Janio a Eduardo Campos: “qual foi o crime de seu avô?”

A pergunta cortante é do mestre Janio de Freitas, sobre a prática contumaz da hipocrisia em que vem se especializando o candidato do PSB, Eduardo Campos, que danou a dizer só o que agrada o conservadorismo.

Poderia, sem dificuldade, ter dito que essa é uma decisão que a Justiça terá de tomar, sobretudo agora que lhe são apresentados, concretamente, casos escabrosos como o da tortura, morte e ocultação do cadáver do deputado Rubens Paiva e do atentado do Riocentro.

Mas preferiu se lambuzar dizendo que é contra o reexame das responsabilidades por crimes de lesa-humanidade.

O discurso do “revanchismo” é apenas dos que o usam para ocultar, também, a verdade.

Atividade na qual Campos vem se mostrando dedicado aprendiz.

Muito à vontade

Janio de Freitas

A definição de Eduardo Campos contra qualquer mudança na Lei da Anistia, para possível punição legal de criminosos da repressão, divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira, o pré-candidato à Presidência adota o chavão dos militares acusados de tortura, assassinatos e desaparecimentos: “Acho que a Lei da Anistia foi para todos os lados. O importante agora não é ter uma visão de revanche”. Na segunda, Eduardo Campos reforça, por um dado pessoal, a sua identificação com aqueles militares: “Falo isso muito à vontade porque a minha família foi vítima do arbítrio”.

Uma das maiores vítimas imediatas do golpe em 1964 foi Miguel Arraes, então governador de Pernambuco. Retirado do palácio sob a mira de armas, Arraes foi preso e, depois dos maus-tratos esperáveis, deportado para a ilha de Fernando Noronha como prisioneiro sem condenação e sem prazo. Quando, afinal, pôde voltar ao continente e à vida civil, a iminência de nova prisão levou-o a asilar-se e daí ao exílio.

Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes. Por isso diz estar “muito à vontade” quando subscreve o pretexto da “anistia para os dois lados”. Nas duas condições, está, portanto, desafiado a indicar os crimes de que seu avô foi anistiado. Os crimes cuja anistia justifica, no que lhe cabe, a anistia do lado dos que o prenderam depois de o derrubarem do governo conquistado pelo voto e exercido com o que sempre se achou ser impecável dignidade.

No exterior, residente na Argélia e depois na França, Arraes integrou a oposição ativa à ditadura brasileira. É possível que, do ponto de vista de Eduardo Campos, oposição ao regime dos generais ditadores fosse prática criminosa, como os próprios consideraram. A identificação de Eduardo Campos com o pretexto usado pelos militares reforça tal hipótese. A ser assim, porém, sua pretensão a concorrer à Presidência de um regime democrático não poderia ser vista senão como farsa. Farsa perigosa, como sugerem as identificações que exibe.

Não menos sugestivo é que esse mesmo Eduardo Campos integra, com os seus conceitos, o Partido Socialista Brasileiro. Vê-se que aprecia essa coisa de “para todos os lados”. Mas, se não tem fatos a narrar que justifiquem a anista de Arraes como compensação para a anistia do “outro lado”, então Eduardo Campos está manchando a história de um homem honrado. Da qual e do qual até agora só tirou proveito: sem ambas, não se sabe o que seria, mas por certo não teria sido o que já foi e não seria o que é.

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • Essa é a maior trairagem do Eduardo Quem?, trair o avô para agradar a direita. Talvez seja a nova maneira de fazer política que ele aprendeu com. Marina Tartaruga sem Casco.

  • É espantoso como Eduardo Campos consegue se mostrar de forma pior do que imaginávamos. Além de traidor e oportunista, ao jogar aos leões quem sempre o apoiou politicamente,cospe agora sobre a história do próprio avô! Assume-se portanto, como bem cabe aos pretensiosos,como canalha! E Jânio de Freitas, para variar, certeiro!

  • Este 'cidadão',que só deixou pepino aqui no Estado,é um traíra cruza de
    Domingos Fernandes Calabar(nos traiu e passou-se p/os holandeses,no iní-
    cio do século XVII)e Joaquim Silvério dos Reis, mais conhecido e mais
    recente,traidor da Inconfidência Mineira,principlalmente de Tiradentes,
    no século XVIII.Seu nome:Eduardo Calabar Reis Neves,o último sobrenome
    pela semelhança com Aécio Campos,como muito bem definiu Ricardo Kotscho.

    • O cearense Miguel Arraes pernambucano de alma e coração não merece a traição do Neto.

  • Depenou o Dudu! José Saramago estava certo. Para se conhecer uma pessoa ou coisa, deve-se olhar pelos 360º. Esse Dudu! Quando perder seu uso, vai para o lixo da história.

  • E pensar que Lula preparava esse calabar para ser o candidato em 2018.

  • Traiu Lola, traiu Dilma, traiu o senadorzinho do Leblon, e agora trai seu avô.

Related Post