Janio de Freitas e o clima de Baile da Ilha Fiscal

A comparação talvez só seja injusta a Pedro II, homem que seria reconhecido como amante das ciências, das artes e do desenvolvimento do Brasil, já então em ocaso. Mas o artigo de Janio de Freitas, hoje, na Folha, não tem maneira de não evocar, no século 21, um clima da Baile da Ilha Fiscal, a faustosa festa do Império que logo ruiria.

Em meio a uma crise institucional que deixa um Governo desmoralizado nas mãos  de um Congresso desmoralizado e de um Judiciário que, a cada dia, avança celeremente por este caminho, enquanto , nas palavras de Janio, a orquestra toca o fim de uma crise econômica na qual nem os próprios músicos acreditam.

E segue o baile…

Temer e seu governo se
destroem para destruir o país

Janio de Freitas, na Folha

Apesar de disfarçadas por maquiagens verbais, as derrotas sofridas pelo governo Temer na última semana compõem um acúmulo raro. Quatro. Em contraste com as ínfimas e festejadas “melhoras do desemprego e do PIB”, ambas de apenas 0,2% e expostas como atualidade, mas ocorridas lá atrás, no trimestre concluído em junho. O contraste, porém, é ainda maior: com essas derrotas, a propensão da crise é agravar-se. E ampliar as exasperações já generalizadas.

Otimista por erro ou por esperteza política, o governo fixara em R$ 139 bilhões o rombo nas contas deste ano. Precisou corrigi-lo, com aprovação do Congresso, para R$ 159 bilhões. O prazo para correção expirou com a chegada de setembro, e os congressistas não deram quorum para aprová-la. “Sem problema. Emenda-se mais tarde”, dizem uns, publicam outros.

Mas no comércio brasiliense não há mais fiado. Ainda que a correção não leve a uma grande batalha, é um trunfo para a voracidade parlamentar. Terá custos para Temer. E, pior, engrossa desde logo o bolo venenoso que se forma. Paralelo à emenda do rombo, por exemplo, o decreto que deu à mineração sete áreas de proteção ambiental e duas de reserva indígena, com quase 50 mil quilômetros quadrados de Amazônia, sujeita Temer e o governo a uma capitulação. Vencido pelas reações internas e internacionais, o decreto está suspenso “para debate” por quatro meses. Se sobreviver. E sem solução perceptível para o suspeito propósito do governo. Duro problema com a opinião pública.

Sem envolvimento de corrupção faltaria autenticidade ao pacote de dificuldades vindouras para Temer. Por isso, o agravamento da crise dispõe da prometida denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot, no mínimo por obstrução da Justiça e corrupção. Temer e sua defesa deram essas acusações como de comprovação inviável. A própria denúncia pareceu esvaziada pelo segredo de Justiça aplicado à delação de Lúcio Funaro, da qual Janot retiraria elementos de acusação fundamentais. A meio da semana, saiu da Procuradoria Geral a informação de que a denúncia virá.

Como complemento, o único trecho a vazar da delação de Funaro fulminou a expectativa de Temer. Ao que revelou o repórter Jailton de Carvalho (“O Globo”), está confirmado pelo delator o suborno que Joesley Batista disse lhe pagar por seu silêncio. Trata-se daquela informação que recebeu, na alta noite palaciana, a recomendação de Temer: “Tem que manter isso, viu?”, e depois negou referir-se a pagamento de suborno. A confirmação de Funaro é desastrosa para a explicação de Temer, que não teria apoiado mais do que uma ajuda familiar.

A correção do rombo depende do Congresso. O decreto contra a preservação amazônica e os índios depende do Congresso (a versão vigente é irregular, à falta da aprovação parlamentar). A denúncia da Procuradoria Geral da República, se aceita pelo Supremo Tribunal Federal, dependerá do Congresso, onde a Câmara decidirá aceitá-la ou a recusar.

A tal base construída por Temer na Câmara dividiu-se sobre a primeira denúncia feita por Rodrigo Janot e admitida pelo Supremo. Temer só se livrou ao preço de quase R$ 2 bilhões em liberação de emendas para parlamentares, conforme levantamento do deputado Alessandro Molon. Não é negócio que se repita sem risco de reações fora do Congresso, onde o arrocho dramatiza a vida. Sem esquecer as outras decisões em que a posição de Temer depende de Câmara e Senado.

Há uma orquestra, no entanto, a soar pelo país afora o fim da recessão e a retomada do crescimento, com perspectivas promissoras já para este ano, e ainda mais para o próximo. Se não houvesse também objetivos políticos por trás desse engodo, poderia ser uma tentativa de induzir iniciativas otimistas. Ainda assim, não seria a maneira indicada para fazê-lo. Nem resultante. Mesmo neste governo foi tentada por Henrique Meirelles e acompanhantes, com o resultado exibido no atual aumento de R$ 20 bilhões do rombo previsto para este ano.

Temer e seu governo se destroem para destruir o país. E não há engodo ou otimismo que encubra esse drama.

Fernando Brito:

View Comments (16)

  • "Tem que manter isso, viu?" ... A Caravana do Lula passa e empurra os escombros dos golpistas para a dança final dos vampiros. rsrsrs

  • Olha, eu estou vendo o aumento do déficit fiscal toda hora sendo anunciado pela equipe econômica do governo Temer e lendo que agora Temer está sem munição (cash) para apaziguar sua base aliada, com o objetivo de livrá-lo de uma nova denúncia do sr. Janot. E fico aqui a pensar que nada vai impedir o sr. Temer de botar as suas mãos imundas no dinheiro dos Fundos de Pensão, porque é lá que está a grana que ele precisa para tapar o rombo que ele está deixando nas contas públicas e para mais uma vez "comprar" a consciências dos nossos "digníssimos" deputados, livrando-se de uma nova e incomoda denúncia do PGR Janot, tal qual fez o sr. Richa no governo do Paraná , o que provocou aquele sangrento e fatídico 29 de abril de 2015. Portanto, olho vivo e bem aberto para as próximas movimentações desse crápula Temer sobre os fundos de pensão, gente!

  • Quando surgiram as primeiras denúncias e matérias sobre o "prejuízo que Dilma causara ao país com a compra de Pasadena" (agora inocentada pelo TCU), alguém fez a conta - talvez incentivado pelos brados de Alexandre Garcia de que éramos, nós que elegemos Dilma, cúmplices do prejuízo - e concluiu que cada um de nós devia ao país pouco mais de quinhentos reais. Para ficar livre de tanta chatice no meu facebook, pedi que me enviassem o boleto. E que enviassem logo dez, pois pagaria por mais nove eleitores de Dilma que não teriam como pagar, porque o dinheiro era justo pra comer e comprar remédio.

    Quem pagará o prejuízo causado por Temer? Prejuízo financeiro, prejuízo moral, prejuízo de valores, prejuízo de solidariedade, prejuízo da dignidade, prejuízo do respeito? Sei de quem cobrar. A lista é grande. Esperando pra que se ofereçam para receber a fatura.

    • Boa pergunta Adriana. E tem aqueles que ainda se deleitam em falar mal da Dilma, esquecendo o contexto e o sistema. Se apegam à crítica miúda e vil. Que país é esse ?

    • A quantidade de memes e vídeos contra o PT não pode ser espontânea. A produção desse tipo de coisa é muito grande e certamente tem gente sendo paga para isso.

  • MAIS UM MEGAESCÂNDALO ENVOLVENDO OS NAZIGOLPISTAS!

    Da Série advogado "[Rodrigo] Tac(l)a Dura(n) no CUnha do 'mor(T)o'"!

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    TACLA DURÁN PAGOU ESPOSA DE MORO, DIZ NASSIF

    O jornalista Luis Nassif denuncia a conexão entre o advogado Rogério Tacla Durán e a advogada Rosângela Moro, esposa do juiz Sergio Moro; segundo ele, Durán, que hoje denuncia abusos na Lava Jato, fez pagamentos à esposa do magistrado paranaense

    3 DE SETEMBRO DE 2017 ÀS 05:58

    (...)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://jornalggn.com.br/noticia/advogado-espanhol-fez-pagamentos-a-rosangela-moro#.WatTylGrSH0.facebook

    • Messias, moro em Maringa. A imprensa bandida daqui, abafou o caso dos desvios. Pouca gente tomou conhecimento.

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