Juca Kfouri: negócios da TV no futebol podem ser piores que os de empreiteiras

Juca Kfouri, que se restabelece de um problema sério de saúde justamente em meio ao caldeirão que se tornou o futebol – mundial e brasileiro – nestes dias, publica hoje um texto de “memórias”  sobre os personagens brasileiros deste “Fifalão”.

Lembranças que terminam com uma frase demolidora: ” o mundo das transmissões esportivas pode ser mais sujo e pesado que o das empreiteiras”

É impossível separar os muitos milhões que elas custam dos muito mais milhões que geram e dos vários milhões que, para consegui-las, se distribuem das gavetas para gavetas.

Por mais que seja cultivada entre nós – sobretudo os que amam o jornalismo esportivo, onde comecei, como estagiário, minha vida profissional –  a esperança de que tudo se modifique, sabemos que o dinheiro é um Moloch e pode estar em curso – qualquer semelhança é mera coincidência, apenas uma mudança donos mundiais  do futebol.

Preciosas, mesmo, são as gavetas da memória de Juca, das quais saem histórias do passado que ajudam a entender o presente. E a temer, sem que isso faça senão encorajar a luta destemida, pelo futuro.

Jogar o jogo

Juca Kfouri, na Folha

Já contei as três histórias aqui, separadamente.

José Maria Marin, então presidente da FPF, em 1985, depois de ter sido governador biônico de São Paulo, me garantiu, num voo para Assunção, que era impossível sair pobre do Palácio dos Bandeirantes.

Íamos ambos a um jogo da seleção brasileira contra a paraguaia pelas eliminatórias da Copa de 1986.

Dizia ele que independentemente da vontade do político, tudo que se fazia no Estado separava 10% ao governador e não seria ele a mudar tal estado de coisas.

Nunca antes eu estivera com Marin.

Dez anos depois, recebi a visita de J.Hawilla em meu escritório, pois eu acabara de iniciar minha carreira solo depois de 25 anos de Editora Abril. Roberto Civita me pedira para parar de criticar Ricardo Teixeira, porque eu inviabilizava que a TVA fizesse contratos com a CBF.

Hawilla dizia não aguentar mais ter de acordar antes dos filhos para pegar aFolha, e esconder deles, caso tivesse alguma coluna minha contando seus malfeitos.

Jurou que não era sócio de Ricardo Teixeira e garantiu que adoraria viver num mundo em que não fosse necessário comprar cartolas, mas que ele jogava o jogo.

Tínhamos até pouco tempo antes deste encontro uma boa relação. E ele me propôs ser sócio da Traffic.

Finalmente, em 1992, eu havia sido convidado para almoçar com o engenheiro Norberto Odebrecht.

Então, além da “Placar”, eu dirigia a “Playboy”, que fizera reveladora reportagem sobre as empreiteiras brasileiras, de autoria do repórter Fernando Valeika de Barros.

Era demolidora. Como ilustração, um muro de ouro, lama e sangue.

O fundador de uma das maiores construtoras do país foi direto ao ponto, após elogiar a exatidão do que havia lido: “Você acha que eu gosto de ter de pagar para bandido liberar o que os governos me devem?”

Antes de responder, me lembrei da conversa com Marin.

Ao responder, com a arrogância que caracteriza a nós, jornalistas, primeiramente agradeci o elogio feito à reportagem. E em vez de responder, fiz nova pergunta: “Mas por que alguém tão poderoso como o senhor não denuncia os bandidos?”.

“Porque eles acabam comigo e com milhares de empregos que mantenho no Brasil e no exterior.”

Não me restou outra saída que não a de dizer que por essas e por outras é que sou jornalista, não empreendedor.

Diga-se, a bem da verdade, que em nenhum momento da realização da matéria houve qualquer pressão por parte da Odebrecht, diferentemente do que fez a CBF para negociar direitos de TV com a Abril.

Tudo isso para contar que o mundo das transmissões esportivas pode ser mais sujo e pesado que o das empreiteiras.

Além de ter um charme, um glamour, ainda maior, uma gente esperta que, de repente, vai a Suíça e fica. Presa.

E também para insistir que ou se criam novos métodos de governança ou tudo seguirá na mesma porque o Homem, como se sabe, é um projeto que não deu certo.

Só nisso, Juca, faço-te um “meio reparo”. Ainda não deu certo, mas há de dar.

Fernando Brito:

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  • O doido do jornalista esportivo Jorge Kajuru - agora metido na política - disse que o mundo política era menos suja que o mundo do esporte.
    O Sr. Odebretch, claro, ganha muito dinheiro em fazer parte do "jogo". Quem o obriga a jogar o "jogo". Fazem assim um conluio maquiavélico - em forma de cartel de obras e concessões privadas, dirigindo o resultado de licitações - para se locupletarem juntos. É a ética dos empreendedores. Todos ganham e o povo perde.
    Hilário. Diz que isso salva os empregos. Ora, se ele não fizer o trabalho, alguém o fará, pois o dinheiro para contratar obras e as financiar existe, ou não? Hipócritas e covardes.
    O "jogo" acaba no financiamento privado de campanhas. Amarra os canalhas privados aos políticos canalhas.
    Boa parte da sujeira financia a política partidária, e outra vai para paraísos fiscais, pro bolsos dos que participam do "jogo".
    Assim, ser grande empreendedor passa por ser um grande canalha, por participar desse "jogo".
    Deveriam, assim, ao contratar com o Estado - ninguém é obrigado a isso -, os canalhas abrirem mão de todo o sigilo privado - contas, comunicações, etc. -,bem como os grande canalhas agentes públicos o devem fazer.

  • Acho que não se pode comparar os dois mundos. Do das empreiteiras saem obras, do dos negócios da TV no futebol sai o que?

  • Por isso é que precisamos ter grandes jornais, grandes revistas de esquerda. Lembro-me das eleições de 2006, quando a Veja massacrava o PT; a Carta Capital dava o troco. Sem equilíbrio, é impossível derrotar o pig. Taí, os órgãos que vivem de denúncias de jornais e revistas para abrir inquéritos contra o PT e seus membros.

  • Sr. Frenando Brito, Com a vossa permissão sugiro aos coxinhas o panelaço da GloboLÃO. Às quartas-feiras e aos domingos, nos horários dos jogos da GloboLÃO, os fascistas que apoiam o PiG, desliguem seus aparelhos televisivos e comecem a bater panelas contra as falcatruas nos contratos da CBF e a rede GLOBOLÃO!!
    O Senador Romário é obrigado a investigar os contratos da GLOBOLÃO, a menos que queira ficar desmoralizado perante o povo brasileiro.

  • Com um Congresso que quer recuperar projetos que a sociedade já jogou no lixo porque representam atraso; com um judiciário que pratica a delação premiada da forma que se está vendo e vaza informações que interessam aos seus partidários sem nenhum constrangimento; com uma mídia oligopolista decidida a derrubar o governo para atender interesses de uma elite que, sabidamente, são contrários ao país e à maioria do seu povo, realmente, o projeto de Homem ainda tem que dar certo para termos algum futuro digno.

  • Minha idade: 52 anos. Gostaria de ser otimista, mas além de admirador de Juca Kfouri, concordo com ele. dizendo de outra maneira, concordo com Kfouri e sou admirador dele. Há família que deveriam estar no lugar dessas que ascendem na política partidária no Brasil. A biblioteca da PUCSP/Perdizes tem o nome de uma Kfouri com P maiúsculo de personalidade. Juca fala rindo porque tem bom humor e não se desespera com tragédias e dramas da realidade: boa escola familiar e universitária em bons tempos (que não são mais os mesmos) na FFLCH. Juca se acompanha com Trajano que tem a coragem e amor de não mudar de time há décadas, mesmo que o América esteja na última colocação da série z.

  • O que é necessário é uma mutação filosófica no ser humano, já dizia o saudoso professor Milton Santos

    Uma cultura que valorize mais outras coisas que o dinheiro, já disse e exemplifica o Mujica. E o Papa.

    E isso demora séculos.

  • Nas entrelinhas:
    O interessante é que Ronaldo Fofômeno entrou com um discurso para que o atual presidente da CBF entregue o cargo, na intenção de se esconder do que fez. Provavelmente, com ajuda da Globo, irá se candidatar, com a bênção também do Romário, e assim ninguém será investigado. Nem ele nem os Marinhos. Evidentemente irão direcionar as investigações para a copa no Brasil e o governo do PT. A Globo já está preparando o golpe.

  • Juca: Não é o homem que não deu certo. Na minha opinião é o sistema que vai corrompendo. Se fosse o homem não haveria problema, pois todos estariam em acordo, seria o normal e não escândalo ou crime. Mas, existem milhares que não concordam. Se fosse o homem não haveria razão de se lutar por outra sociedade. Outra mundo, com outra moral, é possível.

  • Ouvi de um amigo (socialista), há 25 anos: "Se Che Guevara vivesse no Brasil, aderia ao sistema!".

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