Inflação foi maior do que os índices mostram

Basta olhar os quadros publicados pelo IBGE para que se veja que a inflação de agosto não foi de 0,24% (para o IPCA, que mede os gastos de famílias com ganhos de até 40 salários mínimo) e de 0,36 (para o INPC, que faz o mesmo para famílias de renda até 5 SM).

É que pesou forte a “redução de gastos” com educação que não representam uma baixa de preços, mas abandono de cursos, indisponibilidade de creches, descontos oferecidos para manterem-se matrículas sem aulas ou mesmo a suspensão dos pagamentos, que deixaram, portanto, de serem despesas executadas, não uma queda nos valores. Além disso, a coleta de preços deste índice não foi realizada desde março.

Com a exclusão da queda do grupo educação, a inflação ficaria em 0,48% (IPCA) e 0,54% (INPC).

Mas também o item alimentação, que subiu cerca de 0,75%, reflete mal a realidade. É que bares, restaurantes e lanchonetes, que amargaram um prejuízo imenso, estão segurando preços para recuperar clientela e isso levou a alimentação fora do domicílio ter deflação de -0,11%. A compra de alimentos, porém, subiu bem mais, 1,15%.

Os aumentos foram brutais: tomate (12,98%), óleo de soja (9,48%), o leite (4,84%), frutas (3,37%), carnes (3,33%) e, sobretudo, os tradicionais arroz e feijão, que acumulam, no ano, altas acima de 20%.

Setembro deve ter, ainda, uma alta expressiva neste grupo, e continuará mantendo a inflação em alta, enquanto o auxílio-emergencial ainda é pago no valor atual, para enfrentar uma queda no consumo pela sua redução, no final do ano.

Mas isso não evitará que a inflação do ano fique acima dos 2% da taxa de juros oficiais. E, portanto, vão reacender as pressões para que eles subam.

Reparem na discrepância dos índices apurados pelo IBGE e pela Fundação Getúlio Vargas, especialmente o Índice Geral de Preços (IGP, um mix entre consumo, atacado e construção civil) e o Índice de Preços por Atacado, IPA, que mede o preço dos itens que são matéria-prima para a cadeia produtiva.

E estes, claro, não são a inflação do salário, mas a do capital.

 

 

 

 

 

Fernando Brito:
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