Com Bolsonaro ou contra Bolsonaro, Paulo Guedes e Sergio Moro, os dois ex-superministros têm mórbidas semelhanças: ambos são desprezados e humilhados todo o tempo pelo homem a que serviram de avalistas junto às elites brasileiras.
Se usam discursos diferentes para falar do homem que lhes serviu de estribo para ascenderem ao que pensavam ser o poder de mando – na Justiça e na Economia, partilham a mesma condição que
No Estadão, numa patética entrevista, diz que “faltou apoio parlamentar” do Governo para implementar o que diz ser sua “agenda liberal”. Como “faltou apoio parlamentar” a um governo que tem o controle absoluto do Congresso e mais de dois terços da Câmara dos Deputados? Se faltou, faltou a ele e sua arrogância extrema que conseguiu torná-lo um desmoralizado público e o levou ao penúltimo ato de humilhação, o de perder o controle das despesas públicas para Ciro Nogueira e para o Centrão.
Chamo de penúltimo porque há mais um: o da PEC Kamikase, com renúncia fiscal sobre os combustíveis, uma distorção tão grande que nem os liberais, sempre anti-impostos, conseguem defender. Só não foi o ato final de sua passagem desastrosa no Ministério, que só não termina porque ele se submete a toda e qualquer humilhação no seu ocaso, numa postura inversa aquela em que gozava do apelido de Posto Ipiranga. Nem na reforma da Previdência, na qual contava com o apoio militante de Rodrigo Maia, então presidente da Câmara conseguiu negociar e se “queimou” com propostas absurdas como a da capitalização e de pensões abaixo do salário mínimo.
Sergio Moro, “saído” do Governo com uma demissão anunciada pelas atitudes de Bolsonaro, também não teve capacidade, nem mesmo com um Congresso infestado de bolsonaristas, de avançar com sua pauta absurda de atropelos ao processo legal, com prisões e excludentes de responsabilidade, foi envolvido pela maioria parlamentar e fez rigorosamente nada em sua área. Se não fosse a ajuda providencial – e indecorosa – do presidente do Supremo, que providenciou uma “revogação por engavetamento” do juiz de garantias, a negação, na prática, de seus métodos como juiz: ser o “promotor” e o “julgador” ao mesmo tempo, transformando condenação e absolvições em meras consequência de seus desejos, interesses e “convicções”.
A ambição lhe sobra nas mesmas imensas quantidades em que lhe falta o senso de prudência e o o limite que não se impõe com o “conveniente”. Acostumou-se, como mau juiz, a achar que o mundo lhe deve obediência e que podia, assim como deixou de ser juiz para ser ministro (e perder a cadeira no Supremo compromissada como seu “seguro”) e, em seguida, deixar de ser ministro para fazer negócios, acreditando que isso seria um “passatempo” para quando decidisse ser presidente da República, aclamado pela mídia e pelas multidões coxinhas.
Como deve maldizer aquela tarde, no condomínio de Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, em que, pelas mãos de Guedes, consumou sua entrada no Governo.
Abriu o flanco para que o Supremo declarasse a sua suspeição como juiz, perdeu seus seguidores para Jair Bolsonaro e vê-se, agora, metido numa malcheirosa discussão sobre seus ganhos e a relação deles com as empresas que quebrou, anos atrás. Mais chabu não poderia dar.
Ele e Guedes tornaram-se símbolos de uma coisa só: do fracasso de quem achou que tinha conquistara todo o poder mas descobriu que seu lugar era de servo.
Acharam-se tigrões, eram tchutchucas.