A coluna de Jânio de freitas, na Folha de hoje, faz uma crua radiografia da aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, muito diferente das análises mais supérfluas que se tem lido. Aliás, mais festejos de ter – duvido eu – surgido uma “grande esperança branca” para a oposição do que propriamente um diagnóstico sereno do quadro eleitoral.
Jânio vai à natureza que cada um dos dois tem demonstrado em sua trajetória política. E lhes analisa as contradições: Eduardo Campos não é um homem de esquerda; Marina Silva tem traços conservadores.
A reuni-los, o que ele resume com a sabedoria de décadas de observação da cena polìtica: “as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.”
Presente e futuro
Jânio de Freitas
Visão política é a capacidade de olhar para o momento presente e, em vez dele, ver o futuro.
Tudo indica que Marina Silva e Eduardo Campos voltaram os olhos para o futuro e viram apenas um momento do presente.
Em um só lance, os dois plantaram fartos problemas para sua adaptação mútua, em meio a igual dificuldade de seus grupos. Políticos costumam ter flexibilidade circense, mas não é o caso, por certo. Bem ao contrário.
Nem mesmo o pessoal do PSB cita o nome do partido por inteiro, há muito tempo: fazê-lo exigiria mencionar a palavra “Socialista”. O que se sabe das ideias do próprio Eduardo Campos não é muito mais do que se sabe de Marina Silva. Em relação aos dois sabe-se, porém, o suficiente para perceber a inconciliação quase completa. Não cabe mais dizer que o PSB seja partido “de esquerda”, nem se pode dizer isso de Eduardo Campos. Mas conservadores, o partido e seu presidente não são, nem podem sê-lo, por exigência da ambição eleitoral que expõem.
Marina Silva tem mais de esfinge que de política (sem alusão a certa semelhança de traços básicos). Se não há clareza de como a ex-candidata à Presidência pensa o país e seus problemas, ao menos se dispõe de uma percepção básica, na medida em que uma dedicação religiosa intensa exprime uma concepção bastante mais ampla. E ao deixar o catolicismo para tornar-se evangélica dedicada, Marina Silva integrou-se a uma corrente de notório conservadorismo. Demonstrado, inclusive, em extensão política, nas posições e atos de sua bancada no Congresso, com frequentes referências nos meios de comunicação.
Imaginar que tamanha diferença, digamos, conceitual caminhe para a conciliação, em nome de conveniências políticas imediatistas, exige esquecer o início da questão: as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.
Com este pano de fundo, veremos o que se passará diante das posições de ambos invertidas na chapa do PSB em comparação com as pesquisas. Os seguidores de Marina nem esperam por próximas pesquisas, já entregues à campanha pela cabeça da chapa. As simpatias dos dois grupos vão mostrar o que são, de fato, quando se derem as verdadeiras discussões sobre liderança, temas de campanha, respostas às cobranças do eleitorado, a batalha.
A história das eleições, mesmo a recente, já legou exemplos suficientes de que acordos, garantias, alianças e comunhões são passíveis de também desmanchar-se no ar. É só bater um ventinho mais conveniente para um dos lados. Eduardo Campos sabe disso, o que significa que o festejado entendimento com Marina representa, para ele, múltiplos riscos. Entre os quais, até o desgaste político decorrente da simples dificuldade de convivência, descoberta agora por vários (ex-)entusiastas da Rede Sustentabilidade.
Marina Silva, ao passar de uma posição de liderança para a duvidosa inserção em partido alheio e com líder-candidato definido, na melhor hipótese fez uma jogada no escuro sob a luz do dia. Ao menos terá tempo para sair pelo país explicando ao seu eleitorado o que quer dizer sustentabilidade, um nome de partido à altura da incompetência com que foi tratado por seus sustentadores.
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Jânio de Freitas observa com clareza o que ainda é "novidade" e, por isso, ainda obscuro, no que tange ao "lance de gênio" das duas partes, propalado pela mídia, desorientada pela pancada que Aécio recebeu. Acabei de ouvir entrevista com o "grande" líder do PPS, Roberto Freire, dada à CBN. É constrangedor. Para ficar num ponto, torce cândida e descaradamente para que a "crise" se aprofunde e fira de morte o governo etc. etc. Ofereceu o seu partido (!?!?!?) ao Serra, à Marina, e foi rejeitado por ambos. Vai precisar de prolongado divã, quem sabe do mesmo psicanalista responsável por cuidar do mesmo mal pelo qual padece outro rejeitado histórico, o príncipe FHC.
Excelente observação!
A imprensa na qual o Jânio trabalha vai continuar patrocinando pesquisas Datafolha e IBOPE com os nomes Aécio/Serra e Campos/Marina, ora um e ora outro como candidato à presidência. Vou assistir de camarote se ocorrer o mais provável: 1- após algum tempo, Aécio que salta naturalmente para 2º lugar, despenca de novo para 3º e o Serra sempre estará ligeiramente à sua frente. 2- Marina sempre apresenta desempenho melhor que o Campos. 3- Dilma continuará vencendo no 1º turno pela pura e simples razão que estas manobras todas não criaram novos eleitores, todos dispostos a acabar com o chavismo do PT. Diversão inigualável nos espera no porvir imediato...
Mais uma vez a direita brasileira revela seu lado antropofágico.
Ou, seja: acasalamento de sucuri com jacaré.
Na verdade os dois buscam publicidade.E conseguiram.Só que pensando em 2018, pois esse casamento de Delegacia tem tudo para dar errado em 2014.Eles sabem que não têm chances, mas se cacifarão para a próxima.Nefasto mesmo será para o PSDB, pois a dupla já se declarou de oposição e não sobrará espaço para a tucanada.
Coitada da Marina.
Ja entendi. A direita desiste da politica partidaria, e lanca o movimento cultural: Maracutalia. Com Eduardo e os novos tucanos.
Muito bom o artigo do Jânio, mas acho que ele deixou de abordar que uma das razões para a Marina entrar no PSB foi a pressão dos seus financiadores. Ou seja, ela não é tão independente assim e está se acostumando a ser enquadrada.
Também acho que o grupo econômico que a sustenta tenderá a suplantar as suas convicções de evangélica, se é que são verdadeiras as suas alegações.
Comento também que aqui no Paraná o PSB é um partido de direita, totalmente associado ao PSDB. Será muito interessante ver a Marina no palanque do Beto Richa, expoente tucano.
O POVO BRASILEIRO TEM A SINGULARIDADE DE "DO NADA" SE "ENGRAÇAR" COM UMA PESSOA, DAÍ GERAR O EFEITO "MANADA", MAIS QUEM DETÉM A "MÁQUINA" PODE COLOCAR "CERCAS" FIRMES E ACALMAR O "REBANHO", AFINAL A FIGURA DE MARINA E CAMPOS NÃO POSSUI HISTÓRICO E CONFIANÇA CAPAZ DE ARREBANHAR A MASSA E A HISTÓRIA RECENTE AINDA DÁ MUITA CREDIBILIDADE AO PT.
NA MINHA OPINIÃO O PT AINDA PERDURARÁ PELO MENOS MAIS DOIS MANDATOS PRESIDENCIAIS O PT SOUBE COMO NINGUÉM TRABALHAR AS CAUSAS SOCIAIS - EXISTEM MILHÕES QUE SÃO ETERNAMENTE GRATOS AO PT. ELES SOUBERAM MUITO BEM CANALIZAR O BOM MOMENTO DA ÚLTIMA DÉCADA - DE FORMA QUE QUALQUER CANDIDATURA HOJE CONTRA O PT JÁ NASCI MORTA.