Monica Bergamo, na Folha, diz que senadores e ministros do Supremo Tribunal Federal esperam que André Mendonça desista de sua indicação a uma cadeira no tribunal, diante das resistência a aprovação de sua candidatura e, segundo a jornalista, da possível rejeição de seu nome pelos senadores.
Ontem, Silas Malafaia e outros pastores evangélicos foram a Jair Bolsonaro e a Rodrigo Pacheco cobrar o agendamento da sabatina do ministro-pastor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que o senador Davi Alcolumbre vem protelando faz tempo.
Não creio que vá conseguir durante muito mais tempo, até porque Malafaia tem sido explícito na ameaça de que o voto evangélico é decisivo em eleições majoritárias.
Se fosse a Divina Providência que guiasse a mente dos líderes pentecostais, Mendonça já seria ministro. Tem formação e capacidade jurídica compatível com o cargo, até porque o Supremo não é propriamente uma casa de saber jurídico inquestionável. Mas está sofrendo o efeito reverso da exploração indevida de razões religiosas que marcam, desde o berço, a sua escolha.
Fé religiosa nunca foi currículo, até que Jair Bolsonaro decretasse que o Supremo precisava de um “ministro terrivelmente evangélico”.
Nem que colocasse Mendonça, como advogado-geral da União, pendurado em defesa de temas repugnantes, como o uso da Lei de Segurança Nacional para protestar jornalistas e opositores.
Ou ainda que se prestasse a um périplo por templos evangélicos prometendo “submissão” aos bispos de várias confissões. O que lhe é espiritualmente adequado, na vida particular, não precisa ser bradado em público, porque evidentemente induz a crer no mesmo em sua atuação como possível ministro.
Há outra submissão em jogo, e esta faz com que os ministros sugiram a senadores que não há pressa em fazer de André Mendonça, embora pessoalmente bem quisto entre eles, um de seus pares. É que outro “terrivelmente submisso” a Bolsonaro, a esta hora, poderia ser um problema diante do embate do presidente com o STF, que está longe de ter sido extinto com a “carta-recuo” da semana passada.
Também a Bolsonaro, Mendonça prestou exageradas declarações de amor.
E ministro “submisso”, embora haja muitos, não é coisa para se dizer, nem na tribuna, nem no púlpito.