A reportagem da Folha sobre a “frente antiDoria” que se formou em São Paulo – reunindo Geraldo Alckmin, Márcio França e Paulo Skaf – não deve fazer com que se exagere no otimismo de que candidatos de esquerda venham a vencer, desta vez, as eleições no maior estado da Federação.
Sim, Geraldo Alckmin tem o sabor de chuchu de ontem, posto na geladeira eleitoral depois da acachapante derrota nas eleições presidenciais.
E sequer pode reclamar da traição de sua cria, João Doria, a quem “inventou” em 2016 como este “inventa” agora o inexpressivo Rodrigo Garcia para a a vaga de governador.
Doria é, afinal, uma de suas obras, ainda que tenha desabado sobre ele mesmo.
Não tem sentido para ele uma estratégia “antiDoria” justamente porque ela terá um sentido de recalque, vingança, acerto de contas. O que, para o eleitor, não tem nexo, até porque a gestão Doria é ruim, mas não desastrosa e absolutamente semelhante à que os tucanos fizeram ao longo de mais de duas décadas.
O que lhe dão as pesquisas são mais recall que esperança.
Além do mais, teria de torcer furiosamente para que a eleição presidencial terminasse no 1° turno ou que pudesse ser, ao contrário do que as pesquisas indicam, acirrada numa segunda volta. Porque, como é certo que em São Paulo haverá segundo turno, sem empurrado para um Bolsoalckmin lhe seria desastroso.
Outro integrante da trinca, Márcio França, depois de duas candidaturas derrotadas na duas últimas eleições, nelas não conseguiu decolar mesmo já contando com o apoio de Geraldo Alckmin, ainda que velado. Ainda assim, é difícil que abra mão de suas ambições para, outra vez, repetir a dose de 2014, quando foi vice de Alckmin com a promessa, afinal não cumprida, de ser seu sucessor quando este fosse disputar a eleição presidencial.
Paulo Skaf, o “homem do pato” da Fiesp, não tem como almejar ser um candidato viável sem o apoio de Bolsonaro, que pende, entretanto, para o seu “Capitão Tarcísio”. Este vai crescer, roubando votos de toda a direta, à medida em que pode e vai absorver o não pequeno eleitorado bolsonarista do Estado. E com mais potência, talvez, em razão de medidas demagógicas que estejam ao alcance do atual presidente.
Vê-se, portanto, que o campo da direita, em São Paulo, caminha para uma situação – perdão, Mário de Andrade! – antropofágica e isso deixa sequelas num segundo turno.
Cabe ao campo da esquerda não repetir o cenário – e isso, ainda bem, não ocorre até agora – na disputa entre Guilherme Boulos e Fernando Haddad.
Não apenas por São Paulo, mas pelo Brasil, que depende da eleição de uma forte bancada de esquerda entre os 70 deputados federais do Estado.
Vencer a eleição paulista é possível, mas não é vital para a eleição decisiva, que é a de Presidente e da que dê a ele a necessária base para governar. É isso que tornaria viável uma inédita vitória da esquerda em São Paulo.