Com a exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, esta semana, o Brasil não apenas começa a esclarecer as circunstâncias de sua morte – se natural ou produto de uma trama como a que atingiu diversos líderes latino-americanos, nos anos 70.
O depoimento do motorista do ônibus obrigado a assumir uma colisão que nunca existiu com o carro de Juscelino Kubitschek e que matou o ex-presidente está aí para provar que a crueldade e os encobrimentos de assassinatos não são fruto de imaginações ressentidas, mas possibilidades reais e palpáveis, cujo provar vai sendo erodido pelo tempo, transformando a dúvida em eternidade.
Por seus agentes ou por exílio e sofrimento, de toda forma a ditadura envenenou um homem e, afinal, o matou.
A exumação de Jango, porém, vai além do direito que sua família e seu país têm ao esclarecimento de sua morte. É, também, um momento para aprofundarmos nossa profunda ligação com o regime democrático e sua legalidade. Isso, em nosso mundo, é a única defesa dos povos contra o poder desmedido do capital – em todas as suas expressões, desde a militar até a midiática.
Jango, ao contrário do que foi dito por três décadas, não caiu por “agitação”, mas foi derrubado por uma conspiração. Um dos mais atentos estudiosos do seu governo, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira – por sinal um dos incrédulos quanto ao envenenamento – ressalta hoje, em entrevista a Zero Hora que Jango, “se teve alguma culpa foi porque defendeu interesses nacionais e aprofundou socialmente a democracia no Brasil.”
Como todo episódio histórico, seu detalhes podem ser discutíveis, mas o tempo se encarrega de revelar, com clareza, o seu sentido. Nossa experiência na última década mostra o que o golpe militar queria evitar, mas apenas conseguiu atrasar – é verdade que em décadas e gerações .
Abaixo, a entrevista de Moniz Bandeira:
Radicado há 17 anos na Alemanha, onde é professor nas universidades de Heidelberg e Colônia, o historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira domina como poucos a história de Jango. Amigo do ex-presidente, escreveu Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil.
ZH – Qual o legado de Jango?
Moniz Bandeira – Nenhum homem faz o que quer no governo. Faz o que pode. João Goulart recebeu o governo, emasculado pelo parlamentarismo, para enfrentar a crise econômica, social e política, agravada pela conjuntura de Guerra Fria. Quase tudo o que pôde fazer, o marechal Castelo Branco desmantelou quando se adonou do poder. Do que Goulart realizou, restaram raras exceções, como a Universidade de Brasília e o Estatuto do Trabalhador Rural.
ZH – Por que Jango foi deposto?
Moniz Bandeira – Os EUA foram os responsáveis pelo golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, em 1964. Sem o seu suporte, os setores militares, contrários ao governo, não ousariam insurgir-se.
ZH – Jango teve responsabilidade no golpe de 1964?
Moniz Bandeira – Se teve alguma culpa, foi porque defendeu interesses nacionais e aprofundou socialmente a democracia no Brasil. Goulart não resistiu porque não tinha condições militares para fazê-lo, e fora bem informado de que os EUA planejavam invadir o Brasil e que sua esquadra vinha para o Atlântico. Havia dentro do Brasil quase cinco mil Green Berets, soldados do corpo de contrainsurgência, sob o disfarce de Peace Corp (Corpo da Paz, grupo americano de voluntários que auxiliaria países em desenvolvimento).
ZH – Jango tinha intenção de criar uma ditadura de esquerda?
Moniz Bandeira – Goulart nunca teve a intenção de instalar qualquer ditadura de esquerda. Nem havia condições para isso. E Washington, por meio do embaixador Lincoln Gordon, bem o sabia. Goulart não era intempestivo, como Brizola. Era prudente, ouvia as opiniões, e antes de tomar qualquer decisão sopesava os efeitos que provocaria.
ZH – Qual a sua opinião sobre a exumação do ex-presidente?
Moniz Bandeira – É importante, para tirar qualquer dúvida.
ZH – E o senhor acredita que Jango tenha sido envenenado?
Moniz Bandeira – Não creio na hipótese de envenenamento. Na oitava edição de meu livro O Governo João Goulart, mostro que não se pode levar a sério a versão do delinquente Mario Barreiro Neira, segundo a qual Goulart foi assassinado com a troca de medicamento. É pura ficção. A Operação Escorpião nunca existiu.
ZH – É mais provável a morte por problemas no coração?
Moniz Bandeira – Todos sabem que Goulart era cardíaco, e um infarto fulminante pode ocorrer de uma hora para a outra. Tenho parentes que morreram em circunstâncias semelhantes em São Paulo: de madrugada, na cama, ao lado da esposa, com grito de dor no peito. Sou também cardíaco, tive infarto, com trombose e aneurisma, também de noite, na cama. Para minha sorte, não foi fulminante.
ZH – Passados tantos anos, História faz justiça a Jango?
Moniz Bandeira – É necessário que lhe sejam devolvidas honras devidas a um chefe de Estado que, como o grande estadista Getúlio Vargas, lutou contra a espoliação do Brasil, a espoliação do povo, e pelo aprofundamento, na medida do possível, da democracia social.
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Você esqueceu de citar o Carlos Lacerda !
O JK, Jango e Lacerda foram todos assassinados num intervalo e seis meses.
Duvido muito, mas muito mesmo, que descubram algo. A gente sabe que a direita ainda manda em segmentos importantes do estado, manipular os exames é moleza. Eles não vão deixar que nada reabra esta ferida.
Se bobear, os resultados serão iguais aos declarados na exumação de Pablo Neruda. Uma curiosidade: quem analisará os restos mortais de Janngo? Haverá também algum gringo, como no caso de Neruda?
Oi Aecio, VAMOS CONVERSAR...
Oi Aecio, VAMOS CONVERSAR...
Safado e vagabundo. Mafioso de jaleco branco...