo liberal na política e nas liberdades públicas: o modelo selvagem que desejam para o Brasil é incompatível com a democracia e estamos assistindo a isso, na prática. Com a “legitimação eleitoral” que, ao menos, falta até agora, aí é que veremos os arreganhos.
A liquidação do país é incompatível com a manutenção de um ambiente democrático.
Fiquem os que quiserem com seus purismos algo religiosos. Este humilde escriba, aqui, porém, não quer ser herói ou santo à custa do lombo do povo brasileiro. Não quer chegar ao final das eleições “limpinho e cheiroso” dizendo que “não tem nada com isso” e que “não votou no Aécio”.
A história é impiedosa com quem vacila nos momentos decisivos e temos aí, diante de nós, a figura deplorável de Marina Silva, prestando-se a iludir simplórios com seu ar sofrido, mas vivendo de servir ao que há de mais reacionário em nossa sociedade. Não faz muitos anos, gente de boa-fé pedia que se a poupasse de críticas, pois, afinal, ela estaria no “campo popular”. Bem vimos onde está…
Felizmente, parece que estamos assistindo a uma confluência, ainda que aos trancos e barrancos, das forças democráticas do país.
Lideranças com capacidade transformadora levam décadas para serem construídas, num processo de erros e acertos, de desvios e correções de rumo, só possível quando se tem uma ligação atávica com o povo brasileiro para servir de Norte, de bússola. Quando é só teoria ou suposta ideologia, o dito cujo acaba por ir-se embora servir aos senhores, como foi Fernando Henrique, o cortesão.
Temos uma – e que uma! Quem suportou e suporta o martírio de Curitiba, maior que o exílio de Vargas em São Borja, tem ombros para carregar o renascimento deste país.
Os outros, que ainda não se testaram em combate, são importantíssimos e merecem todo o respeito.
Mas numa guerra como esta em que estamos, desculpem-me, o comando não pode ser exercido em assembléia. Porque a batalha não pode ser perdida, a menos que queiramos lançar o Brasil e os brasileiros numa terra arrasada.
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Não votem em candidatos que promoveram ou se calaram diante do Golpe de Estado e da lenta, gradual e segura transição a ditadura. Simples assim.
Não. Não é simples assim. Releia o texto.
Sim é simples. Ao invés de ficarmos lançando petardos uns contra os outros deveríamos estar nas ruas convencendo a população de usar a única arma que ainda temos nas mãos. Uma votação consagradora de qualquer ou de todos os partidos e candidatos que estão em contra do Golpe seria o primeiro passo para barrar o novo regime que nos querem impor a força.
Seria mais inteligente, em sua opinião, ir para as ruas convencer as pessoas a votarem num candidato que tem 5% das intenções de voto e que provavelmente será impedido de governar caso eleito? Ou seria mais sábio apostar todas as fichas naquele que é líder das pesquisas e já é reconhecido mundialmente como um preso político injustiçado? Aproveitar o cacife de Lula, juntar todos os candidatos progressistas nessa luta por sua candidatura, junto ao povo que já é lulista? Porque a luta é muito maior, mais séria e mais profunda do que tentar ganhar uma eleição a todo custo. A luta é pela retomada da democracia.
Pela volta da democracia e em torno de Lula sempre foi e continua sendo o melhor caminho para as forças progressistas. Quais? Aquelas que não apunhalaram Dilma pelas costas. Os traíras podem se recolher à insignificância. Só estão de volta porque a maré mudou. Mas não hesitarão em trair novamente.
Os golpistas contam com nossa derrota. Essa não é "apenas" uma eleição. É um plebiscito. Quem está com o Golpe ou contra ele. Não fomos capazes de impedir o golpe contra Dina, não fomos capazes de impedir prisão de Lula, não fomos capazes de por nossos eleitores, simpatizantes, militantes e lideranças na rua numa enorne mobilização. Temos uma eleição, e não "apenas" uma eleição. Todos nós queremos Lula candidato e Lula presidente. Os golpistas não vão permitir. Isso é un fato contra o qual não conseguimos até aqui gerar outro fato que modifique essa realidade. Uma eleição nunca é um detalhe em uma democracia, mais ainda agora.
Concordo com o Fernando Brito. Combater o golpe é aceitar disciplinadamente a estratégia definida pelo general Lula. Pois estamos em tempos de guerra. Adoro assembleias. Quando era diretor de sindicato fazia assembleia quase que semanalmente. Ao ponto de meus chefes reclamarem: "você tem mandato e a confiança da categoria. O que você falar o pessoal segue, apesar de não gostarmos disso. Precisa fazer assembleia o tempo inteiro?" MAS, agora, precisamos é da responsabilidade e da experiência de quem sabe dar respostas táticas e estratégicas no tempo correto. Que se f... os muxoxos dos revolucionários de redes sociais. Destruir o golpe não é meramente sair cassando um ou outro golpista de ocasião. É solapar as bases e motivações máximas que deram origem ao golpe. E só quem pode fazer isso é Lula. Ou algum quadro extremamente disciplinado que Lula venha a escolher, se for o caso.
Faço minha suas palavras, Policarpo.
Acordo e vou ler os blogs de política e o que vejo? Clima de barata voa no pt. Está claríssimo que se o voto dos brasileiros referendar o golpe, será devido à desunião das esquerdas graças ao caudilhismo e o sebastianismo do Lula e do pt. Ainda bem que Lula tem tempo de sobra de alternar no cárcere os gritos de "vocês me devem um pedido de desculpas" com as tentativas de influenciar e corrigir ou justificar os desvarios desta incompetentíssima presidenta do pt, a Gleisi.
Não é com esse discurso baixo de cabo eleitoral de boteco que você vai convencer alguém por aqui.
Lula e o PT estão fazendo de tudo para convencer o seu candidato, Ciro Gomes, a compor uma chapa e se engajar efetivamente na luta contra o golpe. Mas o ególatra prefere espancar Lula e o PT, para ficar bem diante da plutocracia midiática e sua claque.
Os pedetistas estão superestimando suas forças e possibilidades neste momento. O preço cobrado é demasiado e inaceitável. Ciro não quer um acordo, quer tudo e pode terminar sem nada.
Mais uma crônica para a história. Sugiro que sejam transformadas em livro, porque serão um precioso retrato desta época para os que a estudarem no futuro.
Perfeitamente de acordo com seu comentário. Fernando Brito, com suas crônicas, nos dá um semblante que relutamos em não perder. Um semblante de fé e, malgré tout, que ainda queremos ostentar. Lutemos!
Perfeitamente de acordo com seu comentário. Fernando Brito, com suas crônicas, nos dá um semblante que relutamos em não perder. Um semblante de fé e, malgré tout, que ainda queremos ostentar. Lutemos!
A cada texto que aqui leio me convenço que não estou louco com minhas idéias e ideais, compartilho deste posicionamento e sinto que o momento é histórico e grave, mas há pessoas (poucas) que ainda conseguem enxergar.
Realmente precisa ser transformadas em livro.
Seria possível manter esse texto sempre no alto do blog? É perfeito para esclarecer os navegantes.
apoio integralmente a ideia do livro, bora Fernando Brito!
A dor ensina a gemer, diz o ditado. Infelizmente muitos que melhoraram de vida durante os governos do PT acharam que era por mérito próprio e arvoraram-se em melhorar sua posição social. Esqueceram que a vida só melhorou porque as oportunidades foram criadas pela substancial melhora na economia do país. Isso vale para empresários e trabalhadores. Os mesmos que bateram panelas, pensando que faziam parte da elite do país, hoje estão desempregados ou amargam a desgraça de terem que fechar suas pequenas e médias empresas, voltando à estaca zero. Eles não sabiam que a verdadeira elite não tolera pobres e "remediados" em seu meio, a menos que estes lhes dêem maiores lucros. Agora eles viram que não são benvindos na "sociedade superior", senhora de tudo e de todos. Benvindos à realidade cruel.
A mãe das fraudes eleitorais é na apuração das urnas, como em Honduras.
O que defendo é a chapa Lula/Ciro. Quando a máfia de toga cassar Lula [cassarão], Ciro assume a cabeça de chapa. Se houvesse coligação com o PSB, este indicava o vice, e o PT trabalharia para eleger a maior bancada no Congresso e governadores de toda sua história. https://blogdobriguilino.blogspot.com/
Joel, leia acima o programa mínimo do Ciro. O pt não aceita porque é muita areia para o seu caminhãozinho. Ele, o pt, prefere apoiar golpista porque fica mais fácil governar.
Até onde sei foi Ciro que não aceitou ser vice na chapa de Lula, ele quis desde o início surfar na onda da prisão de Lula e de um certo antipetismo light. Seu programa de governo de nada adiantará se for tão vão e mutável quanto as atitudes de Ciro, ora furioso aos berros contra o golpe ora conformado e criticando Lula em pleno processo de perseguição política.
Até onde sei foi Ciro que não aceitou sequer a possibilidade de ser vice na chapa de Lula, ele quis desde o início surfar na onda da prisão de Lula e de um certo antipetismo light. Seu programa de governo de nada adiantará se for tão vão e mutável quanto as atitudes de Ciro, ora furioso aos berros contra o golpe ora conformado e criticando Lula em pleno processo de perseguição política.
CIRO é só mais um vigarista de direita. Não vale um tostão furado como diria Jessé Souza. Lula é gigante pq o povo é Lula e Lula é o povo. Poucas pessoas conseguem entender o povo e sua inteligência pragmática. Leia a Elite do Atraso de Jessé Souza e tente refletir junto com ele. CIRO coronel e abutre não impressiona #LULA.
Romero, é exatamente pelo programa que votarei em Ciro
Não qurerermos acordo com ninguém
Quando se lê o título é automático pensar em Ciro forçando a barra....
Joel Neto Ciro não aceitou, porque ele teria de continuar a sr vice, mesmo que Lula fosse definitivamente impedido e ele teria de sr vice de alguém esolhido por Lula como o Haddad, por exemplo, e ele, Ciro não admitiria isso!!!!!
Mais um excelente texto de análise da nossa realidade. De fato, Lula é o único comandante e líder popular experiente capaz de mobilizar a população e realizar as necessárias articulações para quebrar a espinha do golpe. Não é à toa que ele tem sido caçado feito cão danado, dia e noite, pelos principais executores do golpe: a mídia e o judiciário. Na sua sabedoria intuitiva o povo já deixou claro em quem confia para governar o país. Mesmo preso e atacado pela mídia golpista, Lula lidera com folga todas as pesquisas. Retirá-lo das eleições, após o processo-farsa que o trancafiou - ou exilou - numa masmorra de Curitiba é o mesmo que tornar essas eleições em mero gesto homologatório do ritual traçado pelo golpe. E ainda tem candidato no campo da pseudo esquerda que finge que nada disso está acontecendo, torcendo para que a prisão política de Lula se estenda pelo menos até o final das eleições.
Incrível como você Fernando consegue escrever de forma simples e direta a complexidade do momento que passamos.
Somente pessoas com um nível elevado de conhecimento teórico e vivência pratica conseguem isso.
Depoisdecada movimento do tabuleiro fico na expectativa de ler sua avaliação.
Dentro outros, destacaria você, Mauro Santayana e Mário Magalhães cujos textos são primorosos.
Farsa judicial para impor seus candidatos preferidos no Planalto. Vergonha é para quem tem, né TSE e Supremo? Esse com certeza, é o pior judiciário de todos os tempos.
Impecável análise. É de assombrar o número de pessoas no campo progressista que profere barbaridades sobre preferências partidárias e discute detalhes como se essa fosse uma eleição normal. Só a fraude judicial patrocinada pelos "mercados" elegerá Alckmin, uma tragédia anunciada a nível federal. Como governador de SP, Alckmin foi um desastre de proporções épicas só escondido graças à cumplicidade da mídia hegemônica, essencialmente tucana. Nem mesmo em SP, hoje em dia, ele ganha, o Ibope já constatou que Lula lidera as intenções de voto para presidente também aqui no tucanistão.
O que será do Brasil quando esse grupo canalha tucano, agora piorado graças à companhia perniciosa da extrema direita travestida de "centrão", assumir o país contra a vontade da maioria? Ao lado de uma Ana Amélia que é a quintessência da estupidez fascista, só um pouquinho menos brucutu do que Bolsonaro?
Não se inventa democracia sem povo não se inventa vitória sem voto,seja qual for o resultado dessa farsa eleitoral o Brasil será ingovernável,sem Lula a eleição é ilegítima . Com o psb e sem Marília;eleição sem tesão.Que direito temos de falar em Democracia se a vontade da BASE Pernambucana for ditatorialmente ignorada,ou a BASE não é mais POVO?