Impressiona a notícia de que a Procuradoria Geral da República abriu inquérito sobre a denúncia de que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria pedido propina – “um dólar por dose” – para comprar as supostas vacinas Astrazêneca oferecidas pela Davati Medical Supply através do cabo da PM Luiz Paulo Dominghetti.
Afinal, a história foi manchete da Folha há 25 dias. Literalmente, uma notícia crime sobre algo que vale mais que ouro para o país, neste momento: imunizantes contra a Covid.
Dominghetti foi campeão de audiência na CPI no dia 1° – 22 dias atrás, portanto – confirmando todo o pedido e desfiando um novelo de coronéis e tenente-coronéis ligados à história.
Não havia material suficiente para a abertura de um inquérito?
Que tanto segredo é este sobre coisas que estão sendo mostradas pela televisão em longas transmissões ao vivo?
No mundo da minha parca compreensão de jornalista, a demora – especialmente em um caso que aconteceu em março – é um grande prejuízo para investigações: papéis desaparecem, celulares vão parar no fundo do Lago Paranoá, versões são criadas e combinadas, vídeos são apagados…
Aliás, nem é o caso de investigar apenas se Roberto Dias estava ou não pedindo propina, mas todo o embrulho que isso envolvia, desde o grupo de espertalhões que alegava vender vacinas e o grupo de espertalhões-bobos que aceitava abrir negociações sobre o que era evidente picaretagem.
O que impedia esta turma estar prestando depoimentos, como já ocorre com outros “espertos” da Covaxin?
Não é compreensível que os senadores de uma CPI, onde tudo tem de ser discutido, votado – e com as intermináveis protelações da bancada governista e o falatório pluripartidário – possam ser mais ágeis que procuradores treinados para este tipo de apuração?
A ação da Procuradoria, como fiscal da lei, não pode ficar a critério dos procuradores e ocorrer apenas quando eles quiserem agir.