Volta e meia, lendo o que escreve Janio de Freitas, acabo por lembrar que ainda existe jornalismo no Brasil.
Porque, no mais das vezes, a apuração jornalística é igual a inquérito policial mal-feito: depende apenas do que as pessoas dizem ou confessam.
Hoje, Janio fotografa o mar de contradições e reticências que virou a cobertura da prisão dos dois confessos disparadores do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade.
E, sinceramente, é preocupante a rapidez com que o delegado – até agora competente na prisão dos responsáveis diretos – diz que vai concluir o inquérito e entregá-lo à Justiça, amanhã.
Preocupa, também, o Ministério Público, ao menos que se saiba, não estar acompanhando o inquérito policial.
O que disse o advogado dos acusados é extremamente sério para ser ignorado.
Resume Janio:
“Os manifestantes violentos são pagos.” Quem paga? “Vão buscá-los em casa.” Quem vai? “Tem organização por trás deles.” Quem? “É preciso investigar vereadores, deputados, diretórios regionais de partidos.” Quem? Quais? “Minhas conversas indicaram, é preciso investigar vereadores, deputados, diretórios regionais, não só do Rio, de São Paulo e outros Estados também.” “Vereadores, deputados, diretórios”, “vereadores, deputados, diretórios” –sem fim. Quem e quais? “Não me disseram.”
Opa! Ou se trata de uma grosseira chicana jurídica, para semear confusão ou é algo que leva a responsabilidades muito além de dois rapazes irresponsáveis e com desvios de personalidade.
Há um monte de perguntas não respondidas e que se tem de responder com os fatos que não surgirão sem investigação.
Como apareceu o rojão assassino? Brotou do chão? Fábio o achou, não sabia o que era, deu para alguém que não sabia quem era, esse alguém o disparou?
Fábio era ou não era tatuador profissional? onde estão os clientes que pagavam por seus serviços, pelos quais sustentava o aluguel de um apartamento? Há um contrato de locação? Eram os pais que pagavam? Por que?
Porque Caio recusou-se a falar senão em juízo, um garoto que é inexperiente, estava apavorado e passou horas ao lado dos policiais que o detiveram? Como, se assumiu a culpa pelo disparo – o que o coloca diretamente como réu em crime de homicídio – em entrevista à Globo, calou-se para só falar em juízo? Obvio que foi por orientação do advogado, logo ele, um falastrão.
E, claro, toda a série de perguntas que Janio elenca, mas que podem ser respondidas por uma investigação policial eficaz.
Porque não fazê-la, se os prazos legais ainda estão no início e os dois estão presos? E a prisão temporária, que depende de indícios suficiente de autoria e de que, livre, o acusado possa interferir na apuração do fato (coagindo ou orientando testemunhas, por exemplo), seria facilmente decretada, e esta não tem prazo para caducar.
Ora, se a investigação policial precisa ir a estes pontos, por que é que a investigação jornalística não deveria fazê-lo?
Não é indo ouvir os vizinhos para saber se Fábio era “bom” ou “mau” rapaz, com certeza.
Os bobalhões da extrema esquerda, que já serviam de biombo para os interesses da direita com a simbiose com arruaceiros, vão servir de bode expiatório também na responsabilização criminal?
Os meandros e os podres desta onda de provocação precisam vir à tona, se de fato se quer exorcizar os demônios que transformaram manifestações em infernos.
E isso não se fará com inquéritos a toque de caixa e jornalismo “fulano disse, beltrano declarou”.
http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/02/suspeito-de-acender-rojao-que-matou-cinegrafista-so-fala-em-juizo
View Comments (22)
Eu não sou daqueles que xingam o ministro da justiça em cada ocorrência envolvendo segurança. Afinal a responsabilidade da segurança é dos governos estaduais e o governo federal não pode atropelar a jurisdição estadual.
Mas neste caso cabe ao ministro da justiça determinar que a Polícia Federal investigue as alegações do advogado e acompanhe as investigações sobre o crime.
A denúncia é referente à quebra de diversas leis federais e interessa a todo o País. Os acontecimentos envolvendo a tragédia no Rio podem trazer informações importantes para a compreenção de um fenômeno nacional e podem estar apontando para crimes mais graves, indo de crimes eleitorais até o terrorismo.
De onde menos se espera é de onde não vem nada mesmo.
Pegue uma cadeira enquanto aguarda uma atitude do ministério.
Esse episódio tem o mesmo espírito da bomba do Riocentro.
E como no episódio do Riocentro não vai acontecer nada . . .
Sem duvida, este caso nos mostrara claramente se, temos ou nao temos seguranca publica. Nao so pra Copa, como pro nosso dia a dia. Veremos.
Ora, assim como no caso do homicídio dos pais seguido do suicídio do menino em SP, neste caso a Policia apressa em concluir a investigação.
Ah, nao esqueçamos do helipóptero.
Sempre quando existem perguntas demais, a investigação é "demenos".
Porque a Globo tem exclusividades e informações privilegiadas sobre este episódio, e age como se fosse procuradora da Band. Certamente não é pela vida do cinegrafista Santiado? Porque atropelar as investigações, justamente num caso envolvendo uma vítima das manifestações amplamente apoiada por esta mídia e diante da declaração do advogado de que tem gente graúda por trás dos piás "pau-mandados". Esta novela tem mais atores ...E o MP tomando chá???
Interessante
Tenho notado que enquanto a globo se estende por horas em noticiário sobre o caso a Band se resume a curtas matérias. Estranho não?! Muito suspeito
Outro dia, no Nassif tinha uma análise semiótica de uma propaganda da Copa feito pela agência de Nizan Guanaes. Sob o título de "De volta para casa", a imagem traz um suposto jogador de volta para os campos brasileiros. Até aí, nada de mais. O que dá um clima tenebroso é a imagem desse jogador que parece um black bloc. Talvez o autor tenha querido dar uma idéia de conciliação, mas no inconsciente fica uma suspeita. Em anúncio, a dubiedade raramente funciona.
A mídia e a Constituição
Um dos artigos não regulamentados da Constituição de 1988, o 221, reza:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Será que praticando o jornalismo do vale de lágrimas, excluindo a pauta positiva e defendendo os “justiceiros” vingadores, a grande mídia brasileira está cumprindo a Constituição de 1988?
A quem cabe a fiscalização dos contratos de concessão desse serviço público?
Com a palavra o Ministério Público e o Ministério das Comunicações.
Prezados, os mascarados tentaram dar um golpe de estado ontem, na Venezuela. Obviamente, os mascarados agiram junto com toda a direita.
http://www.telesurtv.net/articulos/2014/02/13/quienes-estan-detras-de-los-planes-de-golpe-de-estado-en-venezuela-1461.html
https://pbs.twimg.com/media/BgT5nUPCcAAp1oR.jpg
https://pbs.twimg.com/media/BgTzhoCCEAAxmID.jpg
Não estamos precisando de lei anti-terrorismo, estamos precisando de uma LEI DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO aos moldes da lei argentina. Aí, teremos condições de discutir amplamente com a sociedade o problema da segurança tanto dos cidadãos quanto das intituições. Só isso
A pergunta que não quer calar: CADÊ O AMARILDO CABRAL?????? Nada melhor que uma morte para apagar outra morte, sai de cena a polícia treinada para matar e entra no cardápio os aprendizes de arruaças que procuram os holofotes com rostos cobertos e cantam o hino da GLOBOSTA.