Boa parte da sociedade brasileira ainda não se deu conta de que, se temos um governo bandido, seus métodos para lidar com a realidade são os criminosos: fazer aquilo que o faça ter mais ganhos, sem limites éticos, morais ou mesmo humanitários.
Não preciso explicitar o modelo histórico que referenda este raciocínio, nein?
Fernanda Brigatti e Tayguara Ribeiro publicam hoje, na Folha, boa reportagem dos os depoimentos de quem está ficando sem o que resta do auxílio-emergencial e sobre o imenso contingente de brasileiros que eles compõem.
Dão nome e rosto a pessoas que são milhões:, 4 em cada 10 brasileiros em idade de trabalhar, ou 67,9 milhões de beneficiários.
E convertem em pequenas grades necessidades – o ‘dicumê’ -os R$ 32,4 bilhões por mês que o auxílio injeta no consumo popular.
(cabe um parêntesis: com a apropriação pelos mais ricos da riqueza nacional, este dinheiro também é rapidamente bombeado para o andar de cima, e não mais o será).
Não é, portanto, necessário ser um grande economista – servem até os da “Escola de Chicago” para percebê-lo – a que grau de crise social nos levará a descontinuidade do auxílio em meio a um inevitável quadro de semi-paralisia a que o recrudescimento da pandemia nos está levando.
Portanto, não é um erro: é um plano.
Não tente entender o que faz Jair Bolsonaro pelo prisma da capacidade administrativa ou pelo do desenvolvimento econômico ou, muito menos, pelo do bem-estar social.
Sua ótica é outra, a mesma que têm as milícias: a legitimação da opressão pelo senso comum da ordem, seja a legal, seja a econômica.
O agravamento da situação econômico-social é peça indispensável na sua equação de poder. Surgir, como salvador, daqui a três ou quatro meses, com uma nova rodada de auxílios é muito mais rentável politicamente que mantê-lo agora e evitar a amplificação do caos.
É assim que a mente bolsonariana funciona e nenhum problema para ela há em dizer hoje o que negava ontem ou vice-versa, porque esta história de coerência é para os tolos ideológicos.
Não está sendo assim no caso das vacinas?
“Minha especialidade é matar”, já disse o ex-capitão, e não há dúvida de que o valor da salvação é tanto maior quanto seja grande a desgraça.