Os anos de lavajatismo, com direito até a filmes blocbusters sobre a Polícia Federal geraram nela – e em outras corporações, um efeito terrível.
Como em qualquer instituição pública, seus funcionários têm todo o direito de reivindicar aumentos e benefícios.
Mas não têm o de, em troca deles, permitir que a PF seja “ferramenta publicitária e de marketing político” de um governante, qualquer um.
É exatamente o que assume hoje, em nota pública, o que faz a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), ao dizer que:
“Caso o presidente da República, Jair Bolsonaro, descumpra o compromisso público [de conceder aumentos salariais] assumido por ele diversas vezes, os policiais da União não se manterão inertes diante do uso da valorização da segurança pública e da excelente imagem da Polícia Federal como ferramenta publicitária e de marketing político”
Como assim? Quer dizer que, dando aos policiais federais aumentos acima dos dado a demais categorias do serviço público, a “imagem da Polícia Federal” pode ser usada em “marketing político”?
Nem se discute se remunerar melhor e valorizar a carreira do servidor policial seja justo, mas sempre será absurdo que isso dê a um governante o “direito” de usa-la promocionalmente.
Quer dizer que, “Sem aumento, FBI recusa apoio a Trump”? ou “Por reajuste, a Gendarmerie francesa, indica apoio a Le Pen”?
A corporação, salvo por sofridas exceções, que foram marginalizadas, pegou carona em Sergio Moro e depois, perdida a “alça”, no próprio Bolsonaro, com disputas sobre quais delegados era mais próximo a famiglia, qual era mais “amigo da Casa de Vidro” para dirigir a PF e suas superintendências.
No final do mandato e com o país arruinado, ele acenou com vantagens imorais a uma categoria (ou duas, se considerarmos a Polícia Rodoviária Federal) em detrimento de outras. E os dará, porque sabe que o controle da polícia lhe é vital, tantos desarranjos há em seu governo.
Não é preciso exporem-se assim, na base do “me paga e me usa”, porque isso é uma vergonha para sua missão legal.