Janio: quando o STF é uma tartaruga

Jânio de Freitas, na Folha de hoje, com a firme delicadeza que marca seu texto, descreve a diferença de velocidade com que os casos envolvendo parlamentares são julgados no Supremo Tribunal Federal.

E, claro, como isso implica em dois pesos e duas medidas para a aplicação da Justiça.

Aquela história de “fazer o bem sem olhar a quem” parece ter ganho uma versão jurisprudencial: “fazer o mal, mas olhando a qual”.

Leia Jânio:

Velinhas

Janio de Freitas

Passou na semana passada sem celebração alguma, apesar de tão merecida, o aniversário de dez anos de permanência do mensalão do PSDB no Supremo Tribunal Federal. Distribuído ao hoje ex-ministro Ayres Britto, é o processo que ficou com o STF quando o tribunal decidiu desmembrar a ação penal, e entregou outra parte à Justiça comum de Minas. Desmembramento negado ao mensalão do PT, em prejuízo de vários dos réus, ao retê-los em uma só instância de julgamento.

Com a aposentadoria de Ayres Britto, o processo aguardou por sete meses a indicação do substituto por Dilma Rousseff. O novo ministro Luís Roberto Barroso recebeu-o e pretende vê-lo em julgamento no ano que vem. Será um feito, embora sem maior efeito. Já dois réus do mensalão do PSDB estão liberados pela idade.

O tempo tem ainda outros modos de colaborar com a Justiça à brasileira. Há três anos e três meses, o então deputado José Tatico, do PTB goiano, proporcionou um momento histórico ao Supremo: foi tido como o primeiro congressista ali condenado. Por apropriação de dinheiro destinado à Previdência Social. Como até agora esperasse o exame de um recurso pelo Supremo, também na semana passada foi beneficiado com a prescrição de sua pena, que a declarou sem sequer chegar ao exame do recurso.

Mas os parlamentares continuam por lá. Se bem que o relator Luiz Fux pediu o arquivamento da ação contra o deputado Arthur Lima, alagoano do PP. Perdeu, porém. O congressista foi acusado -é verdade que depois também desacusado- de haver derrubado a ex-mulher, aplicado-lhe alguns pontapés e até lhe puxado os cabelos. Entre a entrada do processo no STF em 2011 e o parecer da Procuradoria Geral da República, representada pelo mesmo Roberto Gurgel do processo do mensalão, foram necessários 11 meses. E depois passados mais um ano e nove meses, na semana passada o Supremo decidiu pela ação penal contra o deputado. A agressão já tem sete anos de espera.

Fernando Brito:

View Comments (6)

  • A verdadeira comemoração será daqui a alguns poucos meses, quando a ação (ou o crime) prescrever. Aí vai ser uma festa de arromba! E diversos ministros, ex-ministros e procuradores serão convidados e agrciados com a comenda da Tataruga Lerda.

  • Fernando. Bom dia. Feliz com a volta do blog, mas estou sentindo falta de 2 coisas: o ícone para mandar e-mail e a possibilidade de responder aos comentários. Conheço muita gente que não tem face book, a quem eu gostaria de enviar os sempre ótimos textos. Se for uma incapacidade de minha parte, por favor, dá uma aulinha de como fazer. Obrigada

    • estamos arrumando as coisas, devagar. Você tem toda a razão nas suas observações.

  • Além dessas denúncias, não haveria uma forma mais ágil de se pressionar a justiça a tomar providências e modificar o seu modo de agir? Nos movimentos de junho não vi nenhum grupo fazer críticas e exigir mudanças na justiça brasileira. Angustia-me muito essa nossa passividade diante de fatos graves que acontecem no país?

  • ...e nós de braços cruzados esperando a bomba explodir no nosso colo.
    Fernando, faço minhas as palavras de Maria Thereza e ao mesmo tempo aceito suas explicações.

Related Post