Janot dá uma aula de democracia a Gilmar Mendes

 

A Folha revelou ontem   o texto do parecer da Procuradoria Geral da República em resposta a um dos “pedidos de investigação” feitos pelo Ministro Gilmar Mendes, na sua faina de encontrar, nas contas da campanha de Dilma Rousseff, alguma situação que alimente sua pretensão de anular o resultado das eleições.

 

Além das considerações sobre os fatos apontados por Mendes ( que, diz ele,  ” não apresentam consistência suficiente para autorizar, com justa causa, a adoção das sempre gravosas providências investigativas criminais”), Rodrigo Janot, com as honras de estilo, dá uma lição de respeito ao processo eleitoral que deve ter deixado o tucano de toga a bufar.

 

Os trechos do parecer pelo arquivamento do pedido de Gilmar Mendes reproduzidos na Folha não perdem a força pelo uso das luvas de pelica da linguagem jurídica:

” (outro) fundamento para o arquivamento ora promovido: a inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas —exagerados— do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”

“Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, afirmou.

“A questão de fundo é que a pacificação social e estabilização das relações jurídicas é um das funções mais importantes de todo o Poder Judiciário, assumindo contornos de maior expressão na Justiça Eleitoral, que lida com a escolha de representantes para mandatos temporários”

 

Em resumo, Janot ensina a Gilmar Mendes que não há um “terceiro turno” judicial das eleições, onde, em lugar de mais de cem milhões de brasileiros, alguns altos magistrados julgam quem deve ou não ocupar a Presidência.

 

Quem acompanha a trajetória de Gilmar Mendes tem certeza que que, na primeira oportunidade, o “sereníssimo” magistrado terá outra reação “daquelas”.

 

Daquelas que vão nos deixar perplexos entra os significados de “coisa julgada” e de “coisa julgando”.

Fernando Brito:

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    • Para entender os agentes jurídicos é preciso saber o que orienta suas práticas. Eu arrisco dizer que eles se orientam, prioritariamente, pela capitalização de sua própria função. Isso não significa dizer que interesses pessoais, partidários, etc., também não sejam considerados. No caso GM, Janot está demonstrado que PGR é tão poderoso quanto ministro do STF (disputa interna ao campo). No caso Anastasia, Janot está acenando para o PSDB.
      Para mim, todo esse escarcéu sobre o universo jurídico no Brasil está servindo apenas para fortalecer exatamente o universo jurídico e enfraquecer a esfera política. E ganham todos: advogados, juízes, promotores, juristas. Quem sào os grandes analistas convocados a opinarem? Juristas, juízes. Quem está se arvorando a propor leis? Procuradores e juízes. Quem ganha os melhores salários? MP e Judiciário. Quem está navegando na onda? AGU e delegados da PF, que com suas PECs almejam sua fatia do bolo jurídico. Quem decide? STF. Ou seja, o buraco é muito maior do que Janot.

  • Arthemisia; concordo contigo. A justiciaria está deitando e rolando na própria lama dourada. Nunca tivermos justiça nesse país. Sempre foi um órgão guiado pelo $ da corrupção. A justiciaria, o maior balcão de negócios desse país(juntamente com a imprensa) sempre foi o órgão mais corrupto, mais facilmente corrompido desse país. Só há uma linguagem, uma lei por ali: $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

  • se o pt tivesse algum senador com coragem bastante, já era tempo de se pedir o "impítim" desse senhor. nossa, ele faz e acontece e ninguém (a quem de direito) diz nada.

  • E bom esse tipo de atitude do procurador masinfelizmente nao adianta ele vai tentar de novo.

  • gilmar mendes e paulinho da força, são os chorumes humanos das entidades que participam. O STF e o sindicalismo não merecem esses vermes. É a minha opinião.

  • Acho que esta entubada dupla em gilmar e aécim tem o objetivo de nos distrair do principal: a Lista de Furnas onde o "machão do leblão" está metido até o pescoço.

  • O Gilmar etá na no mensalão do PSDB segundo a revista carta capital. Talvez seja por isso que o PSDB não seja condenado.

  • http://br29.com.br/uma-vergonha-aproximadamente-40-dos-senadores-tem-pendencias-criminais/
    Uma vergonha! Aproximadamente 40% dos senadores tem pendências criminais
    Quase 40% dos senadores estão sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos 81 integrantes do Senado, pelo menos 30 respondem a inquéritos ou ações penais na mais alta corte do país. As suspeitas vão de crimes de corrupção, contra a Lei de Licitações e eleitorais até delitos de menor gravidade, como os chamados crimes de opinião. Entre os investigados, 12 são alvos da Operação Lava Jato, como o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL), único senador denunciado até agora pela Procuradoria-Geral da República
    Dos mais de 500 parlamentares investigados pelo Supremo desde 1988, só 16 foram condenados pelos ministros. Desses, metade escapou da punição ou tenta revertê-la. Quase 25% dos casos envolvendo parlamentares arquivados pelo tribunal nos últimos anos foi para o arquivo por prescrição

    (Os dados são de levantamento exclusivo da nova edição da Revista Congresso em Foco)

    Desde agosto de 2013, o senador Ivo Cassol (PP-RO) vive com um pé no Senado e outro no Supremo. Primeiro e único senador condenado à prisão pela mais alta corte do país, Cassol se agarra a recursos para não ter o mesmo destino que seu colega de estado, o ex-deputado Natan Donadon (RO), que saiu da Câmara diretamente para o Complexo Penitenciário da Papuda. O ex- -governador foi condenado a quatro anos e oito meses de prisão, em regime semiaberto, e ao pagamento de multa de R$ 201 mil, acusado de ter direcionado licitações a empresas de conhecidos entre 1998 e 2002, quando era prefeito de Rolim de Moura (RO). Em setembro de 2014, o Supremo rejeitou as contestações de Cassol.

    No fim do ano, a Procuradoria-Geral da República voltou a se manifestar contra o recurso apresentado pela defesa. A eventual confirmação da sentença implica o início do cumprimento da pena e a abertura do processo de cassação do mandato. Essa, porém, não é a única dor de cabeça dele na Justiça. Cassol é o senador com mais pendências no Supremo. Seu nome figura em dez investigações.

    Além da condenação, enfrenta duas ações penais, por calúnia e crime eleitoral, e outros oito inquéritos por peculato, improbidade administrativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, crimes contra o meio ambiente, contra o sistema financeiro e contra a Lei de Licitações. “Responderei apenas na Justiça o que devo a ela”, disse o ex-governador ao ser procurado pela reportagem.

    Em princípio, ser investigado não indica qualquer problema. Afinal, em um regime democrático, todo cidadão é considerado inocente até que se prove o contrário. No STF, para realizar o julgamento de culpado ou inocente, aquele que é considerado suspeito passa por dois procedimentos. Primeiramente, o inquérito, etapa pré-processual para averiguar reais indícios da prática criminosa. Caso encontre elementos consistentes de que o investigado praticou o crime, a Procuradoria-Geral da República apresenta uma denúncia. Se o Supremo a aceitar, o parlamentar passa à condição de réu em ação penal. É nesta fase que ocorrem os julgamentos.

    Desde janeiro de 2013, há um parecer da Procuradoria-Geral da República oferecendo denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. Dois anos e meio depois, o pedido não foi analisado. Renan é acusado de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso no Inquérito 2593, que apura crimes atribuídos a ele em 2007, quando teve de renunciar à presidência do Senado em meio a uma série de acusações. Atualmente, ele é investigado em outros três inquéritos da Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.

    A PGR sustenta que o senador enriqueceu ilicitamente, forjou documentos para comprovar que tinha recursos para bancar despesas pessoais e teve evolução patrimonial incompatível com o cargo. Os fatos se referem à denúncia feita por Mônica Veloso, com quem tem uma filha, de usar dinheiro repassado por lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão e aluguel da ex-amante. Pela mesma denúncia, Renan virou réu por improbidade administrativa na 14ª Vara da Justiça Federal de Brasília, em junho.

  • Nossa foi uma lição de funções do judiciário ... pra quem deveria saber e prezá-las

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